“Pela rua principal de Sobreira” – Águas Frias – Chaves – Portugal
Mário Silva Mário Silva
“Pela rua principal de Sobreira”
Águas Frias – Chaves – Portugal

Esta fotografia de Mário Silva capta um pequeno, mas profundamente característico, recanto da aldeia de Sobreira, em Águas Frias (Chaves), no Norte de Portugal.
A composição é dominada por uma antiga fachada rural, rústica e texturada, dividida em duas secções distintas.
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À esquerda, ergue-se uma parede de pedra irregular em tons quentes, banhada por uma luz solar que lhe confere um brilho dourado e acentua a robustez dos materiais de construção tradicionais.
À direita, a parede apresenta um reboco mais claro e desgastado, em contraste suave com a pedra.
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O ponto focal é a porta castanha-avermelhada, de aspeto metálico e simples, que se insere numa moldura de pedra.
Por cima desta porta, luxuriante e viva, cresce uma parreira (videira), com as suas folhas verdes a penderem de forma protetora sobre a entrada e a criarem uma coroa de vitalidade sobre o cenário de pedra antiga.
Esta vide sugere a tradição agrícola e a profunda ligação da vida rural à produção do vinho.
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A telha tradicional no topo da parede, os pequenos pormenores como o tubo de escoamento e a pequena janela, juntamente com a assinatura do autor, emolduram uma cena que exala a calma, a simplicidade e a durabilidade da vida no interior transmontano.
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A Parreira, a Pedra e a Porta – Os Elementos da Memória Rural Transmontana
A fotografia de Mário Silva, capturada na aldeia de Sobreira, em Águas Frias, não é apenas um retrato arquitetónico; é uma síntese visual dos valores e da cultura do Portugal rural e transmontano.
A imagem condensa três elementos centrais da identidade desta região: a pedra, a porta e a videira.
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A Pedra: A Fundação da Resiliência
A parede de pedra, fria e robusta, simboliza a resiliência e a antiguidade destas comunidades.
Construída com o material abundante da região – o granito –, estas fachadas testemunham séculos de vida, resistindo ao rigor do clima e à passagem do tempo.
Cada bloco irregular, iluminado pelo sol, conta a história de uma construção feita à mão, perfeitamente integrada no ambiente circundante.
É uma arquitetura de necessidade, mas também de profunda beleza.
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A Parreira: O Símbolo da Vida e do Sustento
Contrastando com a imobilidade da pedra, a parreira que se debruça sobre a porta traz vida, movimento e cor.
A videira é, historicamente, um pilar da economia e da cultura transmontana.
Crescer à entrada de casa não é apenas decorativo; é um símbolo de sustento, de sombra no verão e, sobretudo, da produção caseira do vinho.
Esta videira luxuriante representa a interdependência entre o homem e a terra, e o ciclo anual de trabalho, colheita e celebração.
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A Porta: O Limiar do Lar
O elemento central, a porta, é o portal entre o mundo público da rua e o santuário privado do lar.
A sua aparência simples e metálica sugere funcionalidade e proteção.
Numa rua principal de uma aldeia, a porta é o ponto de passagem onde se trocam as primeiras palavras do dia, onde o trabalho começa e onde o descanso se encontra.
É o coração visível da vida familiar, emoldurado pelo legado da pedra e pela promessa da videira.
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A fotografia, ao isolar e realçar estes três elementos, captura a essência de Sobreira e de muitas outras aldeias do interior: um lugar onde a tradição se mantém firme na pedra, a subsistência floresce no verde da videira, e o calor da vida reside logo após o humilde limiar da porta.
É um convite à reflexão sobre a autenticidade e a beleza duradoura do Portugal profundo.
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Texto & Fotografia: ©MárioSilva
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