"O baloiço do Arquinho" e a estória: “O Baloiço dos Recomeços de Agosto”
Mário Silva Mário Silva
"O baloiço do Arquinho"
... e a estória:
“O Baloiço dos Recomeços de Agosto”

A fotografia de Mário Silva, intitulada "O baloiço do Arquinho", apresenta um baloiço de madeira suspenso entre dois troncos de árvores robustos e de cor acastanhada.
As árvores, com as suas cascas rugosas e escuras, servem como pilares naturais para a estrutura do baloiço, que consiste num assento de tábuas de madeira e correntes metálicas.
O baloiço encontra-se ligeiramente inclinado e vazio, sugerindo um momento de quietude ou à espera de ser usado.
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Acima do baloiço, entre os dois troncos, uma placa de madeira escura exibe a inscrição "BALOIÇO DO ARQUINHO" em letras brancas, ladeada por duas silhuetas de pássaros, adicionando um toque decorativo e informativo.
O chão, sob o baloiço, é de terra batida, de tonalidade clara e uniforme, com algumas irregularidades.
No topo da placa, um pássaro, possivelmente uma pomba ou rola, está empoleirado, olhando para a frente, o que adiciona um elemento de vida à cena.
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A iluminação da fotografia é suave, com tons ligeiramente sépia ou amarelados, que conferem uma atmosfera nostálgica e tranquila.
A composição é simples e centrada, transmitindo uma sensação de calma, infância e a passagem do tempo num ambiente natural e convidativo.
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A Estória: O Baloiço dos Recomeços de Agosto
O "Baloiço do Arquinho", como orgulhosamente anunciava a placa de madeira entre as duas árvores centenárias, era mais do que um simples baloiço.
Era um portal, um confidente silencioso, um guardião de segredos e de recomeços.
Na fotografia de Mário Silva, ele parecia suspenso no tempo, as suas tábuas vazias a convidar a uma pausa, a um novo fôlego, especialmente no início de agosto.
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Agosto em Portugal é o mês da transição.
O calor intenso do verão começa a dar sinais de abrandamento, as férias grandes aproximam-se do fim, e o cheiro a terra seca e a pinho queimado paira no ar.
É o mês dos reencontros nas aldeias, dos emigrantes que regressam, mas também das despedidas, quando as vidas se preparam para seguir novos rumos.
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Foi nesse primeiro dia de agosto que Mariana, uma jovem de vinte e poucos anos, encontrou o Baloiço do Arquinho.
Viera a casa dos avós, na aldeia vizinha, com o coração pesado.
Tinha acabado de terminar uma relação longa e de perder uma oportunidade de emprego que tanto desejara.
Sentia-se perdida, sem rumo, como um navio à deriva.
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A sua avó, uma mulher sábia de poucas palavras, tinha-lhe dito:
- Quando te sentires sem chão, vai até ao Arquinho. Ele sabe de recomeços.
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Mariana, cética, mas desesperada, seguiu as indicações da avó.
Encontrou o baloiço e sentou-se nas suas tábuas de madeira, que pareciam envolver-lhe o corpo num abraço.
O pássaro no topo da placa observava-a com curiosidade, como se conhecesse a história de todos os que ali se sentavam.
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Ela baloiçou, devagar no início, depois mais alto, o vento a soprar nos seus cabelos, as correntes a ranger num ritmo melancólico.
E enquanto baloiçava, as memórias vinham e iam, como as folhas secas que o vento levantava no chão de terra.
As lágrimas começaram a escorrer, quentes no seu rosto.
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- Para onde vou? - sussurrou ela para o vazio, para o pássaro, para o próprio baloiço. - O que faço agora?
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De repente, sentiu uma leve brisa, diferente do vento.
Era um sopro suave que parecia vir do próprio baloiço.
Não havia voz, mas uma sensação, uma certeza que se aninhou no seu peito.
O baloiço parecia dizer:
- Baloiça. Deixa que o movimento leve o que pesa. E quando parares, estarás num novo lugar.
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Mariana baloiçou até o sol começar a cair no horizonte, pintando o céu com tons de laranja e roxo.
Quando finalmente parou, sentiu-se estranhamente leve.
Não tinha encontrado uma resposta mágica, mas uma clareza.
O fim de uma jornada não era o fim de tudo, mas o convite a um novo baloiço, a um novo recomeço.
As correntes, que antes pareciam presas, agora simbolizavam a ligação entre o passado e o futuro, a capacidade de se mover, mesmo que sem saber para onde.
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Ela levantou-se do baloiço, o corpo mais leve, a alma mais tranquila.
Olhou para a placa, para o pássaro que ainda ali estava, e sorriu.
O Baloiço do Arquinho não lhe dera respostas, mas dera-lhe a força para procurá-las.
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E assim, cada início de agosto, quando os dias parecem mais longos e o ar mais denso, o Baloiço do Arquinho em Chaves, tão lindamente captado por Mário Silva, continua a ser um santuário.
É o lugar onde as pessoas vêm baloiçar as suas tristezas, celebrar os seus pequenos triunfos e encontrar a coragem para dar o próximo passo, lembrando-se que cada fim é apenas o balançar para um novo começo.
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Texto & Fotografia: ©MárioSilva
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