"O tanque de água esverdeada e os jarros brancos" e uma estoriazinha
Mário Silva Mário Silva
"O tanque de água esverdeada e os jarros brancos"
e uma estoriazinha
Esta fotografia de Mário Silva, intitulada "O tanque de água esverdeada e os jarros brancos", retrata um canto da natureza que combina elementos de beleza e um certo abandono.
Em primeiro plano, destacam-se vários jarros brancos (Zantedeschia aethiopica), com as suas elegantes espatas brancas e folhas verdes vibrantes, que crescem abundantemente à beira de um tanque.
A composição dos jarros, alguns em plena floração e outros mais jovens, confere um toque de frescura e vida à cena.
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O tanque ocupa grande parte do centro da imagem e apresenta uma superfície de água completamente coberta por algas esverdeadas, criando uma textura densa e um tom uniforme de verde-lima.
As paredes do tanque são visíveis, com musgo e sinais de humidade e tempo.
Ao fundo, para além do tanque, observa-se um terreno elevado, possivelmente um campo ou terreno agrícola, com vegetação de tons castanhos e verdes.
Uma pequena parte de uma árvore ou arbusto com folhagem verde escura é visível no canto superior direito, adicionando um elemento vertical.
A luz na fotografia sugere um dia claro, realçando as cores e as texturas.
A imagem convida à reflexão sobre a coexistência entre a beleza da flora e a natureza que lentamente reclama as estruturas criadas pelo homem.
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A Estória: O Segredo do Velho Tanque
Na velha propriedade dos avós, entrelaçada com as raízes de um passado esquecido, jazia um tanque de água esverdeada.
Não era um verde vibrante de floresta, mas um verde leitoso e denso, como um tapete de musgo sobre as águas paradas, um espelho de tempo e negligência.
As suas paredes de pedra, outrora fortes e limpas, agora estavam cobertas por um manto húmido de líquenes, e pequenas fissuras denunciavam os anos de inverno e verão.
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Para os netos que visitavam a casa nas férias grandes, o tanque era um mistério proibido.
"Não se aproximem!" - alertava a avó, com um brilho nos olhos que era metade preocupação, metade memória.
Diziam que as suas águas eram profundas e que o lodo no fundo escondia segredos.
Mas o que mais prendia o olhar eram os jarros brancos que, como pequenas e elegantes sentinelas, cresciam à beira do tanque.
As suas flores, de um branco imaculado, contrastavam dramaticamente com o verde estagnado, parecendo anjos caídos que velavam sobre algo.
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Entre os jarros, havia um particularmente belo, com a sua haste longa e a sua espata branca a desdobrar-se em perfeição.
Era o jarro favorito de Ana, a neta mais curiosa.
Ela passava horas sentada perto dele, imaginando o que o tanque esverdeado poderia esconder.
Seria um portal para um mundo subaquático?
Um tesouro de moedas antigas que o avô, outrora um homem de muitos contos, teria deixado cair por descuido?
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Uma tarde, enquanto a brisa soprava sussurrando segredos entre as folhas das árvores, Ana decidiu desafiar a proibição da avó.
Não para entrar no tanque, mas para se aproximar um pouco mais, para sentir o cheiro da água parada, para tocar a pétala suave do seu jarro favorito.
Ao esticar a mão, os seus dedos roçaram algo duro e frio, escondido entre as raízes dos jarros. Era uma pequena caixa de madeira, envelhecida pelo tempo, quase fundida com a terra.
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Com o coração a bater forte, Ana abriu a caixa.
Dentro, não havia ouro nem joias, mas um conjunto de cartas amareladas e um pequeno medalhão de prata com uma gravação desvanecida: "Para a minha amada L. no nosso lugar secreto."
As cartas eram do seu avô para a avó, escritas nos tempos de juventude, falando de um amor proibido e encontros furtivos junto a este mesmo tanque, que então seria cristalino e convidativo.
O tanque, afinal, não guardava tesouros de piratas, mas o tesouro mais valioso de todos: a história de um amor puro e secreto que floresceu, tal como os jarros brancos, à margem da vida e do tempo.
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Ana fechou a caixa com um sorriso nos lábios.
O tanque esverdeado já não era um mistério assustador, mas um santuário de memórias, um testemunho silencioso de um amor que resistiu ao tempo, assim como os jarros brancos resistiam à água turva, florindo em beleza e esperança.
Ela percebeu que, às vezes, os maiores segredos não são os que se escondem em profundidades escuras, mas aqueles que se revelam na simplicidade e na beleza de um canto esquecido do mundo.
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Texto & Fotografia: ©MárioSilva
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