“Fonte de mergulho” - S. Vicente (Chaves – Portugal)
Mário Silva Mário Silva
“Fonte de mergulho”
S. Vicente (Chaves – Portugal)
A fotografia de Mário Silva, "“Fonte de mergulho” - S. Vicente (Chaves – Portugal), exibe uma estrutura de pedra característica e de grande significado histórico e cultural para as comunidades rurais.
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A imagem foca-se numa fonte de mergulho, uma construção antiga feita predominantemente de pedra lavrada e aparelhada, de tonalidade clara, provavelmente granito, que é comum na região de Chaves.
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A estrutura central é composta por um arco de volta perfeita, que dá acesso ao interior da fonte, onde se recolhia a água.
Este arco está integrado numa fachada sólida de pedra, que serve de suporte e proteção ao tanque de recolha.
Acima do arco, a estrutura horizontal forma uma espécie de pequeno banco ou platibanda, onde assenta uma cruz de pedra, símbolo cristão que frequentemente acompanha estas fontes, abençoando e protegendo a água e os que dela bebem.
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À direita da fonte, é visível uma placa de aviso amarela, com texto a preto, parcialmente visível, que parece indicar "PERIGO" e informação de segurança e restrição, pois atualmente a água é imprópria para consumo.
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No lado esquerdo da estrutura principal, um pequeno tanque retangular de pedra, de menor profundidade, parece ser um bebedouro ou um lavadouro mais pequeno, adjacente à fonte principal.
Toda a estrutura assenta sobre um pavimento de lajes de pedra, que se prolonga para a frente da fonte.
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Em primeiro plano, na parte inferior da fotografia, vê-se um muro de blocos de cimento de cor cinzenta escura, indicando que a fonte está ligeiramente acima do nível da rua.
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O fundo da imagem mostra vegetação densa e verde, com arbustos e árvores, sugerindo um ambiente rural ou semi-rural.
A luz do sol incide diretamente na fonte, criando contrastes acentuados de luz e sombra que realçam a textura da pedra e a profundidade do arco.
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Uma fonte de mergulho, também conhecida como fonte de mina ou fonte de nascente, é um tipo de construção tradicional que tem como função captar e disponibilizar a água de uma nascente natural para usufruto da população.
O termo "de mergulho" refere-se à necessidade de "mergulhar" ou baixar-se para aceder ao interior da estrutura e recolher a água diretamente da nascente ou de um pequeno tanque onde a água brota.
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Geralmente são construídas no local onde a água brota do solo, protegendo a nascente da contaminação externa (folhas, detritos, animais).
Apresentam uma estrutura fechada ou semi-fechada, muitas vezes com um arco ou galeria, que permite o acesso ao ponto de recolha da água.
A água é fresca e pura, mantida à temperatura constante do subsolo.
Muitas destas fontes incluem tanques adjacentes, chamados "lavadouros", onde as pessoas lavavam a roupa, e "bebedouros" para animais.
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Até à generalização das redes de abastecimento de água domiciliária, as fontes de mergulho desempenhavam um papel fundamental e insubstituível na vida das comunidades rurais.
A sua importância pode ser compreendida sob vários aspetos:
- Eram a principal, e muitas vezes a única, fonte de água potável para consumo humano e animal.
A qualidade da água era crucial para a saúde pública.
- As fontes eram locais de intensa atividade social.
As mulheres, em particular, deslocavam-se diariamente à fonte para buscar água, transformando estes momentos em oportunidades de convívio, partilha de informações e fortalecimento dos laços comunitários.
Era um espaço de comunicação e socialização.
- Os lavadouros anexos permitiam a lavagem da roupa, uma tarefa árdua que também se tornava um momento de convívio entre as lavadeiras.
- A água das fontes era vital para a agricultura de subsistência e para a criação de gado, que dependiam diretamente da disponibilidade hídrica.
- As fontes de mergulho são testemunhos vivos de um passado recente, de um modo de vida mais simples e dependente dos recursos naturais.
Representam um património arquitetónico e etnográfico que define a identidade das aldeias.
Muitas estão ligadas a lendas locais ou têm nomes próprios que as distinguem.
A cruz, como a que se vê na fotografia, sublinha o caráter sagrado ou de bênção atribuído à água e ao local.
- Representam um modelo de gestão da água baseado na captação de recursos naturais de forma sustentável, sem a necessidade de infraestruturas complexas ou de grande consumo energético.
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Embora muitas fontes de mergulho tenham perdido a sua função primária com a modernização, muitas são hoje preservadas como marcos históricos, culturais e turísticos, recordando a centralidade que a água e estes locais tiveram na vida das gerações passadas.
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Texto & Fotografia: ©MárioSilva
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