“Coruja-do-mato (Strix aluco)” ou coruja-parda
Mário Silva Mário Silva
“Coruja-do-mato (Strix aluco)” ou coruja-parda
A coruja-do-mato (Strix aluco), também conhecida como coruja-parda, é a espécie retratada na fotografia de Mário Silva.
Estas aves noturnas, com os seus olhos penetrantes e voo silencioso, fascinam a humanidade há milénios, gerando uma rica tapeçaria de mitos e, claro, muitas realidades científicas.
.
Desde a antiguidade, as corujas têm sido figuras proeminentes no folclore de diversas culturas, muitas vezes associadas a dualidades e simbolismos opostos:
-
Na mitologia grega, a coruja era o animal sagrado da deusa Atena, deusa da sabedoria, da guerra estratégica e das artes.
Esta associação perdura até hoje, sendo a coruja frequentemente utilizada como símbolo de inteligência, erudição e estudo.
Acredita-se que a sua capacidade de ver no escuro simbolize a capacidade de enxergar além das aparências, desvendando verdades ocultas.
.
Paradoxalmente, em muitas outras culturas, especialmente em algumas tradições europeias e latino-americanas, a coruja é vista como um presságio de morte, doença ou desgraça.
O seu piar noturno, muitas vezes percebido como um lamento, era interpretado como um anúncio de fatalidade.
A crença de que a coruja "chama a alma" dos doentes ainda persiste em algumas regiões.
.
Na Idade Média, a coruja foi frequentemente associada a bruxas, magias negras e rituais noturnos.
A sua vida noturna e hábitos discretos contribuíram para essa reputação, tornando-a um símbolo do misterioso e do sobrenatural.
.
Contudo, nem todos os mitos são negativos.
Em algumas culturas, a coruja era vista como um amuleto de proteção contra maus espíritos ou um portador de boa sorte, especialmente para aqueles que buscavam conhecimento.
.
Longe dos véus do mito, a ciência revela-nos a verdadeira natureza das corujas, criaturas notáveis com adaptações impressionantes.
A mais notável adaptação das corujas é a sua visão noturna superdesenvolvida.
Os seus olhos grandes e tubulares, que não se movem nas órbitas como os nossos, são projetados para captar o máximo de luz disponível.
Para compensar a falta de mobilidade ocular, as corujas conseguem girar a cabeça em até 270 graus, proporcionando um campo de visão incrivelmente amplo.
Além da visão, a audição das corujas é extremamente aguçada e direcional.
A face em forma de disco atua como um coletor de som, e a assimetria das aberturas auditivas de muitas espécies permite-lhes localizar presas com precisão milimétrica, mesmo na escuridão total.
.
As penas das asas das corujas possuem uma estrutura especial que permite um voo praticamente inaudível.
As bordas das penas são serrilhadas, quebrando o fluxo de ar e eliminando o ruído que normalmente acompanharia o bater das asas.
Essa adaptação é crucial para a caça, permitindo que se aproximem das presas sem serem detetadas.
.
As corujas são predadores noturnos por excelência.
A sua dieta consiste principalmente de pequenos mamíferos (roedores, musaranhos), aves, insetos e, ocasionalmente, anfíbios e répteis.
Desempenham um papel vital no controlo de pragas em ecossistemas naturais e agrícolas.
.
A maioria das espécies de corujas é solitária e territorial, defendendo rigorosamente o seu espaço de caça e nidificação.
A coruja-do-mato, por exemplo, é uma espécie sedentária que ocupa o mesmo território durante toda a sua vida.
.
As corujas não constroem ninhos elaborados.
Geralmente utilizam cavidades em árvores (como é o caso da coruja-do-mato, que se adapta bem a buracos em árvores velhas), tocas abandonadas, fendas em rochas ou até mesmo edifícios.
O período de reprodução varia de acordo com a espécie e a região, e os pais dedicam-se intensamente ao cuidado dos filhotes.
.
As corujas habitam uma vasta variedade de “habitats”, desde florestas densas e áreas rurais até parques urbanos e jardins.
A sua capacidade de se adaptar a diferentes ambientes demonstra a sua resiliência e sucesso evolutivo.
.
Em suma, enquanto os mitos sobre as corujas revelam-nos a riqueza da imaginação humana e a necessidade de atribuir significado ao mundo natural, as realidades científicas oferecem-nos uma compreensão profunda e igualmente fascinante dessas aves noturnas, verdadeiras mestras da noite.
A fotografia de Mário Silva é um testemunho da beleza e do mistério que as corujas continuam a inspirar.
.
Texto & Fotografia: ©MárioSilva
.
.