A casa tinha cor vermelha E quando o sol batia nas telhas Nasciam flores douradas Era perto do luar Quem morava nela Gostava de amar Era próxima ao céu Em todas as janelas fuxico e véu Era perto de nós A voz do vento da casa Encantava a poesia Noite e dia Os corações que a habitavam Se inspiravam de emoção e bem querer. .
Lindas, vermelhas ou rosadas, carnudas, suculentas e deliciosas …
Claro!! São cerejas transmontanas, de Águas Frias (Chaves) - Portugal
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CEREJAS
. Segundo o amigo sr. Alberto A época das cerejas se aproxima. Se a colheita já está tão perto, Por que não dedicar um poema A esse fruto de beleza suprema? . As cerejas são originadas A partir de uma planta asiática De folhas de tonalidades rosadas. Algumas não produzem frutos, Mas geram madeira de qualidade; Ambos, nobres produtos. . Mas falemos da figura principal: Cerejas são frutos delicados, De formato arredondado, Nem sempre rubros, Com um sabor especial. . Cerejas para o bolo enfeitar, Cerejas para o licor adoçar. Pois além de muito belas, Cerejas são deliciosas. Ninguém resiste a elas, Oh frutinhas saborosas! . As cerejas de tão formosas Invadiram o mundo da moda: São blusas, sapatos e bolsas Entre tantas outras coisas, Exibindo o fruto com estilo. . Ah cerejas, ah cerejas... Tens a cor do batom Da menina que beija, A cor da paixão, Que a alma deseja. . Ah cerejas, ah cerejas... Tomastes o meu coração! Não mais tristezas, Apenas cerejas existirão. Ah cerejas, tomastes o meu coração … .
As folhas pousam, se o vento é brando tapeteando os caminhos. O sol é intruso, se espreita pela manhã... e o chão não queima à meia tarde. O dia e a noite começam cedo e a chuva cai, arrefecendo sem gelar. Vão-se os pássaros ficam os ninhos franqueados ao silêncio.
No outono... se de brio se quer estação o ar arrefece e ao pó não se deve o cinzento dos dias. No outono quando o vento chega varre o chão, penteia a floresta e obriga o inverno a esperar permitindo aos rios descer ainda sem sobressaltos.
Um horizonte, — a saudade Do que não há de voltar; Outro horizonte, — a esperança Dos tempos que hão de chegar; No presente, — sempre escuro,— Vive a alma ambiciosa Na ilusão voluptuosa Do passado e do futuro.
... o gatito que "fugiu" para o campo para evitar o contacto social com outros gatos ...
Os doces brincos da infância Sob as asas maternais, O vôo das andorinhas, A onda viva e os rosais; O gozo do amor, sonhado Num olhar profundo e ardente, Tal é na hora presente O horizonte do passado.
... casa na Aldeia (Lampaça) ...
Ou ambição de grandeza Que no espírito calou, Desejo de amor sincero Que o coração não gozou; Ou um viver calmo e puro À alma convalescente, Tal é na hora presente O horizonte do futuro.
... ave colorida (Pisco de peito ruivo - "Erithacus rubecula") de belo canto, alegrando o "silêncio" dos campos ...
No breve correr dos dias Sob o azul do céu, — tais são Limites no mar da vida: Saudade ou aspiração; Ao nosso espírito ardente, Na avidez do bem sonhado, Nunca o presente é passado, Nunca o futuro é presente.
... a igreja matriz, mesmo em situação de "quarentena" ladeada de árvores "vestidas" de flores brancas ...
Que cismas, homem? – Perdido No mar das recordações, Escuto um eco sentido Das passadas ilusões. Que buscas, homem? – Procuro, Através da imensidade, Ler a doce realidade Das ilusões do futuro.
... galinhas caseiras Vivem alegremente (afinal não é a "gripe aviária") ...
Amar não é só a Natureza e Pessoas, mas passa por todas as coisas boas da Vida, exercitando todos os nossos sentidos: visão; audição; olfato e também o sabor ....
... imagem de rara beleza, mas ainda melhor será a sua degustação.
Este fumeiro não é industrial,
mas sim fruto, de mãos hábeis e fiéis à ancestral tradição ...
"Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva Não faz ruído senão com sossego. Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva Do que não sabe, o sentimento é cego. Chove. Meu ser (quem sou) renego..".
... A cancela meio aberta ou ... meio fechada ...
Tão calma é a chuva que se solta no ar (Nem parece de nuvens) que parece Que não é chuva, mas um sussurrar Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece. Chove. Nada apetece...
... um olhar restrito, para a Aldeia ...
Não paira vento, não há céu que eu sinta. Chove longínqua e indistintamente, Como uma coisa certa que nos minta, Como um grande desejo que nos mente. Chove. Nada em mim sente...
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
... a fonte ... que já foi de muito valor para a Aldeia mas que só ficou na memória dos mais antigos, da sua importância e valor para a Aldeia de antão ..
Dias de hibernar
Inverno: frio... Chuva...
Hora de resgatar cachecol, luva
Botas, casacos... Pura elegância!
E neste quesito, já tenho vivência.
Bom seria não ter que sair.
... uma casa restaurada ... em cor vibrante ...
Um café ou chá quentes
O escalda-pé ou aspirina
O inverno nos deixa dormentes
Apegados à cama, é sina.
... o cordeiro e a Aldeia como fundo ...
Ainda que o frio lá fora
Embace o vidro e a alma
O sereno fino cai e chora
A solidão da noite calma.
... pôr do sol neste pequena, mas bela Aldeia transmontana ...
Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade, e o coração, depois, não hesite.
... vista sobre Cimo de Vila ...
Ora, o que pretendo mostrar, meu e de todos os que queiram merecê-lo, não só existe, como é dos mais belos que se possam imaginar. Começa logo porque fica no cimo de Portugal, como os ninhos ficam no cimo das árvores para que a distância os torne mais impossíveis e apetecidos.
E quem namora ninhos cá de baixo, se realmente é rapaz e não tem medo das alturas, depois de trepar e atingir a crista do sonho, contempla a própria bem-aventurança.
Vê-se primeiro um mar de pedras. Vagas e vagas sideradas, hirtas e hostis, contidas na sua força desmedida pela mão inexorável dum Deus criador e dominador.
Tudo parado e mudo. Apenas e move e se faz ouvir o coração no peito, inquieto, a anunciar o começo duma grande hora. De repente, rasga a crosta do silêncio uma voz de franqueza desembainhada:
– Para cá do Marão, mandam os que cá estão!…
... o cão atento, vigiando a entrada de casa ...
Sente-se um calafrio. A vista alarga-se de ânsia e de assombro. Que penedo falou? Que terror respeitoso se apodera de nós?
Mas de nada vale interrogar o grande oceano megalítico, porque o nume invisível ordena: – Entre!
A gente entra, e já está no Reino Maravilhoso.
... ó lua que vais tão alto, iluminando a noite desta terra do Reino Maravilhoso ...
A autoridade emana da força interior que cada qual traz do berço. Dum berço que oficialmente vai de Vila Real a Chaves, de Chaves a Bragança, de Bragança a Miranda, de Miranda a Régua.
Um mundo! Um nunca acabar de terra grossa, fragosa, bravia, que tanto se levanta a pino num ímpeto de subir ao céu, como se afunda nuns abismos de angústia, não se sabe por que telúrica contrição.
Terra-Quente e Terra-Fria. Léguas e léguas de chão raivoso, contorcido, queimado por um sol de fogo ou por um frio de neve. Serras sobrepostas a serras. Montanhas paralelas a montanhas. Nos intervalos, apertados entre os rios de água cristalina, cantantes, a matar a sede de tanta angústia.
E de quando em quando, oásis da inquietação que fez tais rugas geológicas, um vale imenso, dum húmus puro, onde a vista descansa da agressão das penedias. Mas novamente o granito protesta. Novamente nos acorda para a força medular de tudo. E são outra vez serras, até perder de vista.
... planta encarnada que rompe por entre as folhas já a entrarem em decomposição ...
Não se vê por que maneira este solo é capaz de dar pão e vinho. Mas dá. Nas margens de um rio de oiro, crucificado entre o calor do céu que de cima o bebe e a sede do leito que de baixo o seca, erguem-se os muros do milagre.
Em íngremes socalcos, varandins que nenhum palácio aveza, crescem as cepas como os manjericos às janelas. No Setembro, os homens deixam as eiras da Terra-Fria e descem, em rogas, a escadaria do lagar de xisto. Cantam, dançam e trabalham. Depois sobem.
E daí a pouco há sol engarrafado a embebedar os quatro cantos do mundo. A terra é a própria generosidade ao natural. Como num paraíso, basta estender a mão.
Bata-se a uma porta, rica ou pobre, e sempre a mesma voz confiada nos responde: – Entre quem é! Sem ninguém perguntar mais nada, sem ninguém vir à janela espreitar, escancara-se a intimidade duma família inteira. O que é preciso agora é merecer a magnificência da dádiva.
... nicho de S.ta Rita - manifestação da devoção cristã das Gentes da Aldeia ...
Nos códigos e no catecismo o pecado de orgulho é dos piores. Talvez que os códigos e o catecismo tenham razão. Resta saber se haverá coisa mais bela nesta vida do que o puro dom de se olhar um estranho como se ele fosse um irmão bem-vindo, embora o preço da desilusão seja às vezes uma facada.
Dentro ou fora do seu dólmen (maneira que eu tenho de chamar aos buracos onde vive a maioria) estes homens não têm medo senão da pequenez. Medo de ficarem aquém do estalão por onde, desde que o mundo é mundo, se mede à hora da morte o tamanho de uma criatura.
... na estreita rua D.ª Alice Chaves ...
Acossados pela necessidade e pelo amor da aventura emigram. Metem toda a quimera numa saca de retalhos, e lá vão eles. Os que ficam, cavam a vida inteira. E, quando se cansam, deitam-se no caixão com a serenidade de quem chega honradamente ao fim dum longo e trabalhoso dia.
O nome de Trasmontano, que quer dizer filho de Trás-os-Montes, pois assim se chama o Reino Maravilhoso de que vos falei.
in: "Trás-os-Montes, o Reino Maravilhoso" de Miguel Torga