Igreja de Nossa Senhora da Assunção – Tinhela (Valpaços – Portugal)
Mário Silva Mário Silva
Igreja de Nossa Senhora da Assunção
Tinhela (Valpaços – Portugal)

A fotografia de Mário Silva, intitulada "Igreja de Nossa Senhora da Assunção" em Tinhela, Valpaços, Portugal, apresenta a fachada principal de uma igreja de características rurais, construída em blocos de granito de cor clara.
A igreja é um exemplo da arquitetura religiosa tradicional portuguesa.
.
A fachada principal é dominada por um portal de entrada de madeira, pintado num tom alaranjado-avermelhado vibrante, que contrasta com a pedra clara.
Acima do portal, encontra-se uma pequena rosácea ou óculo circular, que serve como uma fonte de luz para o interior.
A fachada é coroada por uma sineira de dupla arcada, típica da região, onde se podem observar dois sinos pendurados.
No topo da sineira, uma cruz latina remata a estrutura, simbolizando a fé cristã.
Pequenos pináculos decorativos adornam as extremidades superiores da fachada.
.
Em frente à igreja, um largo pavimentado com lajes de pedra estende-se, e ao centro, um tapete de flores coloridas (vermelhas, brancas, amarelas e verdes) forma um caminho que se dirige à entrada da igreja, sugerindo a celebração da festividade religiosa, como o Corpus Christi.
Ao fundo, para além da igreja, vislumbram-se construções rústicas com telhados de telha, integrando a igreja no ambiente da aldeia.
O céu é azul com nuvens brancas, e um pássaro solitário pode ser visto a voar à direita da sineira, adicionando um elemento dinâmico à cena.
A imagem transmite uma sensação de tradição, fé e celebração comunitária.
.
A Igreja de Nossa Senhora da Assunção, em Tinhela, Valpaços, é um exemplar notável de arquitetura religiosa que, apesar da sua aparente simplicidade, incorpora elementos do período maneirista, embora com uma base de planimetria tradicional portuguesa.
.
A igreja segue a organização espacial comum na arquitetura religiosa portuguesa, caracterizada por uma nave única e uma capela-mor mais estreita, mas da mesma altura da nave.
Esta configuração linear e hierárquica é uma herança das tipologias medievais e românicas, que persistiram e foram adaptadas ao longo dos séculos.
A simplicidade na planimetria reflete a funcionalidade e, muitas vezes, a economia de recursos, comum em contextos rurais.
.
A nave única proporciona um espaço congregacional unificado, favorecendo a audição e a participação dos fiéis.
A capela-mor, mais estreita e com a mesma altura, cria uma transição suave e uma sensação de continuidade entre o espaço dos fiéis e o espaço sagrado do altar-mor.
Esta disposição, embora tradicional, permite no Maneirismo uma exploração da perspetiva e da profundidade, mesmo que de forma contida.
.
A menção de tetos de madeira no interior é um elemento comum na arquitetura religiosa popular e maneirista portuguesa.
A madeira, material abundante na região, oferece não só uma solução construtiva prática e económica, mas também contribui para uma acústica mais suave e para um ambiente interior mais acolhedor e menos austero do que as abóbadas de pedra.
Os tetos de madeira poderiam ser em forma de caixotões, ou mais simples, em forma de quilha de barco, ou abobadados, por vezes pintados ou decorados, adicionando um toque artístico ao interior.
.
A iluminação interior é um aspeto crucial na arquitetura religiosa.
Na Igreja de Tinhela, a luz provém do vão axial (o óculo circular acima do portal principal, visível na fotografia) e de vãos laterais.
Esta estratégia de iluminação é típica, permitindo que a luz natural realce o altar-mor e crie um ambiente de recolhimento.
No Maneirismo, a luz era frequentemente manipulada para criar efeitos dramáticos e enfatizar certos pontos focais, mesmo em igrejas modestas.
.
A presença de uma sacristia adossada à fachada lateral direita é uma adição funcional padrão em muitas igrejas.
A sacristia serve como espaço de preparação para as cerimónias e para guardar os paramentos e utensílios litúrgicos.
A sua localização lateral é prática e comum, integrando-se discretamente na volumetria geral do edifício.
.
Embora a imagem da fachada principal apresente uma simplicidade rural, os elementos maneiristas podem ser subtis.
O Maneirismo, como transição entre o Renascimento e o Barroco, tendia a uma maior sobriedade e a uma busca por uma beleza "culta" e por vezes mais tensa.
Na Igreja de Tinhela, os elementos como o óculo redondo, a composição da sineira e a forma como a pedra é trabalhada (sem excesso de ornamentação, mas com precisão) podem refletir uma influência maneirista na proporção e na geometria.
A robustez da pedra e a aparente ausência de ornamentos barrocos exuberantes reforçam esta característica.
A solidez e a volumetria cúbica do corpo da igreja, com o contraste da sineira mais leve, também podem ser interpretadas sob uma ótica maneirista de busca de equilíbrios e contrastes formais.
.
Em suma, a Igreja de Nossa Senhora da Assunção em Tinhela é um belo exemplo de como a arquitetura maneirista se manifestou em contextos rurais portugueses, adaptando as suas premissas de sobriedade formal e busca de proporção a uma planimetria tradicional e aos materiais locais, resultando num edifício de grande dignidade e beleza intemporal.
.
Texto & Fotografia: ©MárioSilva
.
.

