É de referir que esta freguesia é composta pelas aldeia de Águas Frias (sede); Assureiras (de Baixo e do Meio); Casas de Monforte; Avelelas e Sobreira.
É neste edifício que são tomadas as decisões para a conservação, perseveração e melhoramentos das Aldeias.
É a sede do poder local.
É aqui que o presidente e o executivo ponderam, auscultam opiniões e claro tomam as decisões que, naquele momento, consideram as mais úteis para a vida das Gentes da Freguesia.
“Toda decisão acertada é proveniente de experiência. E toda experiência é proveniente de uma decisão não acertada.”
Albert Einstein
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“Quando você precisa tomar uma decisão e não toma, está tomando a decisão de não fazer nada.”
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“Ao tomar uma decisão de menor importância, eu descobri que é sempre vantajoso considerar todos os prós e contras. Em assuntos vitais, no entanto, tais como a escolha de um companheiro ou profissão, a decisão deve vir do inconsciente, de algum lugar dentro de nós. Nas decisões importantes da vida pessoal, devemos ser governados, penso eu, pelas profundas necessidades íntimas da nossa natureza.”
Sigmund Freud
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“Geralmente erra mais quem decide cedo do que quem decide tarde; mas, depois de tomada a decisão, é necessário recuperar o atraso da sua execução.”
Francesco Guicciardini
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Quem não se ocupa de política já tomou a decisão política de que gostaria de se ter poupado: serve o partido dominante.
Uma parcela da aldeia transmontana- Águas Frias -Chaves – Portugal
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Trás-Os-Montes, região que Miguel Torga tanto adorava e que imortalizou nos seus vários Livros e Diários.
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COMEÇO
“Magoei os pés no chão onde nasci. Cilícios de raivosa hostilidade Abriram golpes na fragilidade De criatura Que não pude deixar de ser um dia. Com lágrimas de pasmo e de amargura Paguei à terra o pão que lhe pedia.
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Comprei a consciência de que sou Homem de trocas com a natureza. Fera sentada à mesa Depois de ter escoado o coração Na incerteza De comer o suor que semeou, Varejou, E, dobrada de lírica tristeza, Carregou.”
Uma janela de uma casa antiga e já em estado de deterioração … a janela sem portadas e caixilhos … está sempre aberta … deixando a nu a progressiva ruína … as telhas caídas, as traves corroídas pelo tempo … a solidão.
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As Janelas do Meu Quarto
. Tenho quarenta janelas, nas paredes do meu quarto, sem vidros nem bambinelas, posso ver através delas, o mundo em que me reparto. . Por uma entra a luz do sol, por outra a luz do luar, por outra a luz das estrelas, que andam no céu a rolar. . Por esta entra a Via Láctea, como um vapor de algodão, por aquela a luz dos homens, pela outra a escuridão. . Pela maior entra o espanto, pela menor a certeza, pela da frente a beleza, que inunda de canto a canto. . Pela quadrada entra a esperança, de quatro lados iguais, quatro arestas, quatro vértices, quatro pontos cardeais. . Pela redonda entra o sonho, que as vigias são redondas, e o sonho afaga e embala, à semelhança das ondas. . Por além entra a tristeza, por aquela entra a saudade, e o desejo, e a humildade, e o silêncio, e a surpresa. . E o amor dos homens, e o tédio, e o medo, e a melancolia, e essa fome sem remédio, a que se chama poesia. . E a inocência, e a bondade, e a dor própria, e a dor alheia, e a paixão que se incendeia, e a viuvez, e a piedade. . E o grande pássaro branco, e o grande pássaro negro, que se olham obliquamente, arrepiados de medo. . Todos os risos e choros, todas as fomes e sedes, tudo alonga a sua sombra, nas minhas quatro paredes. . Oh janelas do meu quarto, quem vos pudesse rasgar, com tanta janela aberta, falta-me a luz e o ar. .
Com uma grande área de distribuição esta espécie encontra-se no Norte de África, Europa e Ásia. Em Portugal ocupa todo o país e é comum. No entanto, é uma espécie em declínio na Europa Central e em Portugal está em regressão no litoral e zonas urbanas com maior pressão humana. Por esta razão é a única espécie de borboletas em Portugal protegida pela “Convenção de Berna” e pela Diretiva Europeia “Espécies e Habitats”.
Esta espécie ocorre em diferentes tipos de habitats, preferindo orlas de campos de madressilva e de pântanos, prados húmidos e abrigados. Também se pode observar em prados de solos calcários, florestas de folhosas e sistemas agro-florestais.
Os adultos voam entre março e junho, reproduzindo-se uma vez por ano. A postura é feita em grandes grupos, em várias camadas, sob as folhas das plantas hospedeiras, madressilvas, Iíngua-de-ovelha e suspiros-roxos. As lagartas são escuras, gregárias e hibernam. As crisálidas são claras com faixas pretas e pontos cor de laranja.
As lagartas jovens vivem em teias comunitárias tecidas entre as folhas das plantas hospedeiras, tornando-se visíveis no final de agosto. No outono as lagartas constroem teias mais resistente e mais perto do solo, onde permanecem durante o inverno. Na primavera, começam a dispersar-se tornando-se solitárias, altura em que procuram lugar para crisalidar. Por ainda ser abundante em Portugal, esta espécie pode ser usada como modelo ecológico para prever consequências de alterações globais e fragmentação do habitat.
Como a pandemia causada pelo vírus COVID-19, continua e obriga, para a proteção de todos, a confinação social. Assim, tal como no Domingo de Ramos, não haverá qualquer manifestação religiosa e portanto, não há a eucaristia da Páscoa e a tradicional e emotiva Visita Pascal.
2020 ficará na nossa memória como um ano diferente ... mas a memória não se apaga.
Assim, em cada casa, poderemos relembrar como foram as anteriores Visitas Pascais, nesta pequena mas bela aldeia transmontana.
O meu singelo contributo será, partilhar os registos fotográficos que captei em anteriores anos, desta tradicional Visita Pascal pelas casas, que se abriam para receber Cristo Ressuscitado.
Tempo que proporciona mais recolhimento, mais reflexão, mais importância à Familia, mais importância a quem sofre, mais valor pela saúde, mais reconhecimento por Aquilo que não vemos
Um horizonte, — a saudade Do que não há de voltar; Outro horizonte, — a esperança Dos tempos que hão de chegar; No presente, — sempre escuro,— Vive a alma ambiciosa Na ilusão voluptuosa Do passado e do futuro.
... o gatito que "fugiu" para o campo para evitar o contacto social com outros gatos ...
Os doces brincos da infância Sob as asas maternais, O vôo das andorinhas, A onda viva e os rosais; O gozo do amor, sonhado Num olhar profundo e ardente, Tal é na hora presente O horizonte do passado.
... casa na Aldeia (Lampaça) ...
Ou ambição de grandeza Que no espírito calou, Desejo de amor sincero Que o coração não gozou; Ou um viver calmo e puro À alma convalescente, Tal é na hora presente O horizonte do futuro.
... ave colorida (Pisco de peito ruivo - "Erithacus rubecula") de belo canto, alegrando o "silêncio" dos campos ...
No breve correr dos dias Sob o azul do céu, — tais são Limites no mar da vida: Saudade ou aspiração; Ao nosso espírito ardente, Na avidez do bem sonhado, Nunca o presente é passado, Nunca o futuro é presente.
... a igreja matriz, mesmo em situação de "quarentena" ladeada de árvores "vestidas" de flores brancas ...
Que cismas, homem? – Perdido No mar das recordações, Escuto um eco sentido Das passadas ilusões. Que buscas, homem? – Procuro, Através da imensidade, Ler a doce realidade Das ilusões do futuro.
... galinhas caseiras Vivem alegremente (afinal não é a "gripe aviária") ...
Só quem não sabe a terra que pisa se pode admirar deste março, marçagão com manhãs de inverno e tardes de verão, do friozinho nocturno, das intermitências de chuva, e, também, das abertas de sol que logo põem um frémito de esperança na aspereza do tempo.
... os "pinchéis" - flor campestre que anuncia a chegada da primavera ...
A neve branca das cerejeiras, como eu costumo chamar, às flores brancas que povoam agora o lugar do Passal e aqui e além pelos campos da Aldeia.
... as amarelas mimosas e brancas flores de árvores de fruto, alindam
a perspetiva da torre sineira da igreja ...
Por vezes ando por esse território de fantasia, assim podemos dizer, e mais uma vez aquele sentimento de deslumbramento me encheu os olhos.
... uma velha nora que já tirou muita água para regas os terrenos envolventes ...
É decerto uma coisa estupenda poder caminhar pelos pomares, rodeado de milhares de flores brancas, descobrir pequenos detalhes na paisagem, tentar arquivar na memória, tanto quanto for possível, esse sortilégio, como coisa pessoal e intransmissível.
... uma casa na Aldeia ...
A mancha branca, que domina o Passal, apesar da chuva insistente, resiste. Todos os dias, que posso, para lá olho e fico feliz por elas resistirem. Penso, aliás, que o cartaz atravessa também as quatro estações.
... castelo de Monforte de Rio Livre (monumento nacional), por entre as árvores ainda despidas ...
Vemos as flores e estamos já a sonhar com as cerejas vermelhas e depois porventura com o outono na Aldeia que é outra imagem mágica.
... cavando a terra seca ...
Poucas árvores têm tanta presença na cultura. Desde "O Cerejal", de Tchekov, àquela mítica canção da Comuna com que Yves Montand nos fazia bater mais depressa o coração, "Le Temps des Cerises", até à poesia em que a cereja se transforma abundantemente em metáfora de amor.
... perdiz, olhando de lado, com ar desconfiado ...
A natureza é mãe de todos E a todos trata com cuidado Pois como toda mãe que ama Não quer seu filho maltratado …
... a diferença na igualdade ...
Mas o homem, filho desobediente E muitas vezes mal educado Não dá a mãe natureza O carinho que devia ser dado …
... o relógio de sol na igreja matriz (não precisa de se lhe dar corda, colocar pilhas ou ligar à corrente) mas temperamental como é só mostra as horas se o sol aparecer ...
Polui o ar , contamina a água Leva destruição para todo lado Corta a árvore , mata a planta Mata até o bicho , coitado !…
... casas na Aldeia, junto à estrada nacional ...
Ei homem , fique esperto Deixe de ser atolado Aprenda a preservar e reciclar E viva bem sossegado !
... no meio do verde sempre aparece uma árvore que para se destacar se vestiu de alvas flores
Amar não é só a Natureza e Pessoas, mas passa por todas as coisas boas da Vida, exercitando todos os nossos sentidos: visão; audição; olfato e também o sabor ....
... imagem de rara beleza, mas ainda melhor será a sua degustação.
Este fumeiro não é industrial,
mas sim fruto, de mãos hábeis e fiéis à ancestral tradição ...
... é preciso limpar o terreno das ervas daninhas, para se poder iniciar as sementeiras e plantações ...
“A névoa involve a montanha, Húmido, um frio desceu. O que é esta mágoa estranha Que o coração me prendeu?
... uma casa que ainda nos relembra o passado da Aldeia ...
Parece ser a tristeza De alguém de quem sou actor, Com fantasiada viveza Tornada já minha dor.
... os potes de ferro, em lareira limpa ...
Mas, não sei porquê, me dói Qual se fora eu a ilusão; E há névoa em tudo o que foi E frio em meu coração.”
Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa
... a igreja matriz banhada pela luz brilhante dos esporádicos raios de sol ...
Em 1930, Fernando Pessoa publicou num do jornal açoriano um poema até então inédito. “Névoa” apareceu junto a “Minuete Invisível”, que tinha sido apresentado pela primeira vez no primeiro (e único) número da Portugal Futurista, e a um texto de apresentação assinado pelo jornalista Rebelo de Bettencourt.
... o gato apanhando os preciosos raios de sol em dias de inverno ...
Depois dessa data, o poema não voltou a ser publicado. Caiu no esquecimento, até que um investigador o encontrou, por acaso, mais de 80 anos depois.
... uma antiga e tradicional varanda transmontana (que penso que já não existe) ....
Agora, entrou finalmente para o corpus pessoano, ao ser incluído no mais recente volume da edição crítica da Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM).
... o flamejante pôr do sol, atrevido, em dias de inverno ...
... o branco é a cor dominante em dias de nevada ...
"Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável, Porque para o meu ser adequado à existência das cousas O natural é o agradável só por ser natural.
... a importância da caixa de correio ...
Aceito as dificuldades da vida porque são o destino, Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno — Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita, E encontra uma alegria no facto de aceitar — No facto sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.
... o ferrolho (a fechadura que não precisava de código nem ligação à Central de Segurança) ...
Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me acontece Senão o Inverno da minha pessoa e da minha vida? O Inverno irregular, cujas leis de aparecimento desconheço,
Mas que existe para mim em virtude da mesma fatalidade sublime, Da mesma inevitável exterioridade a mim,Que o calor da terra no alto do Verão E o frio da terra no cimo do Inverno.
... carregando os fardos de feno para as vacas ...
Aceito por personalidade. Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos, Mas nunca ao erro de querer compreender demais,
... uma casa, restaurada, na Aldeia ...
Nunca ao erro de querer compreender só corri a inteligência, Nunca ao defeito de exigir do Mundo Que fosse qualquer cousa que não fosse o Mundo."
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" Heterónimo de Fernando Pessoa
... o cavalo que interrompeu a sua refeição para posar para a foto ...
Ontem o dia amanheceu sem cor, sem rumo e sem graça.
O sol morno do inverno brilhava tão intensamente que chegava a incomodar os meus olhos cansados de enxergar um mundo que se esconde tão longe de mim.
... a água corre com movimento lento e cadenciado pelos ribeiros ...
Meus pensamentos flutuavam no vazio e as minhas esperanças fugiram em revoada pelo céu.
Acordar no limiar da tristeza é como abrir as janelas da alma e ver um jardim soterrado pelos escombros do tempo.
... o branco da igreja matriz destacando-se por entre o castanho do arvoredo ...
A vida se paralisa quando sorrir se torna um fardo.
Ontem eu fui assim, mas eu me resignei por saber que eu já estive presente em dias melhores e piores também.
Viver é um risco que se corre aos pouquinhos.
Não adianta ter pressa e nem ficar esperando que novidades caiam do céu.
... a concha no alto do pórtico de Cimo de Vila (símbolo do Caminho de Santiago ?) ...
E, ao caminharmos nessa toada que acontece a deriva da nossa vontade, jamais viveremos um dia igual ao outro.
É inevitável que bons e maus momentos se alternem durante a nossa trajetória.
Mas, graças a Deus, se ontem as coisas não estiveram tão bem quanto eu desejei pra mim, hoje tenho pela frente a grande chance de mudar tudo e fazer do meu dia, um dia muito melhor de se viver.
... apoiados nos seus cajados, os pastores vigiando o rebanho de ovelhas ...
Nem sempre tão doce, nem sempre tão amargo. O que pode nos inundar de esperança é a possibilidade permanente de podermos misturar um pouco dos prazeres e das dores que vivemos, para atingirmos uma medida ideal de alegria que possa nutrir as nossas vidas.
Ontem o dia amanheceu sem cor, sem rumo e sem graça...
... parcela da Aldeia por entre os grelos floridos ...
Mas, apesar de qualquer contratempo que eu possa ter pela frente, sempre terei a oportunidade de poder dizer a mim mesmo que um dia triste é coisa que passa, mas a felicidade quando chega, chega cheia de vontade de parar as horas e se eternizar.
"Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva Não faz ruído senão com sossego. Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva Do que não sabe, o sentimento é cego. Chove. Meu ser (quem sou) renego..".
... A cancela meio aberta ou ... meio fechada ...
Tão calma é a chuva que se solta no ar (Nem parece de nuvens) que parece Que não é chuva, mas um sussurrar Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece. Chove. Nada apetece...
... um olhar restrito, para a Aldeia ...
Não paira vento, não há céu que eu sinta. Chove longínqua e indistintamente, Como uma coisa certa que nos minta, Como um grande desejo que nos mente. Chove. Nada em mim sente...
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
... a fonte ... que já foi de muito valor para a Aldeia mas que só ficou na memória dos mais antigos, da sua importância e valor para a Aldeia de antão ..
Dias de hibernar
Inverno: frio... Chuva...
Hora de resgatar cachecol, luva
Botas, casacos... Pura elegância!
E neste quesito, já tenho vivência.
Bom seria não ter que sair.
... uma casa restaurada ... em cor vibrante ...
Um café ou chá quentes
O escalda-pé ou aspirina
O inverno nos deixa dormentes
Apegados à cama, é sina.
... o cordeiro e a Aldeia como fundo ...
Ainda que o frio lá fora
Embace o vidro e a alma
O sereno fino cai e chora
A solidão da noite calma.
... pôr do sol neste pequena, mas bela Aldeia transmontana ...
Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade, e o coração, depois, não hesite.
... vista sobre Cimo de Vila ...
Ora, o que pretendo mostrar, meu e de todos os que queiram merecê-lo, não só existe, como é dos mais belos que se possam imaginar. Começa logo porque fica no cimo de Portugal, como os ninhos ficam no cimo das árvores para que a distância os torne mais impossíveis e apetecidos.
E quem namora ninhos cá de baixo, se realmente é rapaz e não tem medo das alturas, depois de trepar e atingir a crista do sonho, contempla a própria bem-aventurança.
Vê-se primeiro um mar de pedras. Vagas e vagas sideradas, hirtas e hostis, contidas na sua força desmedida pela mão inexorável dum Deus criador e dominador.
Tudo parado e mudo. Apenas e move e se faz ouvir o coração no peito, inquieto, a anunciar o começo duma grande hora. De repente, rasga a crosta do silêncio uma voz de franqueza desembainhada:
– Para cá do Marão, mandam os que cá estão!…
... o cão atento, vigiando a entrada de casa ...
Sente-se um calafrio. A vista alarga-se de ânsia e de assombro. Que penedo falou? Que terror respeitoso se apodera de nós?
Mas de nada vale interrogar o grande oceano megalítico, porque o nume invisível ordena: – Entre!
A gente entra, e já está no Reino Maravilhoso.
... ó lua que vais tão alto, iluminando a noite desta terra do Reino Maravilhoso ...
A autoridade emana da força interior que cada qual traz do berço. Dum berço que oficialmente vai de Vila Real a Chaves, de Chaves a Bragança, de Bragança a Miranda, de Miranda a Régua.
Um mundo! Um nunca acabar de terra grossa, fragosa, bravia, que tanto se levanta a pino num ímpeto de subir ao céu, como se afunda nuns abismos de angústia, não se sabe por que telúrica contrição.
Terra-Quente e Terra-Fria. Léguas e léguas de chão raivoso, contorcido, queimado por um sol de fogo ou por um frio de neve. Serras sobrepostas a serras. Montanhas paralelas a montanhas. Nos intervalos, apertados entre os rios de água cristalina, cantantes, a matar a sede de tanta angústia.
E de quando em quando, oásis da inquietação que fez tais rugas geológicas, um vale imenso, dum húmus puro, onde a vista descansa da agressão das penedias. Mas novamente o granito protesta. Novamente nos acorda para a força medular de tudo. E são outra vez serras, até perder de vista.
... planta encarnada que rompe por entre as folhas já a entrarem em decomposição ...
Não se vê por que maneira este solo é capaz de dar pão e vinho. Mas dá. Nas margens de um rio de oiro, crucificado entre o calor do céu que de cima o bebe e a sede do leito que de baixo o seca, erguem-se os muros do milagre.
Em íngremes socalcos, varandins que nenhum palácio aveza, crescem as cepas como os manjericos às janelas. No Setembro, os homens deixam as eiras da Terra-Fria e descem, em rogas, a escadaria do lagar de xisto. Cantam, dançam e trabalham. Depois sobem.
E daí a pouco há sol engarrafado a embebedar os quatro cantos do mundo. A terra é a própria generosidade ao natural. Como num paraíso, basta estender a mão.
Bata-se a uma porta, rica ou pobre, e sempre a mesma voz confiada nos responde: – Entre quem é! Sem ninguém perguntar mais nada, sem ninguém vir à janela espreitar, escancara-se a intimidade duma família inteira. O que é preciso agora é merecer a magnificência da dádiva.
... nicho de S.ta Rita - manifestação da devoção cristã das Gentes da Aldeia ...
Nos códigos e no catecismo o pecado de orgulho é dos piores. Talvez que os códigos e o catecismo tenham razão. Resta saber se haverá coisa mais bela nesta vida do que o puro dom de se olhar um estranho como se ele fosse um irmão bem-vindo, embora o preço da desilusão seja às vezes uma facada.
Dentro ou fora do seu dólmen (maneira que eu tenho de chamar aos buracos onde vive a maioria) estes homens não têm medo senão da pequenez. Medo de ficarem aquém do estalão por onde, desde que o mundo é mundo, se mede à hora da morte o tamanho de uma criatura.
... na estreita rua D.ª Alice Chaves ...
Acossados pela necessidade e pelo amor da aventura emigram. Metem toda a quimera numa saca de retalhos, e lá vão eles. Os que ficam, cavam a vida inteira. E, quando se cansam, deitam-se no caixão com a serenidade de quem chega honradamente ao fim dum longo e trabalhoso dia.
O nome de Trasmontano, que quer dizer filho de Trás-os-Montes, pois assim se chama o Reino Maravilhoso de que vos falei.
in: "Trás-os-Montes, o Reino Maravilhoso" de Miguel Torga
... o pote de 3 pés, em ferro, ao lume da lareira ...
... uma casa na Aldeia que já "viveu" o que tinha a "viver" ...
... um conjunto de fragas que já foi fonte e artisticamente composta numa altura em ainda haviam cantoneiros que tenham gosto em zelar pelas estradas e sua bermas ...
... pela rua 1º de Maio ...
... vacas pastando e aproveitando a erva fresca que a chuva fez crescer ...