“Campo de futebol relvado, de erva seca” - Travancas – Chaves – Portugal
Mário Silva Mário Silva
“Campo de futebol relvado, de erva seca”
Travancas – Chaves – Portugal

Esta fotografia de Mário Silva, capturada em Travancas, Chaves, retrata um cenário que evoca a melancolia e o contraste entre o desporto e o abandono.
O plano principal é dominado por um campo coberto por erva alta e seca, em tons profundos de castanho-dourado e ocre, sugerindo o final do verão ou o avanço do Outono no interior transmontano.
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Em contraste com o tom da relva, destacam-se duas balizas de futebol em ferro, visivelmente enferrujadas e sem redes, que se erguem como esqueletos sobre o campo.
A primeira baliza, mais próxima e maior, é ladeada por arbustos.
A segunda, mais distante, reforça a profundidade da composição.
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O fundo da imagem é preenchido por uma paisagem montanhosa, suavemente ondulada, que se estende sob um céu dramático, pesado, com nuvens carregadas em tons de cinzento e amarelo-sujo.
A luz é difusa e quente, conferindo à cena uma atmosfera de quietude, isolamento e a memória de jogos passados.
O campo, outrora palco de atividade, surge agora como um monumento à pausa e à espera.
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O Relvado Seco e as Balizas Enferrujadas – O Futebol como Metáfora no Portugal Rural
O “campo de futebol relvado, de erva seca”, capturado em Travancas, Chaves, é muito mais do que um mero registo paisagístico; é uma profunda metáfora da vida e da memória nas aldeias do interior de Portugal.
A imagem evoca a dualidade entre a paixão comunitária e a realidade do despovoamento.
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O Templo do Desporto no Interior
Em comunidades pequenas, o campo de futebol – por mais rústico que seja – transcende a função desportiva.
É um verdadeiro templo social.
É o ponto de encontro de jovens, o palco de rivalidades amigáveis entre aldeias, e o espaço onde a identidade local se reforça a cada golo.
O “relvado” de erva seca, longe do glamour dos grandes estádios, representa a autenticidade e o engenho do futebol praticado na sua forma mais pura, em condições simples.
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As Balizas: Memória e Abandono
As balizas enferrujadas são o ponto focal dramático da fotografia.
A sua corrosão e a falta de redes simbolizam o passo do tempo e, inevitavelmente, o abandono.
O metal, castigado pelos Invernos e Verões, reflete a estagnação da atividade.
Estas balizas permanecem de pé, orgulhosas, mas vazias, a guardar a memória dos jogos, dos gritos de vitória e dos lamentos de derrota.
Elas representam a resistência de uma tradição que teima em não desaparecer, mesmo quando os jogadores já partiram.
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A Paisagem e a Quietude Transmontana
O cenário de montanhas distantes e o céu carregado enquadra o campo numa quietude quase solene.
A paisagem vasta e rural reforça o sentido de isolamento destas comunidades.
A cena, capturada no silêncio da tarde, convida à reflexão sobre o ciclo de vida das aldeias: a vitalidade trazida pelo verão e pelos regressos, e a pausa melancólica trazida pelo Outono e o Inverno, quando a vida comunitária se recolhe e o campo espera pacientemente pela próxima estação.
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Em Travancas, como em muitas outras aldeias de Chaves, este campo de futebol é uma cápsula do tempo, celebrando a paixão inata pelo jogo enquanto lamenta, silenciosamente, os filhos da terra que já não vêm chutar a bola.
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Texto & Fotografia: ©MárioSilva
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