"A parreira e Águas Frias" - Chaves - Portugal
Mário Silva Mário Silva
"A parreira e Águas Frias"
Chaves - Portugal

A fotografia de Mário Silva é uma paisagem que enquadra a vista de uma aldeia a partir de uma vinha.
A imagem está dividida em dois planos distintos: o primeiro plano é dominado por um elemento natural em “bokeh” (desfocado), nomeadamente os ramos de uma parreira com folhas em tons de vermelho-vivo e ocre de outono.
Este filtro natural emoldura a paisagem no centro da composição.
.
O segundo plano, em foco, revela a aldeia de Águas Frias, caracterizada por um aglomerado de casas tradicionais, com paredes brancas e telhados de barro avermelhado, que se aninham na encosta.
O casario estende-se pela colina, em harmonia com o relevo.
O fundo é montanhoso, coberto por vegetação densa.
A luz suave da manhã ilumina as fachadas, conferindo-lhe uma sensação de paz e integração rural.
.
A Parreira e a Aldeia: O Vínculo Indissolúvel entre a Vinha e a Vida Rural Transmontana
A fotografia de Mário Silva, que enquadra a paisagem de Águas Frias através do manto outonal de uma parreira, é uma poderosa metáfora do Norte de Portugal: a vida da aldeia é inseparável do ciclo da vinha.
A parreira e o casario não são apenas elementos vizinhos, mas partes de um mesmo organismo, onde a cultura e a economia se constroem em torno da terra.
.
A Vinha: O Espelho da Vida em Trás-os-Montes
O primeiro plano, dominado pelas folhas da parreira em tons de fogo, simboliza a época da colheita e do repouso.
As cores intensas — do vermelho vibrante ao castanho-ocre — atestam o final da vindima, a altura mais importante do ano agrícola.
Em Trás-os-Montes, a viticultura é uma herança ancestral; a vinha não é cultivada em extensões industriais, mas em socalcos e parcelas pequenas, muitas vezes adjacentes ou mesmo dentro das aldeias.
A parreira é, assim, o símbolo do trabalho e da subsistência das gentes de Águas Frias.
.
A Aldeia: Um Nicho de Permanência
A aldeia de Águas Frias, visível ao longe, é o ninho da comunidade.
As casas de paredes claras e telhados vermelhos, perfeitamente integradas na encosta, mostram a arquitetura tradicional que privilegia a funcionalidade e a adaptação ao terreno.
A sua disposição compacta sugere a união e a dependência mútua dos seus habitantes.
A aldeia e a vinha coexistem num ecossistema onde a matéria-prima (a uva) é transformada em produto (o vinho), que, por sua vez, sustenta a vida da comunidade.
.
A Perspetiva da Emoção
Ao escolher enquadrar a aldeia através da parreira, o fotógrafo estabelece uma perspetiva emocional.
O “bokeh” das folhas funciona como um véu de memória, sugerindo que a visão que se tem da vida rural é inseparável da sua produção e da sua história.
É um olhar que valoriza o sacrifício e a beleza do ciclo natural.
A parreira não é apenas uma planta; é a moldura viva da tradição transmontana.
.
Texto & Fotografia: ©MárioSilva
.
.






































































