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MÁRIO SILVA - Fotografia, Pintura & Escrita

*** *** A realidade é a "minha realidade" em imagens (fotografia, pintura) e escrita

08
Nov25

"A apanha da castanha" - Águas Frias - Chaves - Portugal


Mário Silva Mário Silva

"A apanha da castanha"

Águas Frias - Chaves - Portugal

08Nov DSC06327_ms

A fotografia de Mário Silva retrata uma cena rural no outono, especificamente em Águas Frias, Chaves.

O foco da imagem está em duas figuras humanas curvadas sobre um campo de relva verde-viva, dedicadas à colheita das castanhas.

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As figuras, vestidas com roupa escura que contrasta fortemente com o verde do relvado, estão em pleno trabalho: uma delas parece estar a recolher algo para um saco branco no chão, enquanto a outra utiliza um balde claro.

A postura curvada de ambas as figuras enfatizam o esforço e a dedicação exigidos por esta tarefa.

O plano de fundo é composto por um maciço de castanheiros com folhagem verde e tons de castanho-avermelhado (fetos e ramos secos), característicos do outono.

A luz do sol incide sobre a vegetação, criando um ambiente natural e rústico.

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A Apanha da Castanha: Mais do que Colheita, um Ritual Transmontano

A fotografia de Mário Silva, que imortaliza o esforço da apanha da castanha em Águas Frias, Chaves, capta um dos rituais mais antigos e significativos do ciclo agrícola em Trás-os-Montes.

A castanha não é apenas um fruto; é um símbolo de subsistência, de convívio e da identidade cultural de uma região onde o castanheiro é apelidado de "árvore do pão".

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O Outono e o Tesouro do Souto

O outono, com o seu tapete de folhas caídas, anuncia o tempo do Souto, a floresta tradicional de castanheiros.

A apanha da castanha é um processo que exige paciência e, como a fotografia bem ilustra, um trabalho manual árduo.

As castanhas, protegidas dentro dos ouriços espinhosos, são libertadas pela queda ou com a ajuda de varas.

As figuras curvadas sobre a terra representam a ligação profunda e física entre o homem transmontano e o seu recurso mais valioso.

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O Sentido da Comunidade e do Esforço

Tradicionalmente, a apanha da castanha é uma atividade comunitária (ou era).

Famílias e vizinhos juntam-se (ou juntavam-se) nos soutos, numa forma de entreajuda que transforma o trabalho num momento de convívio.

A colheita não é apenas um ato económico; é um ritual social que reforça (ou reforçava) os laços comunitários.

O produto final, a castanha, era, e em muitas zonas ainda é, uma reserva vital para o inverno, utilizada em inúmeras receitas doces e salgadas.

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Da Terra à Mesa: O Magusto

O clímax da época da castanha é a celebração do Magusto, tipicamente no Dia de São Martinho (11 de novembro).

É um momento festivo onde as castanhas, assadas no fogo, são partilhadas (ou eram), acompanhadas por vinho novo ou jeropiga.

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A fotografia de Mário Silva é um registo intemporal desta cultura.

As mãos que trabalham, a roupa prática, o balde e o saco, tudo aponta para a importância da castanha como pilar da vida rural, um tesouro que a terra oferece anualmente e que, com o esforço e o suor, garante a sobrevivência e a celebração em Trás-os-Montes.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
07
Nov25

"A parreira e Águas Frias" - Chaves - Portugal


Mário Silva Mário Silva

"A parreira e Águas Frias"

Chaves - Portugal

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A fotografia de Mário Silva é uma paisagem que enquadra a vista de uma aldeia a partir de uma vinha.

A imagem está dividida em dois planos distintos: o primeiro plano é dominado por um elemento natural em “bokeh” (desfocado), nomeadamente os ramos de uma parreira com folhas em tons de vermelho-vivo e ocre de outono.

Este filtro natural emoldura a paisagem no centro da composição.

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O segundo plano, em foco, revela a aldeia de Águas Frias, caracterizada por um aglomerado de casas tradicionais, com paredes brancas e telhados de barro avermelhado, que se aninham na encosta.

O casario estende-se pela colina, em harmonia com o relevo.

O fundo é montanhoso, coberto por vegetação densa.

A luz suave da manhã ilumina as fachadas, conferindo-lhe uma sensação de paz e integração rural.

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A Parreira e a Aldeia: O Vínculo Indissolúvel entre a Vinha e a Vida Rural Transmontana

A fotografia de Mário Silva, que enquadra a paisagem de Águas Frias através do manto outonal de uma parreira, é uma poderosa metáfora do Norte de Portugal: a vida da aldeia é inseparável do ciclo da vinha.

A parreira e o casario não são apenas elementos vizinhos, mas partes de um mesmo organismo, onde a cultura e a economia se constroem em torno da terra.

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A Vinha: O Espelho da Vida em Trás-os-Montes

O primeiro plano, dominado pelas folhas da parreira em tons de fogo, simboliza a época da colheita e do repouso.

As cores intensas — do vermelho vibrante ao castanho-ocre — atestam o final da vindima, a altura mais importante do ano agrícola.

Em Trás-os-Montes, a viticultura é uma herança ancestral; a vinha não é cultivada em extensões industriais, mas em socalcos e parcelas pequenas, muitas vezes adjacentes ou mesmo dentro das aldeias.

A parreira é, assim, o símbolo do trabalho e da subsistência das gentes de Águas Frias.

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A Aldeia: Um Nicho de Permanência

A aldeia de Águas Frias, visível ao longe, é o ninho da comunidade.

As casas de paredes claras e telhados vermelhos, perfeitamente integradas na encosta, mostram a arquitetura tradicional que privilegia a funcionalidade e a adaptação ao terreno.

A sua disposição compacta sugere a união e a dependência mútua dos seus habitantes.

A aldeia e a vinha coexistem num ecossistema onde a matéria-prima (a uva) é transformada em produto (o vinho), que, por sua vez, sustenta a vida da comunidade.

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A Perspetiva da Emoção

Ao escolher enquadrar a aldeia através da parreira, o fotógrafo estabelece uma perspetiva emocional.

O “bokeh” das folhas funciona como um véu de memória, sugerindo que a visão que se tem da vida rural é inseparável da sua produção e da sua história.

É um olhar que valoriza o sacrifício e a beleza do ciclo natural.

A parreira não é apenas uma planta; é a moldura viva da tradição transmontana.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
30
Out25

“Um pormenor que é pormaior” - Águas Frias – Chaves – Portugal


Mário Silva Mário Silva

“Um pormenor que é pormaior”

Águas Frias – Chaves – Portugal

30Out DSC07949_ms

Esta fotografia de Mário Silva, capturada em Águas Frias, Chaves, é um estudo focado num detalhe encantador e rústico da arquitetura local.

O título “Um pormenor que é pormaior” (ou “Um pormenor que é por maior”) sugere a importância de se prestar atenção a pequenos aspetos que carregam grande significado.

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A imagem é dominada por uma campainha de ferro forjado e enferrujado, fixada a uma parede rugosa de pedra clara.

O suporte desta campainha tem a forma de um gato sentado, uma figura zoomórfica que confere um toque de fantasia e familiaridade à peça.

O metal está corroído pelo tempo e pela humidade, exibindo tons profundos de castanho e laranja-ferrugem, que contrastam suavemente com o verde esmeralda no olho do gato.

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Por baixo do gato, pende o sino, robusto e igualmente corroído, suspenso por um pequeno elo.

Uma corrente estende-se a partir do sino, completando o mecanismo de chamada.

A luz difusa da tarde realça a textura da pedra e o peso do ferro, conferindo à cena uma atmosfera de quietude, durabilidade e nostalgia pela história que este pequeno objeto carrega.

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O Pormenor que Veste a História

A Simbologia dos Sinos e Enfeites na Arquitetura Transmontana

Nas aldeias do interior de Portugal, especialmente em regiões como Trás-os-Montes, a história não se encontra apenas nos grandes monumentos; está cravada nos pormenores do quotidiano.

A campainha de porta rústica e o suporte em forma de gato, capturados nesta fotografia, são a prova de que “um pormenor é por maior”: um pequeno objeto pode ter um vasto significado cultural e estético.

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O Ferro e o Testemunho do Tempo

O material dominante – o ferro forjado e enferrujado – é um testemunho da durabilidade e da autenticidade da vida rural.

A ferrugem não é vista como desgaste, mas como uma patina do tempo, um registo visual das estações e das décadas que este objeto experienciou na fachada.

O ferro, pesado e resistente, simboliza a natureza imutável da tradição e a resiliência das gentes locais.

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A Campainha e a Comunidade

Antes dos intercomunicadores modernos, o sino à porta era um elemento essencial da comunicação social.

Tocar a campainha não era apenas uma chamada funcional, mas um ato social que anunciava uma visita, o regresso de alguém, ou a chegada de um vendedor.

A campainha é, portanto, um símbolo do limiar entre o público e o privado, e da hospitalidade que define as comunidades pequenas, onde o som do sino era reconhecível e significativo.

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O Gato: Entre a Simbologia e o Afeto

O suporte em forma de gato é o toque que transforma este pormenor em “pormaior”.

O uso de figuras animais em ferro forjado na arquitetura popular tem raízes antigas, muitas vezes ligadas a crenças de proteção e boa sorte.

O gato, em particular, é um símbolo de vigilância, mistério e, nas casas rurais, um guardião prático contra roedores.

A sua presença humaniza a fachada de pedra, injetando uma nota de afeto e folclore no rigor da arquitetura.

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A fotografia de Mário Silva eleva este modesto objeto a um ponto focal, convidando-nos a valorizar os elementos que, embora pequenos, são essenciais para contar a história de uma casa, de uma rua e de uma aldeia.

É uma lembrança subtil de que a beleza e o significado cultural muitas vezes se encontram nos detalhes mais inesperados.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
29
Out25

“Pela rua principal de Sobreira” – Águas Frias – Chaves – Portugal


Mário Silva Mário Silva

“Pela rua principal de Sobreira”

Águas Frias – Chaves – Portugal

29Out DSC07825_ms

Esta fotografia de Mário Silva capta um pequeno, mas profundamente característico, recanto da aldeia de Sobreira, em Águas Frias (Chaves), no Norte de Portugal.

A composição é dominada por uma antiga fachada rural, rústica e texturada, dividida em duas secções distintas.

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À esquerda, ergue-se uma parede de pedra irregular em tons quentes, banhada por uma luz solar que lhe confere um brilho dourado e acentua a robustez dos materiais de construção tradicionais.

À direita, a parede apresenta um reboco mais claro e desgastado, em contraste suave com a pedra.

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O ponto focal é a porta castanha-avermelhada, de aspeto metálico e simples, que se insere numa moldura de pedra.

Por cima desta porta, luxuriante e viva, cresce uma parreira (videira), com as suas folhas verdes a penderem de forma protetora sobre a entrada e a criarem uma coroa de vitalidade sobre o cenário de pedra antiga.

Esta vide sugere a tradição agrícola e a profunda ligação da vida rural à produção do vinho.

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A telha tradicional no topo da parede, os pequenos pormenores como o tubo de escoamento e a pequena janela, juntamente com a assinatura do autor, emolduram uma cena que exala a calma, a simplicidade e a durabilidade da vida no interior transmontano.

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A Parreira, a Pedra e a Porta – Os Elementos da Memória Rural Transmontana

A fotografia de Mário Silva, capturada na aldeia de Sobreira, em Águas Frias, não é apenas um retrato arquitetónico; é uma síntese visual dos valores e da cultura do Portugal rural e transmontano.

A imagem condensa três elementos centrais da identidade desta região: a pedra, a porta e a videira.

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A Pedra: A Fundação da Resiliência

A parede de pedra, fria e robusta, simboliza a resiliência e a antiguidade destas comunidades.

Construída com o material abundante da região – o granito –, estas fachadas testemunham séculos de vida, resistindo ao rigor do clima e à passagem do tempo.

Cada bloco irregular, iluminado pelo sol, conta a história de uma construção feita à mão, perfeitamente integrada no ambiente circundante.

É uma arquitetura de necessidade, mas também de profunda beleza.

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A Parreira: O Símbolo da Vida e do Sustento

Contrastando com a imobilidade da pedra, a parreira que se debruça sobre a porta traz vida, movimento e cor.

A videira é, historicamente, um pilar da economia e da cultura transmontana.

Crescer à entrada de casa não é apenas decorativo; é um símbolo de sustento, de sombra no verão e, sobretudo, da produção caseira do vinho.

Esta videira luxuriante representa a interdependência entre o homem e a terra, e o ciclo anual de trabalho, colheita e celebração.

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A Porta: O Limiar do Lar

O elemento central, a porta, é o portal entre o mundo público da rua e o santuário privado do lar.

A sua aparência simples e metálica sugere funcionalidade e proteção.

Numa rua principal de uma aldeia, a porta é o ponto de passagem onde se trocam as primeiras palavras do dia, onde o trabalho começa e onde o descanso se encontra.

É o coração visível da vida familiar, emoldurado pelo legado da pedra e pela promessa da videira.

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A fotografia, ao isolar e realçar estes três elementos, captura a essência de Sobreira e de muitas outras aldeias do interior: um lugar onde a tradição se mantém firme na pedra, a subsistência floresce no verde da videira, e o calor da vida reside logo após o humilde limiar da porta.

É um convite à reflexão sobre a autenticidade e a beleza duradoura do Portugal profundo.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
25
Out25

“A Fraga e o Castelo de Monforte de Rio Livre”


Mário Silva Mário Silva

“A Fraga e o Castelo de Monforte de Rio Livre”

Águas Frias - Chaves - Portugal

25Out DSC06281_ms

A fotografia de Mário Silva, capturada em Águas Frias, Chaves, é uma composição que estabelece um forte diálogo entre o elemento natural e o construído.

Em primeiro plano, domina uma gigantesca fraga (rocha) de granito de tonalidade quente, amarelada pelo sol, ocupando o terço inferior e direito da imagem.

A sua superfície lisa e arredondada contrasta com a vegetação rasteira e arbustos em primeiro plano, alguns secos e escuros.

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O olhar é conduzido por esta rocha, subindo a paisagem, onde se encontra uma colina densamente arborizada com vegetação baixa e matagal.

No topo desta elevação, recortando-se contra um céu azul-claro e límpido, ergue-se o Castelo de Monforte de Rio Livre.

Apenas visível é a sua Torre de Menagem quadrada e robusta, um símbolo de resistência e vigilância, que domina o horizonte.

A luz do sol, possivelmente no meio-dia, ilumina a pedra do castelo e a fraga, criando um ambiente de sossego histórico e isolamento.

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A Vigília Silenciosa: História, Fraga e Horizonte em Monforte

O Castelo e a Fraga: Uma História de Oposição e Aliança

A imagem capturada por Mário Silva em Águas Frias não é apenas uma fotografia; é uma síntese visual da história de Trás-os-Montes.

A cena coloca em perspetiva dois protagonistas intemporais: a Fraga, símbolo da permanência geológica e da natureza indomável da região, e o Castelo de Monforte de Rio Livre, a marca do poder humano, da defesa e da civilização.

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Em Monforte, o castelo não foi erguido contra a natureza, mas em aliança com ela.

A posição do castelo no cume da colina, aproveitando o relevo para a sua defesa, reflete a sabedoria estratégica medieval.

É uma sentinela de pedra que, ao longo de séculos, vigiou as fronteiras, testemunhando batalhas e a consolidação do reino.

A sua Torre de Menagem, que se ergue altiva no horizonte, é o coração desta vigília, um símbolo de soberania que resistiu a ventos, invasões e ao esquecimento.

 

O Poder do Silêncio e da Perspetiva

O que torna esta imagem particularmente envolvente é o papel da Fraga em primeiro plano.

A sua massa monumental atua como um observador silencioso, quase um "guardião geológico" que impede uma visão desimpedida do castelo.

Esta fraga representa a ancestralidade e a força telúrica da terra que precede qualquer muralha humana.

Ela lembra-nos que, por mais imponente que seja o castelo, ele é apenas um ponto na imensidão do tempo e da geologia.

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Este elemento em primeiro plano cria uma profundidade notável.

Ao enquadrar o castelo através da fraga e da vegetação, o fotógrafo convida-nos a parar e a perscrutar, a sentir a distância — não só física, mas temporal — que nos separa da época em que o castelo era o centro vibrante da vida local.

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O Legado da Fronteira

O Castelo de Monforte de Rio Livre está intrinsecamente ligado à identidade de fronteira de Chaves e de toda a região transmontana.

Foi um baluarte crucial na defesa contra castelhanos, desempenhando um papel vital na Guerra da Restauração no século XVII.

A paisagem que o rodeia — a mata densa, os céus amplos e as colinas rochosas — é a mesma que viu os soldados portugueses guardarem os limites do reino.

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Hoje, o castelo é mais do que uma ruína; é um monumento à perseverança.

A sua silhueta no alto da colina, observada a partir da fraga de Águas Frias, convida à reflexão sobre a resiliência.

A natureza, representada pela rocha e pela vegetação, abraçou a estrutura, não para a consumir, mas para a integrar na paisagem.

A fortaleza de pedra e a fraga de granito permanecem lado a lado, como guardiões silenciosos, ensinando que a verdadeira força reside na capacidade de resistir ao tempo, seja pela pedra talhada ou pela pedra nascida da terra.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
23
Out25

“Pedra Fálica” - Águas Frias – Chaves - Portugal


Mário Silva Mário Silva

“Pedra Fálica”

Águas Frias – Chaves - Portugal

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A fotografia, intitulada “Pedra Fálica” e capturada em Águas Frias, Chaves, Portugal, é um plano próximo e dramático de uma grande rocha vertical incrustada num muro de pedra rústico.

A pedra central, de formato alongado e ligeiramente afilado no topo, tem uma textura rugosa e é predominantemente coberta por uma camada de musgo escuro e seco nas laterais, enquanto a sua superfície central é iluminada por uma luz quente, intensa e baixa, possivelmente do sol do final da tarde.

Esta iluminação acentua o volume e a forma da rocha, conferindo-lhe uma presença imponente e escultural.

A rocha está enquadrada por um muro de pedras mais pequenas, de cores e formatos variados, que servem de moldura e de contraste, destacando a antiguidade e a importância do monólito.

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Lenda Ancestral da Pedra da Fecundidade

Nas terras de Águas Frias, onde os Invernos são duros e os rios cantam lendas antigas, ergue-se, desde tempos que se perdem na memória dos povos, a "Pedra da Fecundidade", um monólito venerado que o povo viria a conhecer como a Pedra Fálica.

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A Lenda: O Gigante Petrificado e a Deusa Mãe

A lenda mais antiga conta que esta pedra não era, na verdade, uma rocha, mas sim a forma petrificada do Deus-Gigante Turi, o último da sua espécie, que habitava os picos de Barroso.

 Turi, que amava a Deusa-Mãe Telena, Senhora da Água e da Terra, foi amaldiçoado por um ciumento espírito do Submundo.

A maldição transformou-o em pedra, para que nunca mais pudesse abraçar a sua amada.

No entanto, Telena, em lágrimas, usou o seu poder para lhe conceder uma última dádiva: a de que a sua essência, o seu poder criador, permanecesse aprisionado na pedra, para que pudesse continuar a abençoar a vida na Terra.

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A Pedra Fálica era, portanto, vista como o último vestígio do poder do Gigante Turi, um pilar que unia o céu à terra, e que canalizava a energia vital da Deusa Telena.

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Os Rituais da Fertilidade e da Fortuna

Desde a época pré-romana, gentes de todo o Norte de Portugal e da Galiza peregrinavam a Águas Frias para prestar homenagem à Pedra e participar nos seus rituais, que eram sempre realizados sob a luz da Lua Cheia.

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O Ritual da Fecundidade: O mais famoso era o ritual das Mulheres Sem Fruto.

Ao cair da noite, as mulheres que desejavam engravidar subiam ao local da pedra.

Primeiro, banhavam-se nas águas frias da nascente próxima, purificando-se.

Depois, dirigiam-se à Pedra.

O ritual central era o de "abraçar a pedra": a mulher devia esfregar-se ou abraçar o monólito com os braços, vertendo leite ou azeite nos musgos escuros da rocha, pedindo a Turi que lhe desse o "fogo da vida".

Acreditava-se que a rugosidade e a forma da pedra lhe transmitiam o "vigor do gigante".

Se a mulher sentisse um formigueiro ou um calor, a bênção estava concedida.

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O Ritual da Fortuna nos Campos: Os homens, por sua vez, tocavam na pedra antes da sementeira.

O ritual exigia que roçassem nela uma espiga de milho ou um punhado de centeio, pedindo a Turi que a sua força garantisse colheitas fartas e abundância para o ano.

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Os "Milagres" e a Promessa

Os "milagres" atribuídos à Pedra Fálica eram lendários.

As histórias viajavam de boca em boca:

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O Dom da Vida: Centenas de casais de Trás-os-Montes e do Minho atestavam terem concebido um filho após a peregrinação.

A criança nascida após a bênção era frequentemente chamada de "Túrio" ou "Telena", em honra dos deuses ancestrais.

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O Campo Renovado: Conta-se que, durante uma grande seca, os lavradores de Águas Frias, após um ritual desesperado, viram o tempo mudar, salvando as suas searas.

O "poder da Pedra" era mais forte do que a maior das estiagens.

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Mesmo com a chegada de novas religiões, a lenda da Pedra da Fecundidade nunca se apagou.

No íntimo do povo nortenho, o monólito de Águas Frias permaneceu como um símbolo da força da vida, um local onde a natureza e a ancestralidade se encontram para sussurrar a promessa de que a vida sempre encontra um caminho para florescer.

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Se não acredita, venha visitar a Pedra Fálica.

NOTA: Mas desde já aconselho que não menospreze o seu efeito, pois em caso de zombaria, Turi pode ficar irritado e a sua “ação” pode ser de tal maneira violenta, que pode tornar-se brutal e permanente (todos os segundos, minutos, horas, dias e anos).

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
15
Out25

“Águas Frias - as casas, a igreja de perfil e a colina negra dos incêndios”


Mário Silva Mário Silva

“Águas Frias - as casas, a igreja de perfil

e a colina negra dos incêndios”

15Out DSC09479_ms

Esta fotografia de Mário Silva apresenta uma vista panorâmica de uma aldeia, Águas Frias, aninhada numa paisagem de colinas.

Em primeiro plano, destacam-se os telhados de terracota das casas e o volume de uma igreja, vista de perfil, com a sua torre sineira alta e estreita.

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O fundo da imagem é dominado por uma colina extensa, onde se nota o contraste brutal entre a vegetação verdejante e as áreas queimadas.

Estas manchas escuras, que a descrição chama de "colina negra dos incêndios", são uma cicatriz visível na paisagem.

A composição, que utiliza a torre da igreja como ponto focal vertical em contraste com a horizontalidade das colinas, é um retrato da vida rural na presença da ameaça da natureza.

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A Cicatriz da Paisagem: Fé, Comunidade e a Memória do Fogo

A fotografia de Mário Silva, "Águas Frias - as casas, a igreja de perfil e a colina negra dos incêndios", é um poderoso testemunho visual da realidade de muitas aldeias do interior de Portugal.

Mais do que um mero registo topográfico, a imagem fala sobre resiliência, fé e o impacto duradouro das catástrofes naturais.

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A Igreja: O Coração da Comunidade

No centro da composição, a igreja ergue-se acima dos telhados, simbolizando o coração e o espírito da comunidade.

Historicamente, a igreja é o ponto de encontro, o refúgio e o centro da identidade destas aldeias.

A sua presença imponente, com a torre a apontar para o céu, sugere uma fonte de força e esperança que permanece inabalável, mesmo quando a paisagem circundante é marcada pela destruição.

As casas, agrupadas à sua volta, representam a vida e o calor da família e da vizinhança.

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A Colina Negra: A Marca do Fogo

O elemento mais dramático da fotografia é o contraste entre a vida e o rasto da devastação.

A colina negra no horizonte é a memória palpável do fogo.

Não é apenas uma área queimada; é uma chamada de atenção de que o ecossistema e o modo de vida da comunidade estiveram em risco.

Em regiões como Trás-os-Montes, os incêndios florestais têm um impacto profundo que se estende para além da perda de vegetação, afetando a qualidade do solo, a fauna local e a economia rural.

O negro da colina torna-se, assim, um símbolo de vulnerabilidade e de luto ecológico.

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Um Retrato da Resiliência

O mérito desta fotografia reside na forma como justapõe estes dois mundos: a tranquilidade e a permanência da aldeia, com a efemeridade e a violência da natureza selvagem.

A vida, representada pelos telhados laranjas e a vegetação ainda verde, insiste em continuar perante a adversidade.

A imagem de Mário Silva é, em última análise, uma homenagem à resiliência das populações que, ano após ano, refazem as suas vidas e mantêm a sua fé no lugar que chamam de lar, por mais duras que sejam as "águas frias" do destino.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
12
Out25

Resultados das Eleições Autárquicas 2025, na freguesia de ÁGUAS FRIAS (Águas Frias-Casas de Monforte-Assureiras-Avelelas-Sobreira) - Chaves Portugal.


Mário Silva Mário Silva

Resultados das Eleições Autárquicas 2025, na freguesia de ÁGUAS FRIAS
(Águas Frias-Casas de Monforte-Assureiras-Avelelas-Sobreira) - Chaves Portugal.
 
Parabéns a Romeu Gomes, o novo presidente de freguesia eleito
 

ELEIÇÕES  AUTÁRQUICAS  2025

 

Mário Silva 📷
10
Out25

“Pela rua do Carril” - Águas Frias - Chaves - Portugal


Mário Silva Mário Silva

“Pela rua do Carril”

Águas Frias - Chaves - Portugal

10Out P1180496_ms

A fotografia de Mário Silva retrata uma rua em Águas Frias, Chaves, com uma atmosfera tranquila e rural.

A imagem tem como ponto central uma rua estreita, que se estende para longe, ladeada por casas tradicionais.

Em primeiro plano, do lado esquerdo, uma casa de dois andares com paredes amarelas e persianas verdes escuras domina a cena.

Uma escadaria exterior conduz ao andar superior, um elemento típico da arquitetura local.

Do lado direito, um muro de pedra irregular e um poste com a placa "Rua do Carril" guiam o olhar.

A vegetação densa e o céu nublado dão um toque de serenidade à paisagem.

A assinatura do autor no canto inferior direito sela a obra.

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Estória: A Rua do Carril

Na aldeia de Águas Frias, a Rua do Carril não era apenas um caminho de cimento; era o coração da aldeia.

Uma rua estreita e sinuosa, ladeada por casas que se aninhavam na encosta, cada uma com a sua própria história.

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Na casa amarela e verde, vivia uma velha costureira, a Senhora Emília.

Todas as manhãs, a Senhora Emília abria as persianas verdes e sentava-se à janela para observar a vida a passar.

Via as crianças a correrem para a escola, os vizinhos a irem para os campos e o carteiro a entregar as cartas.

A sua vida era uma tapeçaria de pequenas histórias, e a Rua do Carril era a sua tela.

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Numa tarde de verão, um forasteiro parou no cimo da rua, com um mapa na mão.

Parecia perdido.

A Senhora Emília, sempre atenta, chamou-o da sua janela.

- Venha, venha, meu senhor. O que procura?

 O homem, confuso, explicou que procurava um rio, o qual, segundo o seu mapa, passava por ali.

A Senhora Emília riu-se e explicou-lhe que o rio secou há muito, muito tempo, e a Rua do Carril era o que restou do seu antigo leito.

O homem, fascinado, agradeceu e continuou o seu caminho, mas as palavras da Senhora Emília ficaram na sua mente.

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A Rua do Carril era o leito de um rio invisível, feito de memórias e de vidas.

O carril, que outrora transportara água, agora transportava as histórias das gentes que ali viviam.

A escadaria da casa da Senhora Emília era como uma cascata, por onde desciam os passos dos filhos e netos que a visitavam.

As paredes amarelas eram o calor do sol que outrora tinha secado o rio.

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A fotografia de Mário Silva capturou aquele momento, com a luz do sol a incidir suavemente sobre a casa amarela e a rua de cimento.

A Rua do Carril não era apenas um caminho, mas um rio de história, onde as memórias corriam, e as vidas se entrelaçavam, na tranquilidade de uma aldeia de Trás-os-Montes.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
09
Out25

“A mina de água nascente” - Águas Frias - Chaves - Portugal


Mário Silva Mário Silva

“A mina de água nascente”

Águas Frias - Chaves - Portugal

09Out P1180439_ms

A fotografia de Mário Silva retrata uma mina de água nascente num ambiente rural e sereno.

O enquadramento mostra a entrada de uma mina de pedra escura, quase como um túnel, de onde a água flui para um tanque circular de pedra, em primeiro plano.

O tanque, com as suas paredes musgosas, é alimentado por uma nascente.

A vegetação densa, com árvores de folhas amarelas de outono e a luz do sol a atravessar as copas, cria uma atmosfera mística e pacífica.

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A Lenda da Água Eterna

Havia um tempo, nos vales de Águas Frias, em que a água era um bem precioso, mas escasso.

As terras secavam, e as colheitas morriam.

A sede apertava as gentes e os animais, e o desespero começava a tomar conta das almas.

Contavam-se histórias sobre uma mina de água nascente, uma fonte lendária escondida nas entranhas da montanha, mas o seu paradeiro era um segredo há muito perdido.

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Um dia, um jovem pastor, chamado Dionísio, partiu em busca dessa mina.

Ele não era forte nem corajoso, mas a sua determinação era a força do seu coração.

Depois de dias de caminhada por caminhos difíceis, ele encontrou um velho, tão velho quanto as pedras que calçavam a serra.

O velho, com a sua voz rouca de anos, disse-lhe:

- A mina só se revela a quem tiver o coração puro e a intenção verdadeira.

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Dionísio, sem entender a fundo o significado daquelas palavras, continuou o seu caminho.

Atravessou penedos e chegou a uma clareira onde a luz do sol iluminava as árvores.

E então, ele viu-a: a entrada da mina, um arco de pedra escura, e a água a fluir para um tanque de pedra, como um bálsamo para a terra sedenta.

A mina era uma dádiva, mas o acesso era difícil.

As pedras que a cercavam pareciam vigias, e a entrada, um portal para um mundo desconhecido.

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Apesar da sua exaustão, Dionísio, em vez de beber, começou a abrir um pequeno canal com as suas próprias mãos para que a água pudesse seguir o seu caminho até à aldeia.

Passou a noite inteira a trabalhar, movendo as pedras mais pequenas, as suas mãos a sangrarem e o seu corpo a doer de cansaço.

Ao amanhecer, a água começou a fluir, gota a gota, em direção aos campos da sua terra.

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A fotografia de Mário Silva, com a sua luz mística, é um retrato do momento em que Dionísio, exausto, se sentou e viu a água a fluir.

Ele não se tornou um herói por ter derrotado um monstro ou por ter enfrentado um inimigo, mas por ter mostrado que a verdadeira força de um ser humano reside na sua capacidade de sacrifício e de partilha.

E assim, a mina de água nascente, que a lenda diz ser uma dádiva, foi, na realidade, a recompensa do seu trabalho e da sua abnegação.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
07
Out25

“Uvas após a vindima” - Águas Frias - Chaves – Portugal


Mário Silva Mário Silva

“Uvas após a vindima”

Águas Frias - Chaves – Portugal

07Out DSC05968_ms

A fotografia de Mário Silva é uma representação vibrante e detalhada de uvas recém-colhidas.

A imagem, tirada de perto, mostra uma mistura de cachos de uvas brancas e uvas pretas, com a luz do sol a incidir sobre elas, realçando as cores e as texturas.

É possível ver a pele fina das uvas brancas e o aspeto aveludado das uvas pretas, que formam um contraste de cores e luzes.

As uvas brancas, com os seus tons dourados e translúcidos, são o ponto focal da foto, iluminadas de forma intensa.

A composição celebra a riqueza da colheita e a abundância da natureza.

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A Vindima em Trás-os-Montes: Mais do que uma Colheita, uma Tradição de Vida

A vindima, a colheita das uvas, é um dos momentos mais importantes do calendário agrícola em Portugal, e na região de Trás-os-Montes, como em Águas Frias, é um evento com um significado que vai muito além da simples agricultura.

Para as gentes transmontanas, a vindima é um ritual de vida, um tempo de união, de esforço e de celebração.

É a altura em que a terra generosa recompensa o trabalho de um ano inteiro.

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O Esforço e a Cooperação

A vindima é um trabalho que exige a participação de todos.

Não é apenas uma tarefa individual, mas uma ação de comunidade.

Famílias inteiras, vizinhos e amigos juntam-se para apanhar os cachos de uvas, como os que a fotografia de Mário Silva retrata.

O ambiente é de camaradagem, com as conversas e as canções a preencherem o ar.

As mãos calejadas, os braços cansados e a coluna dolorida são o preço que se paga por cada cesto de uvas cheias.

Mas a recompensa é um sentimento de pertença e de realização que não tem preço.

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O Património Cultural e a Identidade

A vindima é uma celebração das raízes e da identidade transmontana.

O conhecimento de quando e como colher as uvas é transmitido de geração para geração, um legado oral que se mantém vivo e que garante a qualidade dos vinhos da região.

As tradições, como o almoço partilhado na vinha ou o lanche, são parte integrante do ritual.

A vindima não é apenas um ato de colher, mas também de honrar o passado e de transmitir os valores da terra e do trabalho.

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A Emoção da Colheita e a Promessa do Vinho

Quando os cestos se enchem de uvas, como as brancas e pretas da foto, há um sentimento de alegria e de alívio.

A colheita representa a conclusão de um ciclo, o fim de meses de preocupação com o tempo, a chuva e o sol.

É um momento de esperança, pois cada cacho é uma promessa de vinho.

Para as gentes de Trás-os-Montes, o vinho é mais do que uma bebida.

É um símbolo de convivência, de partilha e de hospitalidade.

Ele está presente em todas as mesas, nas festas de família e nas celebrações da aldeia.

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Em suma, a vindima é um espelho da alma transmontana: resiliente, trabalhadora e profundamente ligada à sua terra e às suas tradições.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
02
Out25

“A palmeira na rua Cimo de Vila” - Águas Frias - Chaves - Portugal


Mário Silva Mário Silva

“A palmeira na rua Cimo de Vila”

Águas Frias - Chaves - Portugal

02Out DSC05167_ms

A fotografia de Mário Silva retrata uma cena bucólica numa rua de uma aldeia portuguesa, com uma luz dourada de fim de tarde.

Em primeiro plano, uma palmeira imponente estende as suas frondes sobre uma casa com um telhado vermelho e paredes de cor creme.

Um muro baixo de pedra e um arbusto verde frondoso separam a casa da rua de cimento.

A rua, em curva, conduz o olhar para o fundo da imagem, onde é possível vislumbrar as colinas e o céu.

A iluminação suave realça a textura das paredes, o verde das plantas e o ambiente de tranquilidade rural.

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O Segredo da Palmeira Centenária

A pequena rua de Cimo de Vila, na aldeia de Águas Frias, era um lugar de poucas novidades e muitas histórias.

Mas de todas as histórias, a mais falada era a da palmeira que se erguia à porta da casa de Dona Laida.

Diziam que aquela palmeira era a mais velha da aldeia, plantada por um marinheiro que tinha regressado das colónias há mais de cem anos.

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Dona Laida, uma mulher de sorrisos discretos e olhos azuis, vivia naquela casa há quase toda a sua vida.

A palmeira era a sua companheira, a sua guardiã.

O seu “telhado” de folhas era como um chapéu de sol, e a sua sombra, no verão, era um bálsamo para o calor.

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Mas o que ninguém sabia, exceto Dona Laida, era o segredo daquela árvore.

A palmeira, à medida que envelhecia, tinha adquirido a estranha capacidade de guardar as memórias das pessoas que passavam por ali.

As histórias dos namorados que deram as mãos, os risos das crianças que correram pela rua, as confidências dos vizinhos que se encontraram no fim do dia — tudo ficava lá, nas suas folhas verdes.

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Dona Laida, nos seus fins de tarde, sentava-se na varanda e ouvia a palmeira.

Não com os ouvidos, mas com o coração.

As memórias sussurravam nas frondes, um eco de todas as vidas que a palmeira tinha testemunhado.

Ouvia a canção de embalar que a sua mãe lhe cantava, o primeiro “olá” que o seu marido lhe deu, as promessas de futuro que a sua filha lhe fazia.

A palmeira era a sua arca do tesouro, o seu diário vivo, o seu elo com o passado.

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A fotografia de Mário Silva, com a sua luz suave e dourada, capturou um desses momentos.

Não apenas a beleza da casa e da árvore, mas a história silenciosa que ali se guardava.

A palmeira, naquele instante, era um farol de memórias, um testemunho vivo de todas as vidas que se tinham cruzado sob a sua sombra protetora.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
10
Set25

"Não é uma Aldeia qualquer ... é Águas Frias"


Mário Silva Mário Silva

"Não é uma Aldeia qualquer ... é Águas Frias"

10Set DSC03906_ms

A fotografia "Não é uma Aldeia qualquer... é Águas Frias" de Mário Silva capta uma vista panorâmica de uma aldeia aninhada numa paisagem rural.

Em primeiro plano, uma cerca rústica e vegetação verde enquadram o cenário.

A aldeia é composta por casas de diferentes cores, com telhados de cerâmica, espalhadas por uma colina.

A paisagem é dominada por uma vasta área arborizada e montanhosa no horizonte.

A fotografia é tirada num dia de poucas nuvens e a luz do sol realça as cores vivas das casas.

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A Lenda de Águas Frias

Há muito, muito tempo, quando as montanhas de Verín, na Espanha, eram ainda mais altas e o rio corria com mais força, existia uma aldeia que vivia sob uma maldição.

Era a "Aldeia das Águas Quentes", e a sua maldição era a falta de água.

Os rios estavam secos, as colheitas morriam e o povo sofria.

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Um dia, um viajante, um antigo peregrino, chegou à aldeia.

Ele, que tinha percorrido os caminhos de Santiago, tinha ouvido falar da maldição.

Ele disse ao povo:

- O vosso coração está cheio de ganância. O vosso amor é por ouro, não pela terra.

E disse-lhes que a única forma de quebrar a maldição era encontrar a fonte de "águas frias", uma fonte lendária que, segundo a lenda, se encontrava no coração da floresta.

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O povo riu-se do viajante.

Eles não acreditavam em lendas.

Mas o seu coração estava endurecido pela falta de água.

No entanto, uma jovem, de coração puro, que não tinha ganância, acreditou na lenda.

Ela, que tinha visto a sua família a sofrer, decidiu procurar a fonte.

A fotografia de Mário Silva, com as suas cores vibrantes e a sua beleza, capta o seu espírito.

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Ela entrou na floresta, aquela floresta densa e sombria que o fotógrafo capturou no horizonte.

Ela andou por dias, sem comer, sem beber, apenas com a esperança de encontrar a fonte.

Ela não tinha medo, pois o seu amor pela família e pelo seu povo era mais forte que o seu medo.

Ela não desistiu.

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E, num dia, quando a sua esperança estava quase a acabar, ela viu.

Não era uma fonte de água, mas uma fonte de luz.

Uma luz que brilhava por entre as árvores e que a chamava.

Ela seguiu a luz e chegou a uma clareira.

No centro da clareira, havia uma pequena fonte.

A água, límpida e fresca, parecia ter um brilho próprio.

Ela bebeu, e sentiu uma paz que nunca tinha sentido.

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A jovem voltou à aldeia e contou a sua história.

O povo, que tinha sofrido, finalmente acreditou.

Eles foram à fonte e beberam da água, e a sua ganância desapareceu, substituída pela bondade.

E, a partir desse dia, a maldição foi quebrada.

O rio voltou a correr, as colheitas voltaram a crescer, e a aldeia prosperou.

E a aldeia, que antes era conhecida como a "Aldeia das Águas Quentes", passou a ser conhecida como Águas Frias, uma homenagem à jovem corajosa e à sua fé.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
20
Ago25

Mestre Francisco Branco "Retalhos do Passado – Fragmentos de Madeira e Tempo"


Mário Silva Mário Silva

Mestre Francisco Branco

Retalhos do Passado – Fragmentos de Madeira e Tempo

 

Hoje venho dar a conhecer um verdadeiro artesão transmontano

Trata-se do Mestre Francisco Branco, que com pequenos pedaços de madeira ou fósforos recria magistralmente monumentos nacionais, como o castelo de Monforte ou a ponte romana de Chaves ou a igreja e capela da sua aldeia (Casas de Monforte- Águas Frias – Chaves – Portugal).

O material é simples, assim como as suas ferramentas rudimentares e manuais.

É de facto uma maravilha as obras que reproduz, digno de um Mestre.

Com uma habilidade natural consegue reproduzir muitas peças que já estão em total desuso, como a roda de fiar, teares, utensílios agrícolas e muitas outras peças que a sua memória traduz em realidade com uma beleza e minúcia que deixa o observador estupefacto.

Venho, também louvar a Associação Cultural de Casas de Monforte que recolheu e expôs os trabalhos do Mestre Francisco, numa Exposição com o título “Retalhos do Passado – Fragmentos de Madeira e Tempo”, no Centro de Convívio de Casas de Monforte.

É bom que se reconheça o talento e habilidade manual deste Homem e mostrar ao Mundo a sua Arte e que nos deixa as suas Obras que retratam uma realidade que são uma Memória de uma Cultura de Casas de Monforte, de Trás-os-Montes e Portugal.

Obrigado, Sr. Francisco Branco.

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Nota: As fotografias foram, simpaticamente, cedidas por Romeu Gomes

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Mário Silva 📷
10
Ago25

Hoje há Festa na Aldeia (Águas Frias – Chaves - Portugal)


Mário Silva Mário Silva

Hoje há Festa na Aldeia

Águas Frias – Chaves - Portugal

10Ago d2c1281d51a55fdd8b7b168fd744ce65_ms

Em Águas Frias, onde o granito abraça o céu,

E a brisa da serra sussurra segredos ao léu,

Hoje não há silêncio, nem o gado de um pastor,

Pois a aldeia inteira veste o seu melhor calor.

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Do palco, luzes pintam a noite sem fim,

Verdes e azuis, amarelos e carmim.

Acordes vibrantes, um som que nos guia,

A banda em palco, a dar vida à melodia.

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Multidão que se agita, num abraço sem par,

Faces sorridentes, a rir e a cantar.

Amigos que regressam, de terras distantes,

Para reviver memórias, momentos gigantes.

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O cheiro a entrecosto, a fumaça no ar,

Mistura-se à festa, ao doce luar.

Crianças que correm, em jogo e folia,

É a alegria que salta, um novo dia.

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Há mãos que se erguem, num brinde ao verão,

No peito um calor, sem igual emoção.

As vozes se juntam, num coro feliz,

Cantando a esperança, a vida que quis.

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Por entre os arcos, a luz a bailar,

Um elo se forma, de alma e de olhar.

Porque neste arraial, a alma se faz,

Mais forte, mais viva, em festejos e paz.

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Em Trás-os-Montes, a tradição a pulsar,

Que a aldeia respira, ao sol e ao luar.

Hoje há festa em Águas Frias, sim!

Um reencontro eterno, que não tem fim.

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Pois hoje há festa, e a aldeia irradia,

A chama da vida, a pura energia.

Em Águas Frias, em cada canção,

Pulsa a alma de um povo, em plena união.

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Texto & Fotografia digital: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
09
Ago25

"A Festa de Verão" - sábado (Águas Frias - Chaves - Portugal)


Mário Silva Mário Silva

"A Festa de Verão"

sábado

(Águas Frias - Chaves - Portugal)

09Ago DSC01263_ms

No ano de 2025, a pequena aldeia de Águas Frias, aninhada no concelho de Chaves, em Portugal, vestiu-se de gala para mais uma edição da sua já tradicional "Festa de Verão".

Longe de ser apenas um mero evento, esta celebração transformou-se num verdadeiro epicentro de confraternização, onde o passado e o presente se entrelaçaram em abraços apertados, sorrisos rasgados e olhares marejados de emoção.

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Desde o final da tarde, o largo de Águas Frias começou a encher-se, à medida que os primeiros acordes da música tradicional portuguesa se faziam ouvir.

Mas a magia da Festa de Verão vai muito além do ritmo contagiante das concertinas e dos cantares tradicionais.

É nos encontros, muitas vezes inesperados, que reside a verdadeira essência desta celebração.

Amigos de infância que se reencontram após anos de distância, famílias que se reúnem vindas dos quatro cantos do mundo, e novas amizades que florescem sob o calor das noites de verão.

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A saudade, sentimento tão intrínseco à alma portuguesa, pairava no ar, mas era uma saudade doce, temperada pela alegria do regresso.

Era visível nos olhares de quem emigrou e que, por estes dias, volta à sua terra natal para reviver as memórias e fortalecer os laços.

As conversas estendiam-se pela noite dentro, repletas de histórias contadas e recontadas, de risadas partilhadas e de momentos de cumplicidade que aqueciam o coração.

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A emoção era palpável em cada rosto, em cada abraço apertado.

As recordações desfilavam livremente, desde as brincadeiras de criança nos campos em redor, até aos bailes de outrora na mesma praça.

Tudo contribuía para um ambiente de pura nostalgia, mas uma nostalgia feliz, que celebrava a vida e a riqueza das experiências partilhadas.

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E, claro, não faltou a alegria, em abundância, para encher a festa de cor e vivacidade.

Crianças corriam e brincavam, casais dançavam ao som da música, e grupos de amigos brindavam à vida.

A tasquinha da comissão de festas, repleta de iguarias regionais e o famoso vinho de Chaves, eram pontos de paragem obrigatória, adicionando sabor à festa.

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A Festa de Verão de Águas Frias, em 2025, reafirmou-se como um evento que transcende o mero entretenimento.

É um hino à comunidade, à memória e, acima de tudo, à alegria de viver e de partilhar.

Um convite irrecusável para que, ano após ano, todos os caminhos voltem a confluir em Águas Frias, onde a confraternização, os encontros, os reencontros, a saudade, a emoção e a recordação se misturam numa celebração inesquecível de muita, muita alegria.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
08
Ago25

A Festa de Verão em Águas Frias (08, 09 e 10 de agosto de 2025): Um Brilho de Tradição e Alegria em Chaves


Mário Silva Mário Silva

A Festa de Verão em Águas Frias

(08, 09 e 10 de agosto de 2025)

Um Brilho de Tradição e Alegria em Chaves

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Águas Frias, uma pitoresca localidade do concelho de Chaves, em Portugal, ganha um brilho especial a cada verão com a celebração da sua afamada "Festa de Verão".

Este evento anual, que irradia cor e animação, é um verdadeiro cartão de visitas da cultura local, atraindo não só os seus residentes, mas também visitantes que procuram vivenciar a autenticidade e a alegria transmontana.

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A festa é um espetáculo para os sentidos, onde a cor se manifesta nas vibrantes decorações festivas e nos fogos de artifício que pintam o céu noturno.

A música é o motor da folia, com o som a ecoar pelas ruas, convidando todos a participar na dança e na celebração.

Para garantir que a sede não atrapalhe a diversão, um bar aberto oferece bebidas geladas, enquanto o bom vinho da região e os petiscos típicos deliciam os paladares mais exigentes.

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A tradição e a diversão coexistem em perfeita harmonia.

Os entusiastas de jogos de cartas reúnem-se para o emocionante Torneio de Sueca, onde a destreza e o convívio se misturam.

A beleza e o carisma da juventude local são celebrados nos concursos de mini e de miss Águas Frias, momentos de descontração e aplausos.

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Os morteiros, com o seu estrondo característico, assinalam os momentos de maior efervescência, enquanto a Missa e a Procissão trazem um lado mais solene e tradicional à festa, reforçando os laços de fé e comunidade.

O ponto alto da programação musical é o concerto com "Paulo Raiz & Amigos", que contagia a assistência com a sua energia e repertório animado.

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Para culminar as celebrações, o céu de Águas Frias transforma-se num palco de luz e cor com um grandioso espetáculo de fogo de artifício, um momento que capta a atenção de todos e encerra a festa com chave de ouro.

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"A Festa de Verão" em Águas Frias é, em suma, uma experiência inesquecível de cor, música, gastronomia e convívio, onde a alegria transborda e a identidade de uma comunidade se celebra em pleno.

É um evento que reafirma a hospitalidade de Chaves e deixa em cada participante a vontade de regressar no ano seguinte para mais uma dose desta contagiante alegria.

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Texto & Fotomontagem: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
07
Ago25

Em Tempos Áureos, Bastava Uma Concertina Para Haver Festa: A Alma de Águas Frias


Mário Silva Mário Silva

Em Tempos Áureos, Bastava Uma Concertina Para Haver Festa:

A Alma de Águas Frias

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Em Águas Frias, como em tantas aldeias recônditas de Trás-os-Montes, o conceito de "festa" era algo intrínseco ao pulsar da vida comunitária, algo que florescia com simplicidade e genuinidade.

Longe dos palcos grandiosos e das luzes néon que hoje caracterizam muitos arraiais, houve um tempo – os "tempos áureos" – em que a alegria nascia da partilha, da espontaneidade e, acima de tudo, de um instrumento mágico: a concertina.

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Naqueles tempos, a vida era feita de trabalho árduo no campo, de dias longos sob o sol e de invernos rigorosos.

Mas quando a semente estava lançada, a colheita guardada ou uma efeméride se anunciava, a aldeia ansiava pelo momento de esquecer as fadigas e celebrar.

Não era preciso um orçamento milionário ou uma banda de renome.

Bastava que um dos rapazes da aldeia, ou alguém de uma aldeia vizinha, pegasse na sua concertina.

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Eram jovens como o Serafim, que tinha um ouvido apuradíssimo e dedos que pareciam bailar sobre os botões do fole.

A sua concertina, com os seus foles coloridos e um som que era a própria voz da serra, era a orquestra inteira.

Bastava a melodia de uma chula, de um malhão ou de um vira, e num instante, o café, o “concelho” ou o recreio da escola transformava-se num salão de baile improvisado.

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As portas abriam-se, trazendo cadeiras e bancos para os mais velhos, que se sentavam à roda, batendo o ritmo com os pés e cantando as letras que sabiam de cor.

Os jovens, com os corações cheios de energia, formavam rodas para as danças tradicionais, os rapazes cortejando as raparigas com passos apressados e sorrisos cúmplices.

O pó levantava-se do chão batido, as saias rodopiavam, e o ar enchia-se de risos, gritos de alegria e o inconfundível som do acordeão a vibrar.

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A festa não era um evento planeado ao pormenor; era um acontecimento orgânico.

Começava ao fim do dia, depois do trabalho, e estendia-se pela noite adentro, sob o luar ou a luz bruxuleante de um candeeiro.

As vizinhas traziam folar caseiro, tigelas de tremoços e o vinho tinto da produção própria, forte e generoso.

As cantorias, muitas vezes improvisadas, contavam histórias de amores, de desaires, de desafios do quotidiano.

A comunidade inteira, sem distinção de idades ou posses, participava.

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Naqueles encontros, fortaleciam-se os laços, esqueciam-se as desavenças, celebravam-se os casamentos e os batizados, e choravam-se as ausências.

A concertina não era apenas um instrumento musical; era o catalisador da alma da aldeia, um fio condutor que unia as gerações e mantinha viva a chama da identidade transmontana.

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Hoje, os arraiais de Águas Frias são maiores, mais ruidosos, com palcos imponentes e luzes cintilantes, como a fotografia de Mário Silva tão bem capta.

Mas a memória daqueles "tempos áureos" permanece.

A sabedoria popular sabe que, no fundo, a verdadeira festa não reside no espetáculo, mas na essência do convívio, na partilha simples e na alegria que floresce quando a comunidade se reúne.

E, para isso, ainda hoje, o som de uma concertina tem o poder de despertar a alma da aldeia e fazer os corações de Águas Frias dançar.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
06
Ago25

Águas Frias: Filha de Rio Livre, Alma Transmontana


Mário Silva Mário Silva

Águas Frias: Filha de Rio Livre, Alma Transmontana

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Aninhada nas encostas verdejantes do concelho de Chaves, no coração de Trás-os-Montes, jaz a pitoresca aldeia de Águas Frias.

O seu nome, que evoca a frescura das suas nascentes e ribeiras, esconde uma história rica e uma ligação profunda a um passado remoto, sendo herdeira e "filha" do antigo concelho de Rio Livre, cuja memória se ergue no imponente Castelo de Monforte de Rio Livre.

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A história de Águas Frias e da sua região está intrinsecamente ligada à vida e à defesa da fronteira.

O Castelo de Monforte de Rio Livre, que coroa uma colina rochosa a poucos quilómetros de Águas Frias, é um testemunho silencioso de séculos de batalhas, conquistas e reconquistas.

Fundado, segundo a lenda, por D. Afonso Henriques, e mais tarde reforçado e dotado de foral por reis como D. Dinis, o castelo foi o centro nevrálgico de um vasto território, o concelho de Rio Livre, que durante séculos desempenhou um papel crucial na defesa do reino português contra as incursões castelhanas.

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Águas Frias, situada na órbita deste poderio medieval, beneficiou da sua proteção e da dinâmica socioeconómica que um centro administrativo e militar proporcionava.

As suas terras férteis, irrigadas pelas águas que lhe deram o nome, eram cultivadas com esmero, e os seus habitantes, maioritariamente ligados à agricultura e à pastorícia, contribuíam para a subsistência do concelho.

A vida na aldeia, embora dura, era pautada por um forte sentido de comunidade, moldado pelas tradições e pela paisagem transmontana.

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Com a reforma administrativa do século XIX, o concelho de Rio Livre foi extinto, e as suas freguesias, incluindo a de Águas Frias, foram integradas no concelho de Chaves.

No entanto, a memória daquela antiga jurisdição permaneceu gravada na identidade local.

O Castelo de Monforte de Rio Livre, embora hoje, quase em ruínas, continua a ser um guardião silencioso, um marco paisagístico e um símbolo da resiliência e da história daquela terra.

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Hoje, Águas Frias mantém o seu encanto rural, com as suas casas de granito, muitas delas recuperadas, e a sua paisagem de socalcos e campos verdejantes.

A aldeia vive o seu ritmo tranquilo, pontuado pelas estações do ano e pelas festividades religiosas e populares, como a famosa Festa de Verão, que atrai anualmente os seus filhos emigrados e visitantes, revitalizando as ruas e fortalecendo os laços comunitários.

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Águas Frias é, assim, mais do que uma simples aldeia transmontana.

É um fragmento vivo de um passado glorioso, uma "filha" que herdou a robustez e a autenticidade de Rio Livre.

Caminhar pelas suas ruas é sentir o eco da história, a força do granito e a pureza das águas, que continuam a moldar a vida e o carácter de um povo profundamente enraizado na sua terra.

É um convite à descoberta de um Portugal rural e genuíno, onde a memória e a tradição se fundem na paisagem.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
02
Ago25

"A aldeia de Águas Frias" … e uma estória sensitiva


Mário Silva Mário Silva

"A aldeia de Águas Frias"

… e uma estória sensitiva

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A fotografia de Mário Silva, intitulada "A aldeia de Águas Frias", oferece uma vista panorâmica e elevada de uma aldeia típica transmontana, aninhada numa encosta.

A imagem é dominada por um aglomerado de casas com telhados de telha cerâmica de tons avermelhados e alaranjados, que se espalham de forma orgânica pelo terreno.

As paredes das casas variam em cor, desde os tons mais claros de reboco a alguns edifícios com fachadas mais escuras ou de pedra.

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A aldeia está densamente rodeada por uma paisagem natural exuberante.

Árvores de folhagem verde escura, arbustos e áreas de mato preenchem os espaços entre as casas e estendem-se para o fundo, onde colinas e montanhas se perdem no horizonte.

A vegetação é rica, com manchas de diferentes tons de verde, e há sinais de terreno cultivado ou vegetação rasteira em algumas áreas.

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No primeiro plano da fotografia, vê-se parte de uma cerca ou vedação de arame, e um ramo de árvore ligeiramente desfocado na parte superior esquerda, que enquadra a vista da aldeia.

A luz parece ser a de um dia claro, mas com uma certa suavidade que realça as cores e as texturas.

A imagem transmite uma sensação de tranquilidade, autenticidade e a beleza intemporal das aldeias de Trás-os-Montes, que coexistem em harmonia com a natureza circundante.

 

Estória Emocionante: O Fio Invisível de Águas Frias

Águas Frias… O nome sussurrava-se como um segredo entre os vales escarpados de Trás-os-Montes.

Vista de cima, como na fotografia de Mário Silva, a aldeia parecia um rosário de telhados de barro, uma mancha de vida salpicada no verde denso das serras.

Mas para quem lá vivia, e para os que de lá partiram, era muito mais: era o coração que batia no peito da memória, um fio invisível que ligava as almas às pedras e à terra.

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Naquela aldeia, onde o tempo parecia ter preguiça de correr, vivia Gabriela.

Gabriela tinha os olhos tão azuis como o céu de agosto e as mãos calejadas de uma vida inteira a lavrar a terra e a cuidar da família.

Ela vira os jovens partirem, um a um, em busca de promessas de cidade grande.

O seu neto, Tiago, um rapaz de alma irrequieta e sorriso fácil, tinha sido um deles.

Partira para Lisboa, anos antes, e as visitas tornavam-se cada vez mais raras.

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Gabriela sentia a falta de Tiago em cada pedra fria da casa, em cada silêncio prolongado.

Mas o seu amor por Águas Frias era inabalável.

Ela falava com as árvores, com o rio, com os telhados que se aninhavam uns nos outros, como velhos amigos.

- Não vos abandono - sussurrava ela - enquanto houver vida em mim, haverá vida aqui.

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Um dia, chegou a notícia: o Tiago ia casar.

E não seria em Águas Frias.

O coração de Gabriela apertou.

Sentiu a tristeza profunda de ver o seu laço com o neto a desvanecer-se, a sua aldeia a perder mais um pedaço de si.

Mas não disse nada.

Apenas, na quietude da sua horta, colheu as mais belas flores de alfazema e secou-as com um carinho que só uma avó pode ter.

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No dia do casamento, Gabriela, já frágil, não pôde viajar.

Mas enviou a Tiago um pequeno pacote.

Dentro, não estava a alfazema seca, mas algo mais.

Era uma fotografia de Mário Silva, tirada anos antes, uma vista panorâmica de Águas Frias.

A imagem que, agora, observamos.

E junto à fotografia, uma carta, escrita com caligrafia tremida:

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"Meu querido neto,

Nesta aldeia, onde nasceste, cada telhado conta uma história, cada árvore guarda um segredo.

Vês a cor dos telhados ao sol? É a cor do nosso sangue, da nossa paixão por esta terra.

Vês o verde das montanhas? É a força que nos alimenta, a resiliência das nossas gentes.

Sei que a vida na cidade te chama, e que as tuas escolhas são as tuas.

Mas lembra-te: não importa onde estejas, o fio que te liga a estas pedras, a estas gentes, é invisível, mas inquebrável.

É o amor da tua avó, o cheiro da tua terra, a força dos teus antepassados.

Leva esta imagem contigo, não como uma despedida, mas como uma lembrança de que um pedaço de ti estará sempre aqui.

Que esta beleza transmontana, que é a tua herança, te guie e te dê força, tal como me guia e me dá força a mim.

Com todo o meu amor,

A tua avó Gabriela."

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Tiago recebeu o pacote no dia do seu casamento.

Ao ver a fotografia, uma onda de emoção invadiu-o.

Os telhados, as montanhas, a simplicidade e a beleza que nunca antes tinha apreciado na sua totalidade.

Leu a carta e as lágrimas vieram-lhe aos olhos.

Aquele dia, ao lado da noiva, ele percebeu que, por mais longe que fosse, a sua alma tinha raízes profundas em Águas Frias.

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A partir desse dia, Tiago não só revisitou a aldeia com mais frequência, mas levou consigo a essência de Trás-os-Montes para a sua nova vida.

Contou as histórias da sua avó, mostrou a fotografia aos seus amigos, e o fio invisível que o ligava à sua terra tornou-se mais forte.

A fotografia de Mário Silva não era apenas uma imagem; era o testemunho do amor incondicional de uma avó, da beleza intemporal de uma aldeia e da inquebrantável ligação entre as Gentes transmontanas e a sua terra, uma ligação que, por mais que os caminhos se separem, jamais se romperá.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷

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