"O Homem, o Cavalo e o Arado"
Mário Silva Mário Silva
"O Homem, o Cavalo e o Arado"
A fotografia de Mário Silva capta uma cena intemporal que evoca a dura, mas profunda, ligação entre o ser humano, o animal de trabalho e a terra.
Esta imagem é um poderoso memorando de tradições rurais que estão em rápido declínio em muitas partes do mundo, incluindo Portugal.
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A cena retratada – um homem a arar a terra com a ajuda de um animal (seja um cavalo, uma mula ou um boi) – é um símbolo de uma era em que a agricultura dependia fortemente da força animal e do trabalho manual.
Essa prática, que durante séculos foi o pilar da subsistência rural, está a ser progressivamente substituída por métodos mais mecanizados e industrializados.
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Algumas das tradições rurais que se encontram em vias de desaparecimento incluem:
- O uso de animais de tração (bois, cavalos, mulas) para arar, gradar, semear e transportar produtos agrícolas era uma prática comum.
Estes animais não eram apenas uma força de trabalho, mas parte integrante da família e da comunidade.
A sua substituição por tratores e máquinas agrícolas mais eficientes e rápidas tornou o arado puxado por animal uma raridade, muitas vezes limitado a terrenos de difícil acesso ou a pequenas propriedades que mantêm métodos tradicionais.
A perda desta prática significa também a perda do conhecimento e das técnicas associadas ao maneio e treino destes animais para o trabalho agrícola.
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- Muitas comunidades rurais viviam da agricultura de sequeiro e da produção para autoconsumo, com pequenos excedentes para venda em mercados locais.
As terras eram trabalhadas para produzir uma variedade de culturas essenciais à alimentação da família e do gado.
Com a modernização e a especialização da agricultura, muitas destas pequenas explorações foram abandonadas ou convertidas para culturas mais rentáveis, perdendo-se a diversidade de produções e a autonomia alimentar local.
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- Embora ainda existam em algumas regiões, as práticas de pastoreio tradicionais, incluindo a transumância (movimento sazonal do gado entre pastagens de verão e inverno), diminuíram drasticamente.
A vida do pastor, com a sua sabedoria sobre o território, o clima e o comportamento animal, está em risco de se perder à medida que os rebanhos diminuem e as explorações se tornam mais intensivas e fechadas.
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- Os agricultores e pastores de antigamente possuíam um conhecimento profundo e empírico do ambiente natural – os padrões climáticos, os ciclos da lua e a fertilidade da terra.
Este saber, transmitido de geração em geração, era fundamental para a tomada de decisões agrícolas.
Com a dependência de tecnologias e previsões meteorológicas modernas, grande parte deste conhecimento ancestral está a desaparecer.
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- As comunidades rurais eram frequentemente baseadas em redes de ajuda mútua, onde vizinhos e familiares se ajudavam mutuamente nas tarefas agrícolas mais pesadas (como as mondas, as colheitas ou as desfolhadas).
Estes momentos eram também importantes para a coesão social e a transmissão oral de histórias e canções.
A mecanização e a diminuição da população rural enfraqueceram estes laços comunitários.
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- A manufatura de ferramentas agrícolas, cestos, utensílios de madeira e outros objetos essenciais para a vida no campo era uma parte integrante da economia rural.
Os artesãos rurais, com os seus conhecimentos e técnicas transmitidos ao longo do tempo, são cada vez mais raros, e as ferramentas tradicionais são substituídas por equipamentos industriais.
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A fotografia de Mário Silva serve, assim, como um valioso registo de um passado recente, mas que se afasta rapidamente.
É um convite à reflexão sobre a importância de preservar, ainda que em registo, estas tradições que moldaram a paisagem, a cultura e a identidade das comunidades rurais durante séculos.
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Texto & Fotografia: ©MárioSilva
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