“Águas Frias - as casas, a igreja de perfil e a colina negra dos incêndios”
Mário Silva Mário Silva
“Águas Frias - as casas, a igreja de perfil
e a colina negra dos incêndios”

Esta fotografia de Mário Silva apresenta uma vista panorâmica de uma aldeia, Águas Frias, aninhada numa paisagem de colinas.
Em primeiro plano, destacam-se os telhados de terracota das casas e o volume de uma igreja, vista de perfil, com a sua torre sineira alta e estreita.
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O fundo da imagem é dominado por uma colina extensa, onde se nota o contraste brutal entre a vegetação verdejante e as áreas queimadas.
Estas manchas escuras, que a descrição chama de "colina negra dos incêndios", são uma cicatriz visível na paisagem.
A composição, que utiliza a torre da igreja como ponto focal vertical em contraste com a horizontalidade das colinas, é um retrato da vida rural na presença da ameaça da natureza.
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A Cicatriz da Paisagem: Fé, Comunidade e a Memória do Fogo
A fotografia de Mário Silva, "Águas Frias - as casas, a igreja de perfil e a colina negra dos incêndios", é um poderoso testemunho visual da realidade de muitas aldeias do interior de Portugal.
Mais do que um mero registo topográfico, a imagem fala sobre resiliência, fé e o impacto duradouro das catástrofes naturais.
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A Igreja: O Coração da Comunidade
No centro da composição, a igreja ergue-se acima dos telhados, simbolizando o coração e o espírito da comunidade.
Historicamente, a igreja é o ponto de encontro, o refúgio e o centro da identidade destas aldeias.
A sua presença imponente, com a torre a apontar para o céu, sugere uma fonte de força e esperança que permanece inabalável, mesmo quando a paisagem circundante é marcada pela destruição.
As casas, agrupadas à sua volta, representam a vida e o calor da família e da vizinhança.
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A Colina Negra: A Marca do Fogo
O elemento mais dramático da fotografia é o contraste entre a vida e o rasto da devastação.
A colina negra no horizonte é a memória palpável do fogo.
Não é apenas uma área queimada; é uma chamada de atenção de que o ecossistema e o modo de vida da comunidade estiveram em risco.
Em regiões como Trás-os-Montes, os incêndios florestais têm um impacto profundo que se estende para além da perda de vegetação, afetando a qualidade do solo, a fauna local e a economia rural.
O negro da colina torna-se, assim, um símbolo de vulnerabilidade e de luto ecológico.
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Um Retrato da Resiliência
O mérito desta fotografia reside na forma como justapõe estes dois mundos: a tranquilidade e a permanência da aldeia, com a efemeridade e a violência da natureza selvagem.
A vida, representada pelos telhados laranjas e a vegetação ainda verde, insiste em continuar perante a adversidade.
A imagem de Mário Silva é, em última análise, uma homenagem à resiliência das populações que, ano após ano, refazem as suas vidas e mantêm a sua fé no lugar que chamam de lar, por mais duras que sejam as "águas frias" do destino.
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Texto & Fotografia: ©MárioSilva
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