"Ruínas floridas"
Mário Silva Mário Silva
"Ruínas floridas"
A fotografia "Ruínas floridas" de Mário Silva captura um momento de beleza serena e resiliência num meio de abandono.
A imagem mostra uma estrutura de pedra em ruínas, com grandes blocos de granito cobertos por musgo verde, indicando anos de exposição às intempéries.
No centro da composição, uma janela rudimentar, formada por pedras empilhadas, enquadra o céu claro ao fundo.
Sobre as pedras, dois vasos de barro vermelho, simples e rústicos, abrigam plantas suculentas com tons de rosa e roxo, que contrastam com a aspereza da pedra e o verde do musgo.
A assinatura do fotógrafo, "Mário Silva", aparece no canto inferior direito, escrita em uma caligrafia elegante, complementando o tom nostálgico da obra.
A moldura da fotografia, em tons sépia, reforça a sensação de passado, como se estivéssemos olhando para uma memória distante.
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Em Trás-os-Montes, o tempo parece ter parado.
As aldeias, outrora vibrantes com o som de vozes e o trabalho nos campos, hoje ecoam o silêncio de um passado que se desvanece.
As casas de pedra, construídas com o suor e a determinação de gerações, sucumbem à inevitável passagem dos anos.
Paredes que abrigaram famílias inteiras agora desmoronam, cobertas por musgo e esquecidas pelo progresso que atraiu os mais jovens para as cidades ou para o estrangeiro.
Este cenário de abandono, porém, não é apenas uma narrativa de perda.
É também um testemunho da resiliência de um povo que, mesmo no meio do colapso, encontra formas de recriar a beleza e a alegria.
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A fotografia "Ruínas floridas" de Mário Silva capta essa dualidade com uma sensibilidade rara.
Na imagem, uma estrutura de pedra em ruínas, com blocos de granito desgastados pelo tempo, abriga dois vasos de barro vermelho.
Dentro deles, suculentas de tons rosados e roxos florescem, desafiando a aridez do ambiente.
A janela rudimentar, formada pelas pedras, enquadra o céu, como se sugerisse que, mesmo no desmoronamento, há espaço para a esperança.
O musgo verde que cobre as pedras adiciona uma camada de vida, um lembrete da natureza que reclama o que o homem abandonou.
A moldura sépia e a assinatura do fotógrafo no canto da imagem evocam uma nostalgia que ressoa com a história de Trás-os-Montes.
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A proliferação de casas em ruínas nesta região não é apenas um fenómeno físico, mas também social.
O despovoamento, impulsionado pela falta de oportunidades económicas e pela emigração, deixou para trás um legado de abandono.
Vilarejos que antes pulsavam com vida agora são habitados por poucos, geralmente idosos que resistem a deixar as terras onde nasceram.
As casas, muitas delas sem herdeiros que as reclamem, tornam-se ruínas silenciosas, testemunhas de um tempo que não volta.
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No entanto, o povo transmontano, conhecido pela sua força e ligação à terra, não se rende ao desânimo.
Mesmo no meio do colapso, há uma determinação em encontrar beleza.
Os vasos de flores, como os retratados na fotografia de Mário Silva, são um símbolo disso.
Colocados cuidadosamente sobre as pedras, eles representam um ato de resistência — um esforço para trazer cor e vida a um cenário de decadência.
É como se dissessem: "Ainda estamos aqui, e enquanto estivermos, haverá beleza."
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Essa resiliência não é apenas estética, mas profundamente cultural.
Em Trás-os-Montes, as tradições persistem, mesmo que em menor escala.
As festas populares, as histórias contadas à lareira, o cultivo da terra — tudo isso continua a ser parte da identidade local.
As ruínas, por mais tristes que pareçam, tornam-se também um espaço de memória e de reinvenção.
Algumas são transformadas em pequenas hortas, outras servem de abrigo para animais, e há até quem as utilize como cenários para projetos artísticos, como o próprio Mário Silva fez com a sua fotografia.
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A mensagem de "Ruínas floridas" é clara: o abandono pode ser inevitável, mas a capacidade de recriar alegria e beleza é uma escolha.
O povo de Trás-os-Montes, com a sua ligação visceral à terra e à sua história, ensina-nos que a vida pode florescer mesmo nas condições mais adversas.
Assim como as suculentas que brotam dos vasos de barro, a alma transmontana persiste, resiliente e vibrante, num meio das ruínas de um passado que, embora desmorone, nunca será esquecido.
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Texto & Fotografia: ©MárioSilva
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