Trepadeira-comum (Certhia brachydactyla)
Mário Silva Mário Silva
Trepadeira-comum
(Certhia brachydactyla)
Naquele recanto tranquilo da floresta, onde o sol se filtrava em feixes dourados através da densa folhagem, erguia-se uma árvore antiga, com o seu tronco rugoso coberto por um manto aveludado de líquenes e musgo.
As suas raízes, profundas e entrelaçadas, contavam histórias de séculos.
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De repente, um movimento ágil quebrou a quietude.
Não era uma folha a cair, nem um esquilo a saltitar.
Era ela, a Trepadeira-comum, uma “Certhia brachydactyla”, como os ornitólogos a chamavam, mas para quem a observava, era simplesmente a "trepadeira".
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Com a sua plumagem mimética, em tons de castanho e branco que se confundiam perfeitamente com a casca da árvore, era fácil perdê-la de vista.
No entanto, o seu pequeno corpo, compacto e elegante, movia-se com uma destreza impressionante.
Não era um pássaro que saltitava entre os ramos, mas sim um escalador nato.
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A trepadeira-comum subia o tronco em espiral, os seus pés minúsculos, mas fortes, agarrando-se a cada fissura, a cada irregularidade da casca.
A sua cauda, robusta e rígida, servia-lhe de apoio, como um terceiro ponto de equilíbrio, permitindo-lhe um movimento quase vertical.
Parecia um relógio, o seu pequeno bico, fino e ligeiramente curvado, a investigar cada fenda, cada reentrância, em busca de insetos minúsculos e aranhas escondidas.
Era uma caçadora meticulosa, sem pressas, mas implacável.
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Naquele dia, enquanto subia, a sua cabeça pequena e atenta inclinou-se ligeiramente para cima.
Os seus olhos negros e brilhantes, mais do que simples esferas, eram janelas para um mundo de detalhes que a maioria de nós nem sequer percebia.
Talvez estivesse a procurar um novo percurso, a detetar o cheiro de uma larva escondida, ou simplesmente a apreciar a luz que se abria no topo do dossel, uma promessa de um novo horizonte.
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O fotógrafo, Mário Silva, com a sua objetiva paciente, conseguiu captar aquele momento efémero.
Não apenas a imagem de um pássaro, mas a essência da sua vida: a sua resiliência, a sua adaptação perfeita ao seu “habitat” e a sua busca incessante pelo sustento.
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A Trepadeira-comum não cantava canções elaboradas, nem exibia cores vistosas.
A sua beleza residia na sua discrição, na sua funcionalidade e na sua capacidade de habitar um nicho tão específico e fascinante.
Ela era a guardiã silenciosa da árvore, uma sentinela que passava os seus dias a explorar os segredos da casca, um exemplo vivo da complexidade e da maravilha da vida selvagem, ali, mesmo ao nosso lado, na floresta que muitas vezes nos passam despercebidos.
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Texto & Fotografia: ©MárioSilva
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