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MÁRIO SILVA - Fotografia, Pintura & Escrita

*** *** A realidade é a "minha realidade" em imagens (fotografia, pintura) e escrita

06
Jun25

“Barragem de Mairos (Chaves – Portugal)” - Captação de água da ribeira das Aveleiras para regadio


Mário Silva Mário Silva

“Barragem de Mairos (Chaves – Portugal)”

Captação de água da ribeira das Aveleiras para regadio

06Jun DSC06816_ms

A fotografia de Mário Silva, intitulada “Barragem de Mairos (Chaves – Portugal)” retrata uma estrutura hidráulica essencial para a região de Trás-os-Montes: a barragem de Mairos, que capta água da ribeira das Aveleiras para irrigação.

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A imagem mostra uma paisagem rural serena, com um lago formado pela barragem em primeiro plano, refletindo a luz suave de um dia claro.

No centro da composição, uma passarela com grades brancas que se estende sobre a água, ligando a margem a uma pequena torre de captação, que emerge do reservatório.

A torre, de formato cilíndrico e telhado cónico, é um elemento funcional que regula o fluxo de água.

Ao fundo, colinas verdejantes e douradas, cobertas por vegetação rasteira e árvores esparsas, compõem o cenário típico transmontano, com tons que sugerem o final da primavera ou início do verão.

Pequenos detalhes, como flores brancas em primeiro plano, adicionam um toque delicado à composição.

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A fotografia utiliza uma luz natural que realça os tons terrosos e verdes, criando uma atmosfera calma e equilibrada.

A escolha do enquadramento, com a passarela guiando o olhar até a torre e as colinas ao fundo, destaca a harmonia entre a intervenção humana e a natureza.

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A obra de Mário Silva não é apenas um registro documental, mas também uma celebração da relação entre o homem e o meio ambiente.

A barragem de Mairos, com a sua simplicidade arquitetónica, é apresentada como um elemento integrado na paisagem, sem dominá-la.

A passarela, com as suas linhas retas, contrasta com as formas orgânicas das colinas, simbolizando a intervenção humana que, nesse caso, é benéfica e sustentável.

A luz suave e a paleta de cores naturais reforçam a ideia de equilíbrio e tranquilidade, características muitas vezes associadas às zonas rurais de Portugal.

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A barragem de Mairos, como outras estruturas hidráulicas em Trás-os-Montes, desempenha um papel crucial no desenvolvimento agrícola da região.

Trás-os-Montes é conhecida pelo seu clima continental, com verões secos e quentes e invernos frios, o que torna a gestão da água um desafio para os agricultores.

A captação de água da ribeira das Aveleiras para irrigação permite o cultivo de culturas como cereais, hortaliças e vinhas, que são a base da economia local.

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Estas barragens garantem o fornecimento de água durante os períodos de seca, aumentando a produtividade agrícola e a segurança alimentar.

Além disso, elas ajudam a combater a desertificação e a erosão do solo, problemas comuns em áreas de relevo acidentado como Trás-os-Montes.

A construção de reservatórios e sistemas de regadio também incentiva a fixação das populações rurais, reduzindo o êxodo para áreas urbanas, e preserva práticas agrícolas tradicionais que são parte da identidade cultural da região.

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Em resumo, a fotografia de Mário Silva captura não apenas a beleza da barragem de Mairos, mas também a sua relevância como um símbolo de sustentabilidade e desenvolvimento para a agricultura transmontana, evidenciando como a engenharia pode coexistir harmoniosamente com a natureza para beneficiar as comunidades locais.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
29
Mai25

"Ruínas floridas"


Mário Silva Mário Silva

"Ruínas floridas"

29Mai DSC00111_ms

A fotografia "Ruínas floridas" de Mário Silva captura um momento de beleza serena e resiliência num meio de abandono.

A imagem mostra uma estrutura de pedra em ruínas, com grandes blocos de granito cobertos por musgo verde, indicando anos de exposição às intempéries.

No centro da composição, uma janela rudimentar, formada por pedras empilhadas, enquadra o céu claro ao fundo.

Sobre as pedras, dois vasos de barro vermelho, simples e rústicos, abrigam plantas suculentas com tons de rosa e roxo, que contrastam com a aspereza da pedra e o verde do musgo.

A assinatura do fotógrafo, "Mário Silva", aparece no canto inferior direito, escrita em uma caligrafia elegante, complementando o tom nostálgico da obra.

A moldura da fotografia, em tons sépia, reforça a sensação de passado, como se estivéssemos olhando para uma memória distante.

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Em Trás-os-Montes, o tempo parece ter parado.

As aldeias, outrora vibrantes com o som de vozes e o trabalho nos campos, hoje ecoam o silêncio de um passado que se desvanece.

As casas de pedra, construídas com o suor e a determinação de gerações, sucumbem à inevitável passagem dos anos.

Paredes que abrigaram famílias inteiras agora desmoronam, cobertas por musgo e esquecidas pelo progresso que atraiu os mais jovens para as cidades ou para o estrangeiro.

Este cenário de abandono, porém, não é apenas uma narrativa de perda.

É também um testemunho da resiliência de um povo que, mesmo no meio do colapso, encontra formas de recriar a beleza e a alegria.

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A fotografia "Ruínas floridas" de Mário Silva capta essa dualidade com uma sensibilidade rara.

Na imagem, uma estrutura de pedra em ruínas, com blocos de granito desgastados pelo tempo, abriga dois vasos de barro vermelho.

Dentro deles, suculentas de tons rosados e roxos florescem, desafiando a aridez do ambiente.

 A janela rudimentar, formada pelas pedras, enquadra o céu, como se sugerisse que, mesmo no desmoronamento, há espaço para a esperança.

O musgo verde que cobre as pedras adiciona uma camada de vida, um lembrete da natureza que reclama o que o homem abandonou.

A moldura sépia e a assinatura do fotógrafo no canto da imagem evocam uma nostalgia que ressoa com a história de Trás-os-Montes.

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A proliferação de casas em ruínas nesta região não é apenas um fenómeno físico, mas também social.

O despovoamento, impulsionado pela falta de oportunidades económicas e pela emigração, deixou para trás um legado de abandono.

Vilarejos que antes pulsavam com vida agora são habitados por poucos, geralmente idosos que resistem a deixar as terras onde nasceram.

As casas, muitas delas sem herdeiros que as reclamem, tornam-se ruínas silenciosas, testemunhas de um tempo que não volta.

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No entanto, o povo transmontano, conhecido pela sua força e ligação à terra, não se rende ao desânimo.

Mesmo no meio do colapso, há uma determinação em encontrar beleza.

Os vasos de flores, como os retratados na fotografia de Mário Silva, são um símbolo disso.

Colocados cuidadosamente sobre as pedras, eles representam um ato de resistência — um esforço para trazer cor e vida a um cenário de decadência.

É como se dissessem: "Ainda estamos aqui, e enquanto estivermos, haverá beleza."

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Essa resiliência não é apenas estética, mas profundamente cultural.

Em Trás-os-Montes, as tradições persistem, mesmo que em menor escala.

As festas populares, as histórias contadas à lareira, o cultivo da terra — tudo isso continua a ser parte da identidade local.

As ruínas, por mais tristes que pareçam, tornam-se também um espaço de memória e de reinvenção.

Algumas são transformadas em pequenas hortas, outras servem de abrigo para animais, e há até quem as utilize como cenários para projetos artísticos, como o próprio Mário Silva fez com a sua fotografia.

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A mensagem de "Ruínas floridas" é clara: o abandono pode ser inevitável, mas a capacidade de recriar alegria e beleza é uma escolha.

O povo de Trás-os-Montes, com a sua ligação visceral à terra e à sua história, ensina-nos que a vida pode florescer mesmo nas condições mais adversas.

Assim como as suculentas que brotam dos vasos de barro, a alma transmontana persiste, resiliente e vibrante, num meio das ruínas de um passado que, embora desmorone, nunca será esquecido.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
26
Mai25

"Lavrar no fértil vale de Chaves (Portugal)”


Mário Silva Mário Silva

"Lavrar no fértil vale de Chaves (Portugal)”

26Mai DSC06512_ms

A fotografia de Mário Silva captura um momento de trabalho agrícola no fértil vale de Chaves, em Portugal, mostrando um trator lavrando a terra no meio de uma paisagem rural.

A imagem reflete a essência da atividade agrícola, uma prática fundamental para a região de Trás-os-Montes e para o país

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A agricultura sempre foi um pilar essencial para a economia e a cultura de Portugal, especialmente em regiões como Trás-os-Montes, onde o vale de Chaves se destaca pela sua fertilidade.

A fotografia de Mário Silva, que retrata um trator lavrando a terra, simboliza o trabalho árduo dos agricultores e a ligação profunda entre o povo e a terra.

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Trás-os-Montes é uma região marcada por um relevo acidentado e um clima continental, com invernos rigorosos e verões quentes.

Apesar dos desafios, a agricultura é a espinha dorsal da economia local.

Culturas como a batata, o milho, a castanha e a vinha são predominantes, enquanto a criação de gado, especialmente ovino e bovino, também desempenha um papel crucial.

O vale de Chaves, conhecido pela sua fertilidade, é um exemplo de como a terra pode ser generosa quando bem trabalhada.

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Os produtos agrícolas de Trás-os-Montes não apenas sustentam as comunidades locais, mas também têm reconhecimento nacional e internacional.

O azeite transmontano, por exemplo, é valorizado pela sua qualidade, e a castanha é um símbolo da região.

Além disso, a agricultura familiar, predominante na região, preserva tradições e saberes passados de geração em geração, mantendo viva a identidade cultural do povo transmontano.

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A nível nacional, a agricultura portuguesa é vital para a segurança alimentar e para a economia.

Portugal é conhecido por produtos como o vinho, o azeite e os lacticínios, que têm uma forte presença nos mercados internacionais.

Regiões como Trás-os-Montes contribuem para essa reputação, fornecendo matérias-primas de alta qualidade.

Além disso, a agricultura desempenha um papel importante na fixação das populações rurais, combatendo o despovoamento do interior, um problema crescente no país.

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A atividade agrícola também é essencial para a sustentabilidade ambiental.

Práticas tradicionais, como as que vemos na fotografia de Mário Silva, muitas vezes promovem a conservação do solo e o uso responsável dos recursos naturais.

Em Trás-os-Montes, os agricultores frequentemente utilizam métodos que respeitam os ciclos da natureza, contribuindo para a preservação da biodiversidade.

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Apesar da sua importância, a agricultura em Trás-os-Montes enfrenta desafios, como o envelhecimento da população rural, a falta de mão de obra e os impactos das mudanças climáticas.

No entanto, há oportunidades para o futuro.

A modernização agrícola, o investimento em tecnologias sustentáveis e a valorização dos produtos locais podem revitalizar o setor.

Iniciativas como o turismo rural e a certificação de produtos com denominação de origem protegida também ajudam a promover a região e os seus produtos.

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Em conclusão, a agricultura, como retratada na fotografia de Mário Silva, é mais do que uma atividade económica em Trás-os-Montes e em Portugal – é um modo de vida, uma ligação à terra e às tradições.

Para as gentes de Trás-os-Montes, ela representa resiliência e identidade; para Portugal, é uma fonte de riqueza cultural e económica.

Valorizar e apoiar os agricultores é essencial para garantir que esta atividade continue a florescer, sustentando não apenas o vale de Chaves, mas todo o país.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
13
Mai25

"Imagem de Nª Sª de Fátima, na igreja de Águas Frias"


Mário Silva Mário Silva

"Imagem de Nª Sª de Fátima, na igreja de Águas Frias"

13Mai DSC04835_ms

A fotografia de Mário Silva, intitulada "Imagem de Nª Sª de Fátima, na igreja de Águas Frias", retrata uma estátua de Nossa Senhora de Fátima, um símbolo profundamente enraizado na espiritualidade portuguesa.

A imagem mostra a Virgem Maria com o seu tradicional véu branco, adornado com detalhes dourados, segurando um rosário e com as mãos unidas em oração.

A estátua está posicionada sobre um pedestal ornamentado, com a inscrição "Ave Maria" visível, e é coroada por uma auréola de estrelas, simbolizando a sua santidade.

A simplicidade do cenário, com um fundo claro e detalhes subtis, realça a serenidade e a devoção que a figura inspira.

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A devoção mariana entre as gentes transmontanas é uma expressão viva da fé católica que atravessa gerações.

Em Trás-os-Montes, a ligação com Nossa Senhora, especialmente na sua invocação de Fátima, é marcada por uma espiritualidade intensa e por tradições que unem comunidades.

As romarias, as procissões e as festas em honra da Virgem são momentos de grande significado, onde as famílias se reúnem para rezar o terço, cantar hinos e partilhar histórias de milagres e graças alcançadas.

A imagem de Nossa Senhora de Fátima, como a capturada por Mário Silva, não é apenas um objeto de culto, mas um ponto de ligação espiritual que reflete a identidade cultural e religiosa do povo transmontano, que encontra na Mãe de Deus um refúgio de esperança e proteção.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
11
Mai25

“Alminhas” – Casas de Monforte – Águas Frias – Chaves – Portugal


Mário Silva Mário Silva

“Alminhas”

Casas de Monforte – Águas Frias – Chaves – Portugal

04Mai DSC07714_ms

A fotografia de Mário Silva, intitulada “Alminhas” – Casas de Monforte – Águas Frias – Chaves - Portugal, mostra um pequeno nicho religioso encravado numa parede de pedra.

Dentro do nicho, há uma pintura que retrata uma cena tradicional: um anjo, possivelmente São Miguel Arcanjo, que está no topo, com asas e uma lança, sobre um fundo celestial.

Abaixo, figuras humanas, algumas em vestes azuis, parecem estar em sofrimento, envoltas em chamas que simbolizam o Purgatório.

À frente da pintura, há um vaso dourado com flores brancas (provavelmente lírios, associados à pureza) e uma lamparina vermelha com uma cruz, contendo uma vela acesa.

A palavra "Esmolas" está escrita na base do nicho, sugerindo um pedido de ofertas para as almas.

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Os nichos conhecidos como "alminhas" são pequenas construções religiosas comuns em Portugal, especialmente em áreas rurais como Trás-os-Montes.

Surgiram principalmente entre os séculos XVII e XIX, durante o período da Contrarreforma, quando a Igreja Católica reforçava a doutrina do Purgatório.

Esses nichos eram erguidos em encruzilhadas, caminhos ou muros, com o objetivo de lembrar os fiéis de orar pelas almas do Purgatório.

Muitas vezes, continham imagens ou pinturas de almas penadas no meio de chamas, com anjos ou santos intercessores, e a palavra "esmolas" indicava a solicitação de donativos para missas ou orações que ajudassem a aliviar o sofrimento dessas almas.

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Na tradição católica, as "almas penadas" são as almas dos mortos que estão no Purgatório, um estado intermediário entre o Céu e o Inferno.

Segundo a doutrina, essas almas pertencem a pessoas que morreram em estado de graça, mas ainda precisam ser purificadas de pecados veniais ou expiar as consequências de pecados já perdoados.

No Purgatório, elas sofrem temporariamente, frequentemente representado por chamas, até estarem prontas para entrar no Céu.

A Igreja ensina que as orações, missas e esmolas dos vivos podem ajudar a acelerar essa purificação, daí a importância dos nichos como as "alminhas", que incentivam os fiéis a interceder por essas almas.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
08
Mai25

O Castelo de Monforte de Rio Livre


Mário Silva Mário Silva

O Castelo de Monforte de Rio Livre

08Mai DSC01031_ms

O Castelo de Monforte de Rio Livre, localizado em Águas Frias, Chaves, Portugal, é uma fortaleza medieval que reflete a história turbulenta da região de Trás-os-Montes.

Construído possivelmente no século XIII, durante o reinado de D. Afonso III, o castelo fazia parte da linha defensiva do norte de Portugal, numa época em que o reino enfrentava ameaças de invasões e disputas territoriais, especialmente com Castela.

A sua posição estratégica, numa elevação com vista para o vale do rio Livre, permitia o controle de rotas e a proteção das populações locais.

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A estrutura do castelo, como vista na fotografia de Mário Silva, exibe características típicas da arquitetura militar medieval portuguesa: muralhas robustas de pedra, uma torre de menagem quadrangular e pequenas aberturas para defesa.

Apesar de hoje estar em ruínas, o castelo mantém vestígios da sua importância histórica, como os arcos góticos visíveis nas janelas da torre.

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Ao longo dos séculos, o Castelo de Monforte de Rio Livre perdeu relevância militar com a consolidação das fronteiras portuguesas e a pacificação da região.

Durante a Guerra da Restauração (1640-1668), ainda pode ter sido usado esporadicamente, mas, a partir do século XVIII, foi gradualmente abandonado.

A ação do tempo e a falta de manutenção levaram à degradação da estrutura, que hoje é um testemunho silencioso da Idade Média em Portugal.

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Atualmente, o castelo é um ponto de interesse histórico e cultural, atraindo visitantes que buscam conhecer o passado da região.

A sua localização em Águas Frias, uma freguesia rural de Chaves, também oferece uma paisagem natural que complementa a experiência, como capturado na fotografia, com o verde dos campos contrastando com a pedra antiga.

O Castelo de Monforte de Rio Livre é, assim, um símbolo da resiliência e da história de um Portugal medieval que ainda ecoa no presente.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
26
Abr25

"Uma casa na Aldeia - uma imagem que marca"


Mário Silva Mário Silva

"Uma casa na Aldeia - uma imagem que marca"

26Abr DSC01156_ms

A fotografia de Mário Silva, intitulada "Uma casa na Aldeia - uma imagem que marca", retrata uma casa rural que parece encapsular a essência da arquitetura tradicional das aldeias transmontanas, uma região no nordeste de Portugal conhecida pela sua rusticidade e ligação profunda com a terra.

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A imagem mostra uma pequena casa de pedra e reboco, com um telhado de telhas vermelhas tradicionais, ligeiramente desgastadas pelo tempo, o que dá um ar de autenticidade e história.

A casa possui uma varanda elevada, acessível por uma escadaria de pedra rústica, que parece ter sido moldada pelas intempéries ao longo dos anos.

A varanda é delimitada por uma grade de madeira simples, com um desenho em treliça na lateral, e é coberta por um telhado inclinado que protege a entrada principal.

A porta de entrada, de madeira escura, é modesta, com uma pequena janela de grades que permite a entrada de luz.

Ao lado da escadaria, há um barril de madeira, possivelmente usado para armazenar vinho, e algumas plantas verdes que crescem ao redor, sugerindo um ambiente natural e integrado à paisagem.

A parede lateral da casa é de pedra exposta, com blocos irregulares unidos por argamassa, enquanto outras partes são rebocadas e pintadas de branco, um contraste típico que dá charme à construção.

Uma lanterna pendurada na varanda adiciona um toque de funcionalidade e nostalgia.

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A iluminação da fotografia é suave, com uma luz natural que parece ser do final da tarde, criando sombras delicadas que realçam a textura da pedra e da madeira.

A composição da imagem é íntima e acolhedora, transmitindo uma sensação de simplicidade e serenidade, como se a casa fosse um refúgio num meio de vida rural.

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As casas rurais transmontanas são conhecidas pela sua arquitetura funcional, construídas para atender às necessidades de uma vida agrícola e resistir às condições climáticas rigorosas da região, que incluem invernos frios e verões quentes.

A fotografia de Mário Silva reflete várias dessas características, e podemos traçar uma analogia poética entre a casa retratada e o espírito das habitações tradicionais de Trás-os-Montes.

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Assim como na fotografia, as casas transmontanas são frequentemente construídas com pedra de granito, materiais abundantes na região, que conferem durabilidade e um aspeto rústico.

A pedra exposta na parede da casa da imagem é um reflexo direto dessa prática, enquanto o reboco branco noutras partes é comum para proteger as paredes e dar um toque de luminosidade.

Esta combinação de pedra e reboco é como uma metáfora para o povo transmontano: resistente e enraizado como a pedra, mas com um coração acolhedor e simples, simbolizado pelo branco.

O telhado inclinado de telhas vermelhas é uma característica marcante das casas transmontanas, projetado para suportar a neve no inverno e facilitar o escoamento da chuva.

Na fotografia, o telhado desgastado parece contar histórias de muitos invernos e verões, assim como as próprias aldeias transmontanas, que carregam a memória de gerações.

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A varanda elevada com escadaria de pedra é um elemento típico das casas transmontanas, especialmente em terrenos inclinados.

Essa característica permite separar a entrada principal do nível do solo, muitas vezes usado para armazenamento ou para abrigar animais.

Na fotografia, a varanda é como um pequeno palco onde a vida acontece: um lugar para descansar, observar a aldeia ou conversar com vizinhos, refletindo a importância da comunidade na cultura transmontana.

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A casa na imagem é desprovida de ornamentos desnecessários, assim como as casas transmontanas, que priorizam a funcionalidade.

A grade de madeira simples, o barril ao lado da escadaria e a lanterna pendurada são detalhes que mostram uma vida prática, onde cada elemento tem um propósito.

Essa simplicidade é um espelho da vida rural transmontana, onde o essencial é valorizado acima do supérfluo.

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As plantas ao redor da casa e a sensação de harmonia com o ambiente são reminiscentes das aldeias transmontanas, onde as construções parecem surgir organicamente da paisagem.

A casa da fotografia não impõe a sua presença, mas se mistura com a terra, como se fosse uma extensão natural do solo rochoso e dos campos ao redor.

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Em conclusão, a fotografia "Uma casa na Aldeia - uma imagem que marca" de Mário Silva é mais do que uma simples captura de uma casa; ela é um retrato da alma transmontana.

A casa, com a sua pedra rústica, telhado de telha, varanda modesta e detalhes funcionais, é uma analogia perfeita para as habitações tradicionais de Trás-os-Montes: sólidas como o granito da região, simples como o modo de vida rural, e acolhedoras como o coração de quem lá vive.

A imagem marca porque consegue transmitir não apenas a aparência de uma casa, mas o sentimento de pertença, resistência e serenidade que define a vida nas aldeias transmontanas.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
11
Abr25

"A porta norte do castelo de Monforte de Rio Livre" - Águas Frias - Chaves - Portugal


Mário Silva Mário Silva

"A porta norte do castelo de Monforte de Rio Livre"

Águas Frias - Chaves - Portugal

11Abr DSC01004_ms

A fotografia de Mário Silva retrata a "porta norte do castelo de Monforte de Rio Livre", localizado em Águas Frias, Chaves, Portugal.

A imagem mostra uma pequena entrada em forma de arco, construída com pedras rústicas e desgastadas pelo tempo, cobertas por musgo e vegetação rasteira.

A estrutura parece sólida, mas com sinais de deterioração, típicos de construções medievais expostas aos elementos por séculos.

A porta é estreita e baixa, sugerindo que não era destinada a grandes movimentações, mas sim a um propósito mais específico.

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As pequenas entradas, como a porta norte do castelo de Monforte de Rio Livre, tinham uma importância tática crucial na arquitetura militar medieval.

- Controle de acesso e defesa: Portas pequenas, como a da fotografia, eram projetadas para limitar o número de pessoas que podiam entrar ou sair ao mesmo tempo.

Isso dificultava invasões em massa por inimigos, pois apenas um ou dois indivíduos podiam passar de cada vez, tornando-os alvos fáceis para os defensores dentro do castelo. Além disso, essas portas eram frequentemente protegidas por mecanismos defensivos, como ranhuras para barras ou portões internos.

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- Entradas secundárias para saídas estratégicas: Essas portas, conhecidas como postigos, eram usadas para saídas discretas ou missões furtivas.

Durante um cerco, os defensores podiam usá-las para enviar mensageiros, buscar suprimentos ou realizar ataques surpresa contra os sitiantes, sem expor as entradas principais do castelo.

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- Dificuldade de acesso para atacantes: A localização e o tamanho dessas portas eram estrategicamente planeados.

Muitas vezes, ficavam em pontos elevados ou de difícil acesso, como encostas ou áreas protegidas por outros elementos naturais ou artificiais.

A porta norte de Monforte de Rio Livre, por exemplo, parece estar numa área inclinada, o que dificultaria a aproximação de um inimigo com equipamento pesado, como aríetes.

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- Proteção contra armas de cerco: Portas pequenas eram menos vulneráveis a armas de cerco, como catapultas ou aríetes, que eram mais eficazes contra portões principais maiores.

A construção em arco, como a da fotografia, também aumentava a resistência estrutural, distribuindo melhor o peso e os impactos.

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- Uso em tempos de paz: Além da sua função defensiva, essas portas podiam ser usadas em tempos de paz para acesso de moradores ou para atividades rotineiras, como a entrada de suprimentos ou a saída de guarnições para patrulhas, sem a necessidade de abrir os portões principais, que demandavam mais esforço e vigilância.

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O castelo de Monforte de Rio Livre, situado em Águas Frias, Chaves, é um exemplo de fortificação medieval portuguesa, construído no século XII, durante o período de consolidação do reino de Portugal e das lutas contra os mouros e os reinos cristãos vizinhos, como Leão e Castela.

A sua localização na região de Trás-os-Montes, próxima à fronteira com a Espanha, reforça a sua importância estratégica para a defesa do território português.

Pequenas portas como a da fotografia eram elementos essenciais para a sobrevivência do castelo em tempos de conflito, garantindo tanto a segurança quanto a flexibilidade tática.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
10
Abr25

"Os carvalhos (Quercus) por entre os carvalhos”


Mário Silva Mário Silva

"Os carvalhos (Quercus) por entre os carvalhos”

10Abr DSC00219_ms

A fotografia de Mário Silva, intitulada "Os carvalhos (Quercus) por entre os carvalhos” apresenta uma paisagem natural típica da região de Trás-os-Montes, no nordeste de Portugal.

A imagem mostra uma área verdejante com grandes rochas cobertas de musgo, cercadas por árvores altas e esguias, os carvalhos.

A luz suave que atravessa as copas das árvores ilumina o chão coberto de relva, criando uma atmosfera serena e quase mágica.

A assinatura de Mário Silva no canto inferior direito reforça a autoria e o valor artístico da fotografia.

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A fotografia captura um bosque ou uma área florestal onde os carvalhos predominam.

As árvores, com troncos finos e copas esparsas, estão cobertas de líquens, o que indica um ambiente húmido e bem preservado.

Entre as árvores, grandes rochas de granito, típicas da geologia de Trás-os-Montes, emergem do solo, cobertas de musgo verde, sugerindo um ecossistema equilibrado e intocado.

O enquadramento da imagem, com troncos no primeiro plano, cria uma sensação de profundidade, como se o observador estivesse a entrar na floresta.

A luz natural, provavelmente de um dia ensolarado, filtra-se pelas folhas, iluminando o chão e destacando a textura das rochas e da vegetação.

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Os carvalhos têm uma relevância profunda para as comunidades de Trás-os-Montes, tanto do ponto de vista ecológico quanto cultural, social e económico.

Esta região, conhecida pela sua paisagem rural e tradições ancestrais, depende historicamente da relação com a natureza, e os carvalhos desempenham um papel central nesse contexto.

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Os carvalhos, como o carvalho-negral (Quercus pyrenaica) e o carvalho-português (Quercus faginea), são espécies nativas de Trás-os-Montes e desempenham um papel crucial na manutenção do equilíbrio ecológico.

Eles ajudam a preservar a biodiversidade, servindo de habitat para várias espécies de aves, insetos e pequenos mamíferos.

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As suas raízes profundas ajudam a prevenir a erosão do solo, um problema comum nas áreas montanhosas da região, especialmente em terrenos inclinados.

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Os carvalhos também contribuem para a retenção de água no solo, essencial numa região onde os verões podem ser bastante secos.

 

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A madeira de carvalho é muito valorizada em Trás-os-Montes para a construção de casas, celeiros e utensílios agrícolas.

 É conhecida pela sua durabilidade e resistência, sendo usada em vigas, portas e móveis.

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As bolotas dos carvalhos são uma fonte de alimento para o gado, especialmente para os porcos, que são criados em regime extensivo na região.

Estes porcos, alimentados com bolotas, produzem o famoso presunto transmontano, um produto de alta qualidade e valor económico.

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Os carvalhos fornecem lenha, essencial para o aquecimento das casas durante os invernos rigorosos de Trás-os-Montes, onde as temperaturas podem ser muito baixas.

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Os carvalhos estão profundamente enraizados na cultura transmontana.

São frequentemente associados a locais de encontro comunitário, como feiras ou romarias, onde as pessoas se reuniam à sombra das suas copas.

Muitos carvalhos antigos são considerados árvores de referência em aldeias, marcando limites de terrenos ou servindo como pontos de orientação.

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Na tradição oral e nas lendas de Trás-os-Montes, os carvalhos são frequentemente mencionados como símbolos de força, longevidade e sabedoria.

Árvores centenárias são respeitadas e, em alguns casos, associadas a histórias de antepassados ou a eventos históricos.

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A sombra dos carvalhos também é valorizada pelos pastores, que descansam com os seus rebanhos durante as longas jornadas de pastoreio.

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Os carvalhos integram-se nos sistemas agroflorestais tradicionais de Trás-os-Montes, como os montados, onde coexistem com culturas agrícolas e pastagens.

Este sistema permite uma utilização sustentável da terra, combinando a produção de madeira, bolotas e pasto.

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A sua presença ajuda a fertilizar o solo, pois as folhas caídas decompõem-se e enriquecem a terra com matéria orgânica.

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A fotografia de Mário Silva reflete a essência dessa ligação entre as gentes de Trás-os-Montes e os carvalhos.

A paisagem intocada, com as rochas e os carvalhos, remete à simplicidade e à harmonia da vida rural na região.

A escolha do título, "Os carvalhos por entre os carvalhos", pode ser interpretada de forma literal (os carvalhos entre as rochas, que em português também são chamadas de "carvalhos" em alguns contextos regionais) ou simbólica, destacando a omnipresença destas árvores na paisagem e na vida da região.

A luz suave e a composição natural da imagem transmitem uma sensação de calma e continuidade, como se a fotografia capturasse um momento eterno na relação entre o homem e a natureza em Trás-os-Montes.

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Em conclusão, os carvalhos são mais do que simples árvores para as gentes de Trás-os-Montes; eles são um pilar da vida na região, sustentando a economia, a ecologia e a cultura local.

A fotografia de Mário Silva, com a sua representação sensível desta paisagem, presta uma homenagem a essa conexão profunda, mostrando como os carvalhos continuam a moldar a identidade e o quotidiano transmontano.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
11
Mar25

Crepúsculo Transmontano (Poema)


Mário Silva Mário Silva

Crepúsculo Transmontano (Poema)

11Mar DSC07927_ms

Nas encostas de telha e pedra,

onde o sol se deita preguiçoso

e o vento sussurra segredos

de eras que se foram,

as aldeias se desvanecem em silêncio.

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Casas de memória,

erguidas como velhas testemunhas

de mãos calejadas e corações pulsantes,

agora repousam solenes,

deixando que o tempo as abrace

num abraço de melancolia e pó.

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Nos caminhos de pedra,

onde os passos se perdem

no eco de histórias antigas,

o arado e a foice jazem esquecidos,

símbolos de um labor que unia vida

se celebrava a terra com fervor ancestral.

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Nas pequenas igrejas quase abandonadas,

a prece ecoa num sussurro distante,

como um hino triste à esperança

que se foi com a brisa,

levando embora os risos e os sonhos

de gerações que partiram rumo ao incerto.

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Oh, Trás-os-Montes!

Na tua paisagem rústica e austera,

a decadência é também poesia,

um lamento que se transforma

em versos de saudade,

e em cada ruína, a semente

de um amor eterno pela terra.

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Poema & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
28
Fev25

O Regresso


Mário Silva Mário Silva

O Regresso

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Miguel regressou à aldeia onde nascera depois de quase duas décadas vivendo em Lisboa. Deixara Trás-os-Montes ainda adolescente, com sonhos de estudar, crescer e conquistar um mundo que, para ele, parecia pequeno demais nas serras e vales da sua infância.

Agora, regressava homem feito, com anos de trabalho numa multinacional e o espírito inquieto de quem já não sabia onde pertencia.

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O reencontro com a aldeia foi agridoce.

Os mais velhos ainda se lembravam dele e saudaram-no com abraços demorados e sorrisos carregados de nostalgia.

Mas os mais novos viam-no como um estranho. "O lisboeta", murmuravam quando passava.

Sentiu-se deslocado na própria terra, como se pertencesse a dois mundos e, ao mesmo tempo, a nenhum.

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Nos primeiros meses, Miguel lutou contra o silêncio das noites sem o ruído incessante da cidade.

Estranhou a lentidão dos dias, o tempo que se media pelo nascer e pôr do sol e não pelos ponteiros de um relógio de pulso.

Habituara-se a cafés apressados em esplanadas movimentadas e agora via-se a partilhar longas conversas na tasca local, ouvindo histórias que pareciam suspensas no tempo.

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A adaptação foi difícil.

A internet era lenta, a mercearia mais próxima ficava a mais de meia hora de distância e a solidão impunha-se de forma avassaladora.

Mas, aos poucos, aprendeu a apreciar as rotinas simples: a ida à mercearia para comprar pão fresco, o cheiro da terra molhada depois da chuva, o prazer de colher os próprios legumes da horta do seu avô.

E, sobretudo, redescobriu a alegria da proximidade humana, dos almoços intermináveis à volta da mesa e da solidariedade entre vizinhos.

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Miguel percebeu, então, que a felicidade não era exclusiva dos grandes centros.

O progresso e a modernidade tinham o seu valor, mas também tinham um preço.

Na aldeia, encontrou um sentido de pertença que nunca tivera nos anos apressados da cidade.

Aprendeu que a vida não precisa de ser sempre uma corrida e que, por vezes, voltar às raízes é a melhor forma de avançar.

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Para aqueles que enfrentam um regresso semelhante, Miguel deixa um ensinamento: a adaptação não é imediata, mas é possível.

A saudade da vida anterior vai existir, assim como a incerteza sobre se foi a escolha certa.

Mas, se há algo que Trás-os-Montes lhe ensinou, é que a terra sabe esperar pelos seus filhos.

E quando estes regressam, de coração aberto, a aldeia sempre encontra um lugar para eles.

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Com o passar dos meses, Miguel começou a investir na comunidade.

Restaurou a casa dos avós, plantou uma vinha e começou a colaborar com os produtores locais, trazendo novas ideias que equilibravam tradição e inovação.

Criou um pequeno negócio de turismo rural, mostrando aos visitantes as belezas escondidas da região, partilhando histórias antigas e os sabores únicos da gastronomia transmontana.

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E, enquanto a vida se desenrolava entre colinas e vinhedos, Miguel sentiu que finalmente encontrara o seu lugar.

A aldeia já não o via como o "lisboeta", mas como um dos seus.

E ele, que um dia partira em busca de um futuro melhor, percebeu que o futuro sempre estivera ali, à espera do seu regresso.

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Texto & Desenho digital: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
27
Fev25

“Cravelho numa velha porta” (caravelho – gravelho - tramela – taramela – ferrolho – travinca)


Mário Silva Mário Silva

“Cravelho numa velha porta”

(caravelho – gravelho - tramela –

taramela – ferrolho – travinca)

27Fev DSC07866_ms

A fotografia de Mário Silva intitulada "Cravelho numa velha porta" retrata um mecanismo de fecho tradicional, conhecido por vários nomes na região de Trás-os-Montes, Portugal: Caravelho, Gravelho, Tramela, Taramela, Ferrolho, Travinca, ...

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A imagem mostra uma porta de madeira antiga, provavelmente de uma construção rústica, possivelmente uma casa ou um celeiro.

A porta é feita de tábuas de madeira envelhecida, com um aspeto rústico e desgastado pelo tempo.

O cravelho, que é o foco da imagem, é um mecanismo de fecho feito de madeira, consistindo em uma peça principal que se encaixa numa estrutura de suporte, também de madeira, para trancar a porta.

A peça de madeira que forma o cravelho é esculpida de forma a permitir que se mova para dentro e para fora da estrutura, garantindo a segurança da porta.

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Para as Gentes transmontanas, o cravelho tem um significado profundo, enraizado na tradição e na simplicidade da vida rural.

Este tipo de fecho é emblemático da engenhosidade e da utilização de materiais locais disponíveis, refletindo um modo de vida que valoriza a sustentabilidade e a simplicidade.

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O uso do cravelho demonstra a continuidade das tradições locais.

Mesmo com o avanço tecnológico, muitos transmontanos mantêm estas práticas antigas, preservando a cultura e o património.

A construção do cravelho é um exemplo de engenharia popular, onde a funcionalidade é alcançada com recursos simples.

Isso destaca a habilidade manual e o conhecimento prático transmitido de geração em geração.

O cravelho não é apenas funcional, mas também simbólico.

Ele representa a proteção do lar, um valor muito importante nas comunidades rurais onde a casa é um refúgio seguro contra os elementos e intrusos.

O uso de madeira e a integração com a construção rústica refletem uma conexão profunda com a natureza, algo característico da cultura transmontana, onde a vida está intrinsecamente ligada ao ambiente natural.

Os diferentes nomes para o mesmo objeto (Caravelho, Gravelho, etc.) mostram a diversidade dentro da própria região, mas também uma unidade na função e na essência do objeto, reforçando a identidade regional.

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Em resumo, a fotografia de Mário Silva não apenas captura um objeto funcional, mas também encapsula um pedaço da alma transmontana, refletindo valores de tradição, engenhosidade, proteção e uma vida em harmonia com a natureza.

O cravelho, com a sua simplicidade e eficácia, é um símbolo duradouro da cultura desta região de Portugal.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
23
Fev25

“A igreja e a sua importância"


Mário Silva Mário Silva

“A igreja e a sua importância"

23Fev DSC00472_ms

A Igreja desempenha um papel fundamental na vida das comunidades rurais de Trás-os-Montes, tanto do ponto de vista arquitetónico, como cultural, social e religioso.

A fotografia de Mário Silva capta essa essência ao destacar uma igreja típica da região, inserida na paisagem natural e refletindo a importância histórica desses edifícios para o povo transmontano.

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As igrejas rurais de Trás-os-Montes apresentam um estilo arquitetónico tradicional, muitas vezes marcado por influências barrocas e românicas.

A igreja na imagem tem uma estrutura simples, com paredes brancas e um telhado de telha avermelhada, características comuns nas construções religiosas do interior português.

A torre sineira, com arcos bem definidos e uma cruz no topo, simboliza a presença divina e a ligação entre o céu e a terra.

O relógio na fachada reforça a sua função como ponto central da aldeia, regulando o tempo e a vida dos moradores.

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A Igreja é mais do que um edifício religioso; é um marco identitário para as comunidades rurais.

Ao longo dos séculos, esses templos foram espaços de celebração, memória e tradição.

As festividades religiosas, como as festas em honra dos santos padroeiros, romarias e procissões, reúnem os habitantes e descendentes da terra, reforçando os laços culturais e perpetuando as tradições locais.

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Além de local de culto, a Igreja é um ponto de encontro e convivência.

Em muitas aldeias transmontanas, é junto à Igreja que se realizam as principais interações sociais, desde reuniões comunitárias a eventos festivos.

Para uma população que historicamente enfrentou isolamento geográfico e dificuldades socioeconómicas, a Igreja sempre representou um espaço de união, onde os moradores partilham alegrias e tristezas.

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A fé tem um papel central na vida das populações rurais de Trás-os-Montes.

A Igreja representa a espiritualidade e a devoção do povo, sendo o local onde ocorrem os momentos mais importantes da vida comunitária, como batismos, casamentos e funerais.

Para muitos, a igreja é um refúgio espiritual, um espaço de oração e esperança, onde encontram conforto e orientação.

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Como conclusão, a Igreja, como a representada na fotografia de Mário Silva, é um símbolo de resistência e continuidade.

Em Trás-os-Montes, ela permanece como um elo entre o passado e o presente, refletindo a fé, a cultura e a identidade de um povo profundamente ligado às suas raízes e tradições.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
07
Fev25

"Os potes de ferro de três pernas" - A Fotografia como Lente para o Passado


Mário Silva Mário Silva

"Os potes de ferro de três pernas"

A Fotografia como Lente para o Passado

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A fotografia de Mário Silva, "Os potes de ferro de três pernas", transporta-nos para um tempo em que a vida rural era mais simples e os utensílios de cozinha eram construídos para durar gerações.

A imagem, com a sua composição cuidadosa e a sua paleta de cores quentes, evoca uma atmosfera de nostalgia e de aconchego, convidando o observador a uma reflexão sobre a importância da tradição e da memória.

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Os potes de ferro, com as suas três pernas e as suas formas arredondadas, são os protagonistas da imagem.

Estes utensílios, feitos de ferro fundido, eram utilizados para cozinhar os alimentos em lareiras. A escuridão do ferro, contrastando com a luz que incide sobre eles, confere à imagem uma sensação de solidez e durabilidade.

A lareira, com a sua pedra rústica e as suas cinzas, é o cenário perfeito para os potes de ferro.

A lareira era o coração da casa, o lugar onde a família se reunia para se aquecer e para preparar as refeições.

A vassoura, pendurada na parede, completa a composição, evocando a rotina diária da vida rural.

A vassoura era um instrumento essencial para a limpeza da lareira e sua envolvente.

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Os potes de ferro de três pernas eram um utensílio essencial nas casas rurais de Trás-os-Montes.

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O ferro fundido é um material extremamente resistente ao calor e à corrosão, o que tornava os potes muito duráveis.

Os potes de ferro podiam ser utilizados para cozinhar uma grande variedade de alimentos, desde sopas e ensopados até carnes e legumes.

Os potes de ferro eram transmitidos de geração em geração, tornando-se parte integrante da identidade cultural da região.

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A fotografia de Mário Silva não é apenas uma bela imagem, mas também um documento histórico.

Ao representar um objeto quotidiano, como um pote de ferro, o artista oferece-nos um vislumbre do passado, permitindo-nos compreender melhor a vida das pessoas que viviam nas zonas rurais de Portugal.

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Em resumo, a fotografia "Os potes de ferro de três pernas" é uma obra que nos convida a refletir sobre a importância da tradição e da memória.

Através de uma linguagem visual simples e poética, o artista captura a essência de um objeto que, embora tenha sido substituído por utensílios mais modernos, continua a evocar um sentimento de nostalgia e de pertença.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
14
Jan25

“O pastor e o seu cajado”


Mário Silva Mário Silva

“O pastor e o seu cajado”

14Jan DSC05611_ms

Nas terras agrestes de Trás-os-Montes, o pastor cresceu com o cajado na mão, um símbolo de liderança e proteção desde os seus dias de infância.

O cajado, uma extensão do seu próprio ser, guiou-o através dos campos e montanhas, testemunhando a passagem do tempo e as mudanças das estações.

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Quando criança, o pastor sonhava com as aventuras que o esperavam, observando os rebanhos sob o olhar atento dos mais velhos.

O cajado era então um brinquedo, um bastão mágico com o qual imaginava ser o herói das suas histórias.

Com o passar dos anos, tornou-se um instrumento de trabalho, um companheiro fiel nas longas jornadas pelo pasto, ajudando a guiar e proteger o rebanho.

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Na juventude, o cajado representava a responsabilidade, o início de uma vida dedicada à terra e aos animais.

Era o bastão de um líder, não só dos rebanhos, mas das tradições e valores passados de geração em geração.

O pastor, agora homem feito, viajava pelas colinas, enfrentando os desafios do clima e da natureza com determinação e coragem.

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Com a chegada da velhice, o cajado tornou-se um símbolo de sabedoria e experiência.

Cada marca no seu madeiro era uma história, um testemunho silencioso dos muitos dias e noites passados nas terras de Trás-os-Montes.

O pastor, com cabelos grisalhos e mãos calejadas, olhava para o horizonte, refletindo sobre a vida que viveu, as dificuldades enfrentadas e os momentos de alegria compartilhados com a natureza.

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Agora, nos seus últimos anos, o cajado é um apoio, tanto físico quanto espiritual.

Ele ajuda-o a caminhar, mas também a lembrar.

Lembra do tempo em que corria livre pelas colinas, do cheiro da terra molhada após a chuva, do som das ovelhas balindo ao longe.

Cada passo com o cajado é um passo na memória, uma viagem ao passado que moldou o homem que ele se tornou.

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O pastor olha para o cajado e vê mais do que uma ferramenta; vê um companheiro de vida, um testemunho das suas lutas e conquistas.

E assim, nas terras agrestes de Trás-os-Montes, o pastor e seu cajado continuam a jornada, juntos, até o fim dos seus dias, guardiões silenciosos de um legado que transcende o tempo.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
27
Dez24

Um dia gelado numa aldeia remota de Trás-os-Montes


Mário Silva Mário Silva

Um dia gelado numa aldeia remota de

Trás-os-Montes

27Dez Águas Frias - Neve_ms

Numa aldeia escondida no interior transmontano, o dia amanheceu frio, ventoso e coberto de neve.

As casas de pedra, com os seus telhados brancos, pareciam pequenas ilhas num mar de neve.

O vento uivava pelas ruas estreitas, levantando pequenos redemoinhos de neve que dançavam ao seu sabor.

Numa dessas casas, a lareira estava acesa, quebrando o silêncio da casa vazia.

A lenha de carvalho crepitava, lançando faíscas que iluminavam o rosto de uma velhinha sentada junto ao fogo.

Tinha um xaile pelos ombros, protegendo-a do frio que se fazia sentir.

Os seus olhos, marcados pelo tempo, refletiam as chamas que dançavam na lareira.

A velhinha, Dona Maria, era a única habitante daquela casa.

Vivia sozinha desde que o seu marido, um antigo pastor da região, tinha partido.

Agora, passava os seus dias entre as paredes de pedra da sua casa, aquecida pelo fogo da lareira e pelas memórias de tempos mais felizes.

Nesse dia de frio, vento e neve, Dona Maria sentou-se junto à lareira, como fazia todos os dias. O xaile pelos ombros dava-lhe algum conforto, mas era o calor do fogo que realmente a aquecia.

Olhava para as chamas, perdida nos seus pensamentos, enquanto a lenha de carvalho crepitava, quebrando o silêncio da casa.

Fora, a neve continuava a cair, cobrindo a aldeia com um manto branco.

O vento uivava, como se quisesse entrar na casa e juntar-se a Dona Maria junto à lareira.

Mas a velhinha não se deixava perturbar.

Estava em paz, aquecida pelo fogo e pelas suas memórias, num dia de frio, vento e neve, numa aldeia do interior transmontano.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
24
Dez24

Conto de Natal - O Natal da Senhora Clementina Panoquinhas


Mário Silva Mário Silva

Conto de Natal

O Natal da Senhora Clementina Panoquinhas

24Dez DSC08261_ms Natal

Na pequena aldeia de Frescura d’Água, em pleno coração de Trás-os-Montes, o frio cortava como lâminas naquela véspera de Natal.

As casas de pedra, cobertas de musgo, exalavam um cheiro de lenha queimada, e as chaminés enchiam o ar com uma névoa que parecia misturar-se com as estrelas que despontavam no céu límpido.

Era uma aldeia esquecida pelo tempo, onde as tradições se mantinham vivas, e o Natal era celebrado com a mesma simplicidade de décadas atrás.

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Clementina Panoquinhas, uma viúva de 76 anos, morava sozinha na última casa da aldeia, à beira de um caminho de terra que subia para o monte.

Desde que perdera o marido, o Sr. Ferraz do Dedo Grande, há vinte anos, a sua vida era marcada pela solidão e pelas lembranças.

Contudo, todos na aldeia conheciam Clementina Panoquinhas pela sua bondade e pela habilidade em fazer o melhor pão de centeio da região.

No Natal, ela tinha o costume de preparar broas doces e distribuí-las pelos vizinhos mais necessitados.

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Naquela noite, enquanto o vento zunia pelas frestas das janelas, Clementina Panoquinhas estava na sua cozinha, amassando a última fornada de broas.

O velho relógio de parede marcava as onze horas.

O calor do forno aquecia-lhe as mãos e o coração, mas a solidão parecia mais pesada do que nunca.

Era a primeira vez que não haveria ninguém para partilhar a ceia.

Os filhos tinham emigrado para França e não conseguiriam vir por causa do trabalho.

Mesmo assim, Clementina Panoquinhas decidira manter a tradição.

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Quando terminou as broas, enrolou-as num pano branco e colocou-as numa cesta de vime.

Vestiu o seu xaile de lã, gasto pelo tempo, e saiu pela porta, enfrentando o frio que fazia doer os ossos.

As ruas da aldeia estavam desertas, mas havia uma magia no ar.

Algumas janelas iluminadas deixavam escapar o som abafado de risos e cantorias.

Clementina Panoquinhas caminhava devagar, depositando uma broa na soleira de cada casa humilde, com um sorriso nos lábios e uma prece no coração.

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Quando terminou, sentiu-se exausta, mas em paz.

Ao voltar para casa, reparou que o céu estava extraordinariamente estrelado, como se o firmamento quisesse dar-lhe um presente.

Sentou-se no banco de pedra junto à porta e olhou para o céu, lembrando-se de Sr. Ferraz do Dedo Grande.

"Que Deus te tenha em paz, meu querido... Se ao menos estivesses aqui" - sussurrou.

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De repente, ouviu um som que a fez sobressaltar.

Era o trote de cavalos, algo raro na aldeia.

Virou-se e viu, no caminho iluminado apenas pela lua, um velho carro de bois decorado com ramos de azevinho e lanternas.

No banco da frente, um homem idoso, de barba branca e um sorriso gentil, segurava as rédeas. Ao lado dele, um jovem com roupas simples segurava um saco volumoso.

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"Senhora Clementina Panoquinhas!" - chamou o homem, com uma voz calorosa.

"Será que podemos entrar? Temos uma mensagem para si."

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Clementina Panoquinhas, surpresa, assentiu e abriu a porta, embora o coração lhe batesse forte.

Assim que os dois homens entraram, a casa pareceu aquecer de forma inexplicável.

O homem mais velho entregou-lhe um pequeno embrulho, envolto em papel pardo e uma fita vermelha.

Clementina Panoquinhas, com as mãos trémulas, abriu-o e encontrou uma fotografia antiga dela e de Sr. Ferraz do Dedo Grande, tirada no Natal de 1953.

Lá estava ela, jovem e sorridente, segurando um bebé nos braços, enquanto Sr. Ferraz do Dedo Grande olhava para ela com ternura.

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"Mas... como conseguiram isto?"- perguntou, com os olhos marejados de lágrimas.

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"Este é o espírito do Natal, minha senhora" - respondeu o homem, com um sorriso enigmático.

"Um presente para lembrar que o amor nunca se perde, mesmo quando aqueles que amamos estão longe, ou já partiram."

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Antes que Clementina Panoquinhas pudesse dizer mais alguma coisa, os dois visitantes despediram-se e desapareceram tão rapidamente quanto tinham chegado.

Clementina Panoquinhas ficou na porta, segurando a fotografia contra o peito, com o coração inundado de gratidão e paz.

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Naquela noite, enquanto a aldeia dormia, Clementina Panoquinhas colocou a fotografia junto ao presépio.

Sentiu, pela primeira vez em muito tempo, que não estava sozinha.

O Natal de Frescura d’Água tornara-se mais brilhante, como se o céu e a terra conspirassem para lembrar que a magia do amor e da partilha nunca desaparece.

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E assim, na madrugada fria, as estrelas pareciam sorrir.

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A TODOS UM BOM e SANTO NATAL

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
28
Nov24

"É o carvalho: ereto, curvo ou em S..." 


Mário Silva Mário Silva

"É o carvalho: ereto, curvo ou em S..." 

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A fotografia "É o carvalho: ereto, curvo ou em S..." de Mário Silva convida-nos a uma imersão profunda na natureza, mais precisamente num bosque.

A imagem, com a sua composição cuidadosa e jogo de luz e sombra, revela um olhar atento do fotógrafo para os detalhes e a beleza da natureza.

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Os carvalhos, como o título sugere, são os protagonistas da fotografia.

As suas formas variadas - eretos, curvos ou em forma de "S" - conferem à imagem um dinamismo e uma expressividade particulares.

As diferentes formas das árvores podem ser interpretadas como metáforas para a vida, com as suas curvas e contorções representando os desafios e as adaptações que enfrentamos ao longo do tempo.

A floresta, com as suas árvores imponentes e o chão coberto de folhas secas, cria uma atmosfera de mistério e tranquilidade.

A densidade da vegetação sugere um ambiente selvagem e intocado, um refúgio da agitação da vida moderna.

A luz, que se filtra através das folhas das árvores, cria um jogo de sombras e contrastes que confere à imagem uma profundidade e uma tridimensionalidade particulares.

A luz suave e difusa, característica das horas crepusculares, envolve a floresta em um halo de mistério e poesia.

A paleta de cores, predominantemente verde e castanho, com toques de amarelo e laranja, é característica da estação outonal.

As cores quentes e terrosas transmitem uma sensação de calor e aconchego, enquanto os tons de verde evocam a vitalidade da natureza.

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A composição da fotografia é equilibrada e harmoniosa.

A linha diagonal formada pelos troncos das árvores guia o olhar do observador através da imagem, criando uma sensação de movimento e dinamismo.

A técnica fotográfica utilizada por Mário Silva é impecável.

A nitidez da imagem, a profundidade de campo e a correta exposição demonstram um grande domínio técnico por parte do fotógrafo.

A fotografia pode ser interpretada de diversas formas, dependendo da sensibilidade de cada observador.

No entanto, é possível identificar alguns temas recorrentes, como a relação entre o homem e a natureza, a passagem do tempo e a beleza da imperfeição.

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A floresta, ao longo da história, tem sido um símbolo da natureza, da vida e da espiritualidade.

A floresta é um lugar de refúgio, um espaço onde nos podemos conectar com a nossa essência e encontrar um sentido mais profundo para a vida.

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Em conclusão, a fotografia "É o carvalho: ereto, curvo ou em S..." é uma obra que nos convida a uma reflexão sobre a nossa relação com a natureza e com nós mesmos.

Através de uma linguagem visual poética e precisa, Mário Silva captura a beleza e a complexidade da floresta, convidando-nos a apreciar a natureza na sua forma mais pura e autêntica.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
25
Nov24

Conto: "A Tarde de Outono de Tico" - Cartaxo-Comum (Saxicola rubicola)


Mário Silva Mário Silva

 

Conto da fauna transmontana

"A Tarde de Outono de Tico"

Cartaxo-Comum (Saxicola rubicola)

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O sol de fim de tarde lançava raios dourados através das copas das árvores na floresta de Trás-os-Montes.

Tico, um pequeno cartaxo-comum de peito laranja vibrante e cabeça preta lustrosa, estava empoleirado num galho nodoso de um velho carvalho.

O ar estava fresco, com uma leve brisa que fazia as folhas secas dançarem no chão da floresta, criando um tapete multicolorido de tons de vermelho, amarelo e castanho.

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Tico observava atentamente o mundo ao seu redor, com os seus olhos brilhantes captando cada detalhe.

O crepitar das folhas secas sob as patas de pequenos animais, o suave murmurar de um riacho próximo e o ocasional pio distante de uma coruja compunham a sinfonia da floresta.

O cheiro de terra húmida e fungos misturava-se com o aroma adocicado das últimas frutas do outono.

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Sempre curioso e fascinado pelas mudanças sazonais, Tico decidiu aventurar-se mais profundamente na floresta.

Planou graciosamente do seu poleiro, com as suas asas cortando o ar fresco do outono.

Enquanto voava, os seus sentidos aguçados captavam uma miríade de estímulos: o aroma pungente de folhas em decomposição, o som suave de pinhas caindo no chão macio da floresta, a sensação do ar frio contra suas penas.

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De repente, uma cena incomum capturou a atenção de Tico.

Pousando num galho baixo, ele observou um ouriço-cacheiro atarefado, armazenando maçãs silvestres numa pequena cavidade entre as raízes de uma árvore antiga.

O ouriço movia-se com determinação e os seus espinhos brilhavam sob a luz dourada do sol poente.

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Não muito longe, um esquilo vermelho observava a cena com olhos ávidos.

Com movimentos furtivos, o esquilo aproximou-se, claramente interessado nas suculentas maçãs que o ouriço estava a guardar.

O ouriço, percebendo a aproximação do intruso, enrolou-se numa bola espinhosa, protegendo o seu precioso armazenamento.

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Tico observava, fascinado, a dinâmica entre os dois animais.

O esquilo, ágil e astuto, tentava encontrar uma brecha na defesa do ouriço.

Por sua vez, o ouriço mantinha-se firme, determinado a proteger as suas provisões para o inverno que se aproximava.

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Movido por um impulso de compaixão, Tico decidiu intervir.

Voou até uma macieira próxima e, com o seu bico afiado, começou a bicar algumas maçãs maduras, fazendo-as cair no chão perto do esquilo.

Em seguida, chilreou melodiosamente, como se estivesse a explicar sua ideia: havia maçãs suficientes para todos, sem a necessidade de conflito.

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O ouriço e o esquilo ficaram momentaneamente paralisados, surpresos com a inesperada intervenção do pequeno pássaro.

Os seus olhares passavam de Tico para as maçãs caídas, e de volta para Tico, com uma mistura de confusão e curiosidade.

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Lentamente, o esquilo aproximou-se das maçãs que Tico havia derrubado, enquanto o ouriço, cautelosamente, desenrolava-se da sua posição defensiva.

A tensão no ar dissipou-se gradualmente, substituída por uma atmosfera de entendimento mútuo.

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Tico observava com satisfação enquanto o esquilo começava a comer uma das maçãs e o ouriço voltava a organizar seu armazenamento.

O seu pequeno ato de bondade havia transformado um potencial conflito numa cena de coexistência pacífica.

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Com o sol pondo-se no horizonte, pintando o céu com tons de laranja e rosa, Tico alçou voo de volta para o seu ninho, levando consigo a lembrança calorosa de uma tarde bem vivida e a satisfação de ter feito a diferença no seu pequeno canto da floresta.

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Conto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
22
Nov24

"A Bruxa de Pedra" – conto fantástico do lendário de Águas Frias – Chaves – Portugal (1ª parte)


Mário Silva Mário Silva

"A Bruxa de Pedra"

conto fantástico do lendário de Águas Frias –

Chaves – Portugal

1ª parte

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Nas profundezas da região montanhosa de Trás-os-Montes, em Portugal, uma pequena aldeia repousava pacificamente, cercada por vales verdejantes e cumes rochosos que desafiavam o céu.

Ali, o ritmo da vida seguia um compasso antigo, ditado pelas estações e pelos ciclos da natureza. As ruas de pedra testemunhavam o passar dos séculos, enquanto os habitantes cultivavam a terra com mãos calejadas, preservando tradições que haviam sido transmitidas de geração em geração.

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No meio dessa tapeçaria rural, erguia-se uma formação rochosa singular, uma fraga imponente que parecia vigiar a aldeia com um olhar pétreo.

A sua silhueta era esculpida pelas forças da natureza, modelada ao longo de eras por ventos implacáveis e chuvas incessantes.

E, como se por uma brincadeira caprichosa do destino, o seu perfil lembrava um rosto humano, com traços severos e uma expressão austera.

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Os habitantes locais chamavam-na de "A Bruxa de Pedra", e a sua presença dominava tanto a paisagem quanto as histórias que se contavam ao redor das lareiras nas noites frias.

Ao cair da noite, quando as famílias se reuniam em torno do calor acolhedor das lareiras, as vozes dos mais velhos se erguiam, repletas de mistérios e segredos ancestrais.

Era nessas ocasiões que a lenda da "Bruxa de Pedra" ganhava vida, transmitida de boca em boca, como um tesouro precioso a ser guardado e compartilhado.

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Alguns contavam que, em tempos imemoriais, uma poderosa feiticeira havia caminhado por aquelas terras, dominando os elementos com os seus feitiços e invocações.

A sua magia era tão intensa que despertava tanto temor quanto admiração nos corações dos aldeões.

Diziam que, num ato de arrogância, ela ousou desafiar as forças da natureza, tentando roubar os segredos mais profundos da terra.

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Como punição pela sua ousadia, a feiticeira foi transformada em pedra pelo próprio poder que buscava dominar.

O seu corpo petrificado ergueu-se como uma sentinela silenciosa, condenada a vigiar eternamente a aldeia que um dia ameaçou subjugar com a sua magia sombria.

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Outros, no entanto, sussurravam que a própria bruxa havia escolhido aquela forma rochosa, renunciando à sua humanidade em troca de uma existência imortal.

Segundo essas histórias, ela havia metamorfoseado-se em pedra para vigiar perpetuamente a aldeia, protegendo-a de ameaças ocultas e preservando os mistérios da terra que tanto amava.

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Enquanto as histórias sobre a "Bruxa de Pedra" ecoavam pelas ruas estreitas da aldeia, uma jovem chamada Marinela bebia avidamente cada palavra, permitindo que a sua imaginação fosse alimentada por essas narrativas fantásticas.

Com apenas doze anos, ela já se havia tornado uma depositária dessas lendas, guardando-as como tesouros preciosos no seu coração.

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Marinela era uma criança curiosa, com olhos brilhantes que pareciam refletir a própria magia da terra.

Ela cresceu ouvindo as histórias contadas pela sua avó, uma mulher sábia que conhecia todos os segredos da aldeia e os ensinamentos antigos que haviam sido passados de geração em geração.

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À noite, quando a lua cheia banhava a aldeia com sua luz prateada, Marinela sentava-se aos pés da sua avó, hipnotizada pelas narrativas que fluíam dos seus lábios.

Ela ouvia atentamente as descrições da feiticeira poderosa que desafiou as forças da natureza, ou da bruxa que escolheu uma forma rochosa para vigiar eternamente a aldeia.

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Cada detalhe, cada nuance dessas lendas, era cuidadosamente absorvido por Marinela, que as guardava na sua mente como pequenas joias preciosas.

Ela sonhava em explorar os mistérios que envolviam a "Bruxa de Pedra", imaginando-se como uma intrépida aventureira desvendando os segredos daquela formação rochosa enigmática.

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Segundo alguns anciãos, em tempos remotos, uma feiticeira de poder inigualável havia percorrido aquelas terras, dominando os elementos com sua magia antiga.

O seu conhecimento era tão vasto que ela ousou desafiar as próprias forças da natureza, buscando roubar os segredos mais profundos da terra.

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Essa ousadia, no entanto, não passou despercebida pelas entidades que governavam o equilíbrio do mundo natural.

Como punição pela sua arrogância, a feiticeira foi transformada em pedra, seu corpo petrificado erguendo-se como um monumento à sua ambição desmedida.

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Outras vozes, no entanto, contavam uma história diferente.

Elas sussurravam que a própria bruxa havia escolhido aquela forma rochosa, renunciando à sua humanidade em troca de uma existência imortal.

Segundo essas narrativas, ela havia metamorfoseado-se em pedra para vigiar perpetuamente a aldeia, protegendo-a de ameaças ocultas e preservando os mistérios da terra que tanto amava.

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Algumas variações dessas lendas sugeriam que a bruxa havia sido uma guardiã benigna, enquanto outras a retratavam como uma força sombria e ameaçadora.

Independentemente da versão, todas essas histórias convergiam para a imponente fraga que dominava a paisagem, a sua silhueta esculpida pelo tempo e pelas forças da natureza.

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Marinela bebia avidamente cada uma dessas narrativas, permitindo que a sua imaginação fosse alimentada por essas lendas fantásticas.

Ela sonhava em desvendar os mistérios que envolviam a "Bruxa de Pedra", explorando cada nuance e cada detalhe que pudesse revelar a verdade por trás daquela formação rochosa enigmática.

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Descubra os segredos da "Bruxa de Pedra" e deixe-se encantar por esta região mágica, onde o passado e o presente se entrelaçam numa dança eterna de mistério e encantamento.

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(A estória continua … amanhã, se, entretanto, não houver algum encantamento que o impeça)

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva (com a colaboração e testemunho de Marinela)

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Mário Silva 📷

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