Águas Frias (Chaves) - ... a tradicional "matança" do reco (porco) ...
Mário Silva Mário Silva
NOTA PRÉVIA:
Devo comunicar que devido ao polémico tema que vai ser abordado, aconselho que pense antes de continuar.
Tive algum cuidado na escolha das imagens e até na linguagem, mas ...
... é sempre livre de continuar ou parar por aqui ...
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Se continuou, ... devo referir que esta é uma atividade corrente nas aldeias de todo o país, com maior incidência no norte interior e foi, durante, talvez milhares de anos, a base de proteína animal na alimentação das famílias ...
A Matança do reco
O outono findou ... e chegam os gélidos dias de dezembro, janeiro ou mesmo fevereiro.
Os castanheiros despiram-se das folhas amarelecidas e um tapete verde acastanhado vai alastrando pelos campos, enquanto os trabalhos agrícolas vão esmorecendo.
O reco, durante um ano inteiro foi crescendo e engordando ...
E, nestes tempos em que tanto se fala de ecologia, parece-nos que o porco (reco) é a máquina perfeita:
- transforma os vegetais em carne;
- alimenta-se do supérfluo, dos excesso da família;
- “produzia” o estrume necessário ao fertilizar os campos;
- e depois da “matança”, vai servir de “talho” para o ano inteiro.
Quando se acabam as colheitas - abóboras, beterrabas, nabos, fruta, e a terra parece descansar, sob a neve ou a geada, para o novo ciclo de produção, é chegada a hora da “matança”.
Jejuou o dia anterior para "limpar".
Chegam os vizinhos e amigos, bem cedo ... enquanto ainda o frio aperta ...
O dono e mais alguns, acercam-se da corte e, com maior ou menor dificuldade, trazem o “bicho” para fora.
Segue-se a dificil tarefa de o “deitar” sobre o banco de madeira... amarrá-lo ...
Alguns homens seguram-no, cada um com a sua pata e rabo....
Segura-se, cada um como pode ...
O alguidar, em mãos destemidas, vai-se enchendo, enquanto a um canto, ferve a água nos potes.
...
A palha vai sendo escolhida para os pêlos da pele do porco.
Hoje, o maçarico a gás vai substituindo a palha.
É despojado das unhas e depois de chamuscado e limpa a pele com a ajuda de uma pedra áspera, retirando todos os pelos da pele. E nada fica por limpar ... até as orelhas, sem o uso da “cotonete”, são limpinhas ...
Um lado está pronto ... é hora de o virar e repetir todas as mesmas rotinas.
E a tarefa vai continuando até não restar um pelo às pedras ásperas ou facas afiadas.
É lavadinho com água corrente, pois embora seja porco tem que ficar limpinho ...
O “bicho” está limpo e pronto para ser “operado” ...
É pendurado numa trave da adega ou do armazém (local fresco, arejado, mas com pouca luz, “não vá a mosca dar nele” ...)
A água já está a ferver...
As mulheres esperam ... para entrarem nas suas lides...
As tripas são cuidadosamente “apartadas” para um tabuleiro e serão escrupulosamente lavadas.
O sangue é cozido e misturado com alho (iguaria degustada no local da “matança”).
No pote vão derretendo os rojões ...
“Desfaz-se” o porco.
Meticulosamente cada peça dá o seu melhor, para a salgadeira ou para o fumeiro.
Nada no porco se perde ... tudo, mas mesmo tudo ... é aproveitado.
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Já dizia Antoine Laurent de Lavoisier (1743 - 1794):
“Na Natureza,
... nada se cria,
... nada se perde,
... mas tudo se transforma”