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MÁRIO SILVA - Fotografia, Pintura & Escrita

*** *** A realidade é a "minha realidade" em imagens (fotografia, pintura) e escrita

16
Nov25

“Igreja de São Lourenço” – Vilartão – Bouçoães – Valpaços – Portugal


Mário Silva Mário Silva

“Igreja de São Lourenço”

Vilartão – Bouçoães – Valpaços – Portugal

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A fotografia de Mário Silva retrata o interior do templo em Vilartão, Bouçoães, no concelho de Valpaços.

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A imagem foca-se no altar-mor, que é dominado por um retábulo ricamente ornamentado de talha dourada.

O estilo é de transição entre o Barroco e o Rococó, com grande profusão de detalhes, colunas salomónicas e ornamentos folheados a ouro.

O altar central é ladeado por nichos e figuras de santos, e o arco do altar tem um acabamento em pedra escura.

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Pendurado no centro da nave está um grande e vistoso candelabro de cristal, que reflete a luz interior.

O piso da igreja é de madeira escura e, em primeiro plano, estão visíveis os bancos de madeira da nave, em filas paralelas.

A luz artificial e o brilho da talha dourada criam um ambiente de solenidade e riqueza artística, contrastando com a simplicidade da vida rural em Trás-os-Montes.

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São Lourenço: O Guardião dos Tesouros e o Mártir na Grelha

A Igreja de São Lourenço, com a sua talha dourada no interior, é um dos muitos templos em Portugal dedicados a este santo, cuja vida e martírio ressoam na história da Igreja Católica.

São Lourenço (ou São Lourenço de Roma) é uma das figuras mais veneradas do cristianismo primitivo, conhecido pela sua inteligência, caridade e coragem inabalável.

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Vida e Função na Igreja Primitiva

Lourenço nasceu em Hispânia (atual Espanha) no século III, mas a sua vida destacou-se em Roma.

Foi um dos sete Diáconos da Igreja Romana, numa época em que o cristianismo ainda era perseguido.

Como arquidiácono, Lourenço tinha uma função crucial: era o guardião do tesouro da Igreja e o responsável pela sua administração, incluindo a distribuição de esmolas e a assistência aos pobres, aos órfãos e às viúvas.

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O Tesouro de Lourenço

O momento mais famoso e definidor da sua vida ocorreu durante a perseguição do Imperador Valeriano, por volta de 258 d.C..

O Imperador exigiu que Lourenço entregasse os tesouros da Igreja, esperando encontrar ouro, prata e objetos preciosos.

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Lourenço pediu três dias para reunir os "tesouros".

Ao fim desse tempo, em vez de ouro, apresentou à frente das autoridades imperiais os pobres, os coxos, os cegos e os enfermos que ele ajudava.

Declarou então: "Estes são os verdadeiros tesouros da Igreja."

Este ato de desafio, que colocava o valor humano e a caridade acima da riqueza material, selou o seu destino.

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O Martírio na Grelha

Como punição pela sua audácia e fé, São Lourenço foi condenado a uma das formas de martírio mais brutais da época: foi colocado numa grelha de ferro e assado vivo.

Reza a lenda que, mesmo sob tortura, Lourenço manteve a sua serenidade e bom humor.

No auge do seu sofrimento, terá dito aos seus algozes: "Podeis virar-me, pois este lado já está bem assado.".

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Devido ao seu martírio na grelha, São Lourenço é o patrono dos cozinheiros, assadores e bombeiros.

A sua festa litúrgica celebra-se a 10 de agosto, e a sua história é um poderoso testemunho da prioridade do serviço, da caridade e da fé inquebrável.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
15
Nov25

"Ufff... um gato preto" ... e uma estória


Mário Silva Mário Silva

"Ufff... um gato preto" ... e uma estória

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A fotografia de Mário Silva é um retrato de um felino, capturado num enquadramento rústico.

A imagem foca-se num gato preto de pelo denso e lustroso, que está enrolado e confortavelmente aninhado na abertura de uma janela ou nicho em pedra rústica.

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O gato está em repouso, com os olhos parcialmente fechados, parecendo ligeiramente ensonado ou incomodado pela luz que entra.

A sua cor negra contrasta drasticamente com a escuridão total do interior do nicho e com a pedra clara e trabalhada da moldura da janela, que é banhada pela luz solar.

O enquadramento em pedra é grosso e antigo, realçando as texturas e o contraste entre o animal e o ambiente.

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Ufff... Um Gato Preto. A Estória do "Porteiro" Faustino

O título da fotografia, "Ufff... um gato preto", sugere um misto de alívio e talvez uma pitada de superstição bem-humorada.

E é exatamente isso que Faustino, o gato em questão, causa na pequena aldeia de Favas do Tempo.

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Faustino não era apenas um gato; era o Porteiro Não Oficial da Rua da Amargura (assim chamada por ser a mais íngreme).

E tinha a mais importante das funções: sentar-se na janela da velha casa de granito, a de Dona Piedade, e julgar quem passava.

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O seu pelo era tão negro que, quando se aninhava na sombra da sua alcova de pedra, como na fotografia, era virtualmente invisível.

Isto causava uma série de pequenos sustos matinais.

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Um dia, o Sr. Custódio, o padeiro, vinha a subir a rua carregando a primeira fornada de broas de milho.

O sol tinha acabado de bater na janela e, ao ver a silhueta negra imóvel, o padeiro parou a meio do passo.

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"Ufff... um gato preto," sussurrou Custódio, fazendo o sinal da cruz. "Que o azar não me vire as broas."

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Faustino, que estava apenas a tentar desfrutar do seu sono da manhã, abriu um olho dourado, deu um miar de preguiça — um som que mais parecia um "deixa-me em paz" profundo — e virou a cabeça para o sol.

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Custódio, aliviado por o "mau presságio" não ter fugido (sinal de que não era assim tão mau, pensou ele), sorriu.

"Ah, Faustino! Bom dia! Pensei que me tinhas pregado um susto, bicho do Demo. Anda cá, toma uma fatia de salpicão, para abençoar o dia."

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E foi assim que Faustino não só se tornou o felino mais bem-alimentado da aldeia (aceitando o salpicão como compensação pelo esforço de não lhes dar azar), como também o principal motivo de suspiros e exclamações matinais.

O "Ufff... um gato preto" deixou de ser um prenúncio e passou a ser o cumprimento não oficial de Favas do Tempo.

E Faustino, o seu guardião ensonado, continuava a dominar a sua escuridão de granito, aceitando a sua importância cómica com a dignidade que só um gato preto pode ter.

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Estória & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
14
Nov25

O Bosque Despido (poema)


Mário Silva Mário Silva

O Bosque Despido

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De tronco esguio, erguido ao frio,

Veste o carvalho a nudez crua,

E a floresta, num mar vazio,

Espera a folha que recua.

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A rede de ramos ao alto,

Desenha o céu limpo e distante,

Um véu tecido em desalento,

De um inverno que é gigante.

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No chão dorme a cor de castanho,

A seda que o outono teceu,

Tudo em repouso, tudo estranho,

A glória que em pó se perdeu.

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Caminha o olhar pela linha,

Dos troncos que o tempo deixou,

A lição que a seiva ensina,

Na força que a vida guardou.

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Haverá um sol, uma prece,

Que chame a folha e o verde-novo,

E a vida que sempre acontece,

No chão deste humilde povo.

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Aguarda a terra, em paz serena,

O beijo da chuva que venha,

E o bosque, na sua cena plena,

Será de novo um ninho e lenha.

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Poema & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
13
Nov25

Azeitonas pretas de “Olea europaea”


Mário Silva Mário Silva

Azeitonas pretas de “Olea europaea”

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A fotografia de Mário Silva é um close-up que celebra o fruto maduro da oliveira, capturado no ramo antes da colheita.

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A imagem foca-se em três azeitonas pretas e lustrosas, que pendem de um pequeno ramo.

As azeitonas são de cor negra profunda e apresentam um brilho intenso na sua pele, refletindo a luz solar.

Estão cercadas pelas folhas verde-escuras e prateadas típicas da oliveira, que proporcionam um contraste cromático e de textura.

Os ramos são esguios e a luz incide diretamente, realçando o formato oval e a superfície lisa dos frutos.

O fundo é suavemente desfocado (bokeh), num tom de verde-claro a amarelo-suave, o que isola o fruto e o ramo, tornando a azeitona a protagonista da composição.

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A Azeitona Negra: O Fruto da Longevidade e o Ouro Líquido de Portugal

A fotografia de Mário Silva capta o auge da maturação da azeitona preta, o fruto da oliveira (Olea europaea), a "Árvore da Vida" ou "Árvore da Paz", um dos símbolos mais enraizados da cultura mediterrânica e portuguesa.

A azeitona negra, cheia de cor e brilho, é a promessa do tesouro mais valioso da oliveira: o azeite.

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A Oliveira: Um Símbolo de Resiliência e Tradição

A oliveira é uma cultura milenar em Portugal, adaptada aos solos pobres e aos longos verões quentes.

Árvore de crescimento lento e de excecional longevidade

- muitas oliveiras portuguesas contam séculos de existência;

- simboliza a resiliência e a permanência das tradições agrícolas.

É no final do outono e início do inverno que as azeitonas, depois de passarem pelo estágio verde, adquirem o seu pigmento escuro, indicando a máxima concentração de azeite.

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O Processo de Maturação e as Azeitonas Negras

A azeitona preta da fotografia é um fruto que atingiu a sua plena maturação.

Enquanto as azeitonas verdes são colhidas mais cedo e tendem a ter um sabor mais amargo e um azeite mais picante (com mais polifenóis), as azeitonas negras possuem um sabor mais suave e oleoso.

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No entanto, a sua cor negra não é apenas importante para a produção de azeite; é também fundamental para o consumo direto:

Azeitona de Mesa: As azeitonas pretas são sujeitas a processos de cura para remover o amargo (oleuropeína) e são um acompanhamento essencial na mesa portuguesa, seja em saladas, petiscos ou como ingrediente em pratos tradicionais.

Azeite: O azeite virgem e o azeite virgem extra, extraídos destas azeitonas maduras, são o "ouro líquido" do país, valorizado pela sua qualidade e sabor.

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Da Colheita à Mesa

A imagem é uma chamada de atenção para o trabalho que está para vir: a apanha da azeitona (tradicionalmente por varejamento ou métodos mais modernos), seguida da moagem nos lagares.

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Em suma, a fotografia de Mário Silva capta a azeitona negra no seu momento de glória — um fruto que é a materialização de uma cultura de séculos, um alimento essencial e um produto vital para o património gastronómico e económico de Portugal.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
12
Nov25

Chrysanthemum “Anna Marie”


Mário Silva Mário Silva

Chrysanthemum “Anna Marie”

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A fotografia de Mário Silva é um close-up de um grupo de flores que se destacam num fundo escuro e neutro, com um foco nítido na textura e cor das pétalas.

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A imagem é dominada por três crisântemos de cor branca e amarela.

A flor central é a maior, exibindo uma profusão de pequenas pétalas brancas e densas, que formam um centro amarelo-vivo.

As duas flores laterais são ligeiramente menores e menos densas, permitindo que as pétalas longas e brancas se destaquem.

O contraste é dramático, com o fundo em tons escuros de verde-preto, o que enfatiza a luminosidade e a fragilidade das flores.

A luz parece incidir de cima, realçando o miolo amarelo dos crisântemos.

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O Crisântemo “Anna Marie”: A Beleza que Desafia a Despedida do Outono

A fotografia de Mário Silva, ao imortalizar o Crisântemo “Anna Marie”, não regista apenas uma flor de beleza formal; capta um símbolo de resiliência, homenagem e transição cultural, especialmente em Portugal.

Esta flor, pertencente ao género Chrysanthemum, floresce no final do outono, quando a maioria das outras plantas já se prepara para o inverno.

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A Rainha do Outono e o Seu Significado

O crisântemo é frequentemente apelidado de "Rainha do Outono" e possui uma rica história cultural.

Originário da Ásia (China e Japão), onde é visto como símbolo de longevidade, alegria e perfeição, o crisântemo encontrou o seu lugar também na cultura ocidental.

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Em Portugal e em muitos países europeus, a sua floração coincide com o Dia de Todos os Santos e o Dia de Fiéis Defuntos (1 e 2 de novembro).

Por esta razão, o crisântemo, muitas vezes na sua variante branca ou amarela, tornou-se a flor tradicionalmente escolhida para adornar as sepulturas, simbolizando a homenagem, a saudade e a memória dos entes queridos.

A “Anna Marie”, com as suas pétalas brancas, representa a pureza e a inocência, cores frequentemente associadas a esta função.

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A Resiliência na Natureza

O que torna o crisântemo tão especial no contexto do outono é a sua resistência.

A sua capacidade de florescer quando as temperaturas descem e os dias encurtam é uma metáfora poderosa para a perseverança.

Ele oferece um último e exuberante espetáculo de cor antes da chegada do frio mais intenso, provando que a beleza pode florescer mesmo nas condições mais adversas.

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A Fotografia como Homenagem

Mário Silva, ao enquadrar a flor num plano próximo contra um fundo escuro, isola-a do ambiente.

Este método não só realça a sua forma geométrica e a intensidade das cores, mas também confere-lhe uma dignidade solene.

A flor central, robusta, é a manifestação da força, enquanto as flores laterais, ligeiramente inclinadas, sugerem a gentileza e o aceno de despedida à estação que finda.

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O Crisântemo “Anna Marie” é, assim, uma celebração da vida que persiste e da memória que perdura no tempo.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
11
Nov25

"Castanha transmontana e Magusto"


Mário Silva Mário Silva

"Castanha transmontana e Magusto"

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A fotografia de Mário Silva é um close-up que foca a atenção no fruto do castanheiro no seu invólucro natural.

A imagem apresenta um ouriço (a casca espinhosa) parcialmente aberto, ainda pendurado num ramo, com as suas castanhas já visíveis no interior.

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O ouriço é de cor verde-limão e amarelo-pálido, coberto por uma miríade de espinhos longos e finos.

No seu interior, revelam-se duas castanhas de cor castanho-avermelhada e brilhante, com a ponta clara, prontas para serem colhidas.

O fundo é composto por folhagem verde-escura e alguma vegetação desfocada (bokeh), o que destaca as cores ricas e as texturas contrastantes da castanha e do ouriço.

A fotografia celebra a prontidão da colheita e a beleza do fruto antes de ser apanhado.

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A Castanha Transmontana: O "Pão da Pobreza" e a Festa do Magusto

A castanha, magistralmente retratada por Mário Silva no seu ouriço protetor, é um dos mais importantes símbolos culturais e económicos de Trás-os-Montes.

Durante séculos, o fruto do castanheiro (Castanea sativa) foi mais do que um alimento; foi o pilar da subsistência em muitas regiões de montanha, valendo-lhe o cognome de "pão da pobreza" ou "pão da serra".

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O Valor Histórico e Económico

O castanheiro, introduzido ou expandido pelos Romanos e cultivado em tradicionais soutos, prospera nos solos ácidos e no clima frio de Trás-osMontes e Beiras.

Antes da chegada da batata e da expansão do milho, a castanha servia como principal fonte de carboidratos, sendo consumida cozida, assada, seca (conhecida como "castanha pilada") ou moída em farinha.

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Hoje, a Castanha da Terra Fria (variedades como a Longal e a Judia) possui uma reputação de qualidade superior, sendo valorizada tanto para consumo “in natura” como para a exportação e a indústria de ultracongelados.

A colheita, que ocorre no outono, mobiliza as comunidades e representa uma fatia importante da economia local.

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O Magusto: A Festa da Partilha e da Identidade

O ponto alto do ciclo da castanha é a celebração do Magusto, um ritual ancestral de convívio e agradecimento, que em Portugal está tradicionalmente associado ao Dia de São Martinho (11 de novembro).

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O Magusto é a festa onde a castanha, após o trabalho da apanha, é finalmente saboreada de forma comunitária (ou era):

O Fogo e o Ritual: Acendem-se fogueiras para assar as castanhas (fazendo o magusto), que se comem quentes e, muitas vezes, ainda com o fumo a sair.

A Bebida Tradicional: A castanha assada é tradicionalmente acompanhada por vinho novo (o vinho acabado de fazer da vindima anterior) ou por jeropiga (uma bebida doce feita com mosto de uva).

O Convívio: O Magusto é (ou era) uma cerimónia de partilha, onde as castanhas, o vinho e a água-pé correm livremente, e o convívio, os cânticos e as brincadeiras (como enfarruscar os rostos uns dos outros com as cinzas da fogueira) reforçam (ou reforlavam) os laços comunitários.

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Em Trás-os-Montes, a castanha é, portanto, o laço que une o passado e o presente, e o Magusto é o momento em que a comunidade celebra (ou celebrava) a generosidade da terra e a sua própria identidade.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
10
Nov25

"A névoa... o mar de Trás-os-Montes"


Mário Silva Mário Silva

"A névoa... o mar de Trás-os-Montes"

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No chão de Trás-os-Montes,

Onde a serra faz o seu ninho,

A névoa tece mil pontes,

Cobrindo todo o caminho.

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Vem de mansinho, calada,

Como um oceano que avança,

E a paisagem, adormecida,

Aguarda a sua esperança.

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Ficam só as árvores velhas,

A flutuar no branco lençol,

Cumes que são ilhas vermelhas,

À espera da força do Sol.

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Quebra a névoa, a linha do arame,

Que leva a luz e a memória,

Um traço do mundo que chame,

A vida que espreita a vitória.

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É um silêncio de lã e magia,

Um manto de bruma a ondular,

E a alma da gente da aldeia,

Suspira por ver o mar.

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Mas logo a brisa o afasta e some,

E o campo ressurge, inteiro,

Onde o mistério da névoa assume,

O sonho de um mundo verdadeiro.

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Poema & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
09
Nov25

Acontecimentos em Portugal - outubro de 2025


Mário Silva Mário Silva

Acontecimentos em Portugal

outubro de 2025

Os principais acontecimentos em Portugal durante o mês de outubro de 2025 foram marcados por importantes debates políticos em torno do Orçamento do Estado, a celebração de efemérides nacionais e momentos de grande relevância no desporto.

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Destaques Políticos e Governamentais

Debate do Orçamento do Estado para 2026

O grande tema político do mês foi a apresentação e a discussão inicial do Orçamento do Estado para 2026 (OE 2026).

O documento foi entregue pelo Governo de Luís Montenegro na Assembleia da República, gerando debate intenso entre os partidos.

O Partido Socialista (PS), pela voz do seu Secretário-Geral José Luís Carneiro, sinalizou a possibilidade de viabilizar a proposta, considerando que o Governo acautelou as principais exigências socialistas em áreas como a laboral, o reforço do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a segurança social pública.

A Iniciativa Liberal (IL) e o Chega manifestaram-se críticos à proposta, com a IL a classificá-lo como "ganancioso para o Estado" e o Chega a deixar em aberto o sentido de voto, dependente de negociações e da não-tolerância a aumentos de impostos sobre combustíveis.

O PCP manifestou total oposição ao documento.

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Comemorações da Implantação da República

No dia 5 de outubro, as celebrações do 115.º aniversário da Implantação da República realizaram-se com a presença do Primeiro-Ministro e de outras altas figuras do Estado, com a tradicional cerimónia em Lisboa, nos Paços do Concelho.

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Outras Medidas Governamentais

O Conselho de Ministros aprovou em outubro medidas para a valorização e o reforço do sistema de comunicações eletrónicas, potenciadas pelos cabos submarinos que ligam o Continente, os Açores e a Madeira.

Foram igualmente aprovadas medidas relativas à reconfiguração da Administração do Porto de Lisboa (APL) e da Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS), no âmbito da nova Estratégia para os Portos Comerciais.

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Cultura, Tecnologia e Desporto

Eleições no SL Benfica

O Sport Lisboa e Benfica realizou, a 25 de outubro, as eleições para os seus Órgãos Sociais para o quadriénio 2025-2029.

O ato eleitoral foi considerado o mais participado de sempre na história do Clube e estabeleceu um novo recorde mundial de afluência às urnas (86.297 sócios), superando o anterior máximo.

O clube reforçou a sua imagem de ser o maior clube do mundo em termos de mobilização eleitoral.

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Eventos de Tecnologia e Inovação

O Portugal Digital Summit 2025 decorreu em Lisboa, nos dias 22 e 23 de outubro, com foco no impacto da Inteligência Artificial e da revolução digital nos setores mais críticos da economia portuguesa.

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Eventos Culturais

A cidade do Porto acolheu eventos de destaque como o espetáculo "RFM: Que Grandioso Espetáculo É Este?" no Super Bock Arena, a 2.ª Corrida e Caminhada IPO Porto (dia 5), e a realização do Iberanime, o maior evento de cultura pop japonesa em Portugal.

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Texto & Video: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
09
Nov25

Igreja de São Martinho – Ervedosa – Vinhais – Bragança – Portugal


Mário Silva Mário Silva

Igreja de São Martinho

Ervedosa – Vinhais – Bragança – Portugal

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A fotografia de Mário Silva retrata a Igreja de São Martinho, na aldeia de Ervedosa, no concelho de Vinhais, distrito de Bragança.

A igreja é uma construção em granito rústico, com uma tonalidade dourada, banhada pela luz intensa do final da tarde, que projeta sombras nítidas.

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A fachada principal é marcada por uma torre sineira de dupla abertura, que se eleva acima do telhado de telha vermelha, e está coroada por uma cruz de pedra.

Na parte superior da fachada, no topo da empena, é visível um relógio de parede embutido na pedra.

A entrada principal, com uma porta de madeira escura, é ladeada por cantaria bem trabalhada.

A construção combina o granito à vista com paredes laterais caiadas de branco.

Um espelho de trânsito convexo em primeiro plano, no centro-direito, reflete a fachada de forma distorcida, introduzindo um elemento moderno no contexto histórico.

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São Martinho: Do Soldado Romano ao Patrono da Generosidade e do Vinho Novo

A Igreja de São Martinho em Ervedosa (Vinhais) é um testemunho da profunda e antiga devoção portuguesa a este santo, cujo culto está intrinsecamente ligado à época do outono e à celebração do vinho novo.

A história de São Martinho de Tours, que se tornou um dos santos mais populares da Europa, explica a origem do famoso "Verão de São Martinho" e do ritual do Magusto.

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A Origem do Culto: O Manto e a Caridade

O culto a São Martinho (316–397 d.C.) tem origem numa lenda que se tornou um símbolo de generosidade e misericórdia cristã.

Segundo a história, Martinho era um jovem soldado romano na Gália.

Num dia de inverno rigoroso, encontrou um mendigo quase nu à porta da cidade de Amiens.

Sem ter nada para oferecer, Martinho cortou a sua capa militar (o manto) a meio com a espada e deu metade ao mendigo.

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Naquela noite, Martinho sonhou com Jesus, vestido com a metade do manto que havia dado.

Ao acordar, Martinho compreendeu que o ato de caridade era a sua verdadeira vocação, e a partir desse momento, dedicou a sua vida à fé.

Acabou por ser batizado e, mais tarde, nomeado Bispo de Tours, na França.

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O Milagre do Verão de São Martinho

O dia da sua celebração, 11 de novembro, marca um período de melhoria climática no outono europeu, conhecido em Portugal como o Verão de São Martinho.

A lenda diz que o milagre da capa (o corte e a entrega do manto) foi recompensado por Deus com três dias de sol e calor inesperados para aquecer o pobre mendigo.

Este período é esperado anualmente em Portugal e celebrado com alegria.

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O Magusto: Vinho Novo e Castanhas

A data de 11 de novembro coincide com o final das colheitas e o início da prova do vinho novo.

Assim, o culto a São Martinho ligou-se naturalmente ao ritual do Magusto, em que as famílias e comunidades se reúnem para assar castanhas na fogueira (em Trás-os-Montes, como em muitas outras regiões) e beber o vinho acabado de fazer ou a água-pé.

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A Igreja de São Martinho em Ervedosa, com a sua arquitetura de granito, representa este pilar da tradição: um local de fé que resiste ao tempo e que, todos os anos, se torna o centro espiritual de uma festa que celebra a bondade, a memória do santo e a renovação dos frutos da terra.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
08
Nov25

"A apanha da castanha" - Águas Frias - Chaves - Portugal


Mário Silva Mário Silva

"A apanha da castanha"

Águas Frias - Chaves - Portugal

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A fotografia de Mário Silva retrata uma cena rural no outono, especificamente em Águas Frias, Chaves.

O foco da imagem está em duas figuras humanas curvadas sobre um campo de relva verde-viva, dedicadas à colheita das castanhas.

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As figuras, vestidas com roupa escura que contrasta fortemente com o verde do relvado, estão em pleno trabalho: uma delas parece estar a recolher algo para um saco branco no chão, enquanto a outra utiliza um balde claro.

A postura curvada de ambas as figuras enfatizam o esforço e a dedicação exigidos por esta tarefa.

O plano de fundo é composto por um maciço de castanheiros com folhagem verde e tons de castanho-avermelhado (fetos e ramos secos), característicos do outono.

A luz do sol incide sobre a vegetação, criando um ambiente natural e rústico.

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A Apanha da Castanha: Mais do que Colheita, um Ritual Transmontano

A fotografia de Mário Silva, que imortaliza o esforço da apanha da castanha em Águas Frias, Chaves, capta um dos rituais mais antigos e significativos do ciclo agrícola em Trás-os-Montes.

A castanha não é apenas um fruto; é um símbolo de subsistência, de convívio e da identidade cultural de uma região onde o castanheiro é apelidado de "árvore do pão".

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O Outono e o Tesouro do Souto

O outono, com o seu tapete de folhas caídas, anuncia o tempo do Souto, a floresta tradicional de castanheiros.

A apanha da castanha é um processo que exige paciência e, como a fotografia bem ilustra, um trabalho manual árduo.

As castanhas, protegidas dentro dos ouriços espinhosos, são libertadas pela queda ou com a ajuda de varas.

As figuras curvadas sobre a terra representam a ligação profunda e física entre o homem transmontano e o seu recurso mais valioso.

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O Sentido da Comunidade e do Esforço

Tradicionalmente, a apanha da castanha é uma atividade comunitária (ou era).

Famílias e vizinhos juntam-se (ou juntavam-se) nos soutos, numa forma de entreajuda que transforma o trabalho num momento de convívio.

A colheita não é apenas um ato económico; é um ritual social que reforça (ou reforçava) os laços comunitários.

O produto final, a castanha, era, e em muitas zonas ainda é, uma reserva vital para o inverno, utilizada em inúmeras receitas doces e salgadas.

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Da Terra à Mesa: O Magusto

O clímax da época da castanha é a celebração do Magusto, tipicamente no Dia de São Martinho (11 de novembro).

É um momento festivo onde as castanhas, assadas no fogo, são partilhadas (ou eram), acompanhadas por vinho novo ou jeropiga.

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A fotografia de Mário Silva é um registo intemporal desta cultura.

As mãos que trabalham, a roupa prática, o balde e o saco, tudo aponta para a importância da castanha como pilar da vida rural, um tesouro que a terra oferece anualmente e que, com o esforço e o suor, garante a sobrevivência e a celebração em Trás-os-Montes.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
07
Nov25

"A parreira e Águas Frias" - Chaves - Portugal


Mário Silva Mário Silva

"A parreira e Águas Frias"

Chaves - Portugal

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A fotografia de Mário Silva é uma paisagem que enquadra a vista de uma aldeia a partir de uma vinha.

A imagem está dividida em dois planos distintos: o primeiro plano é dominado por um elemento natural em “bokeh” (desfocado), nomeadamente os ramos de uma parreira com folhas em tons de vermelho-vivo e ocre de outono.

Este filtro natural emoldura a paisagem no centro da composição.

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O segundo plano, em foco, revela a aldeia de Águas Frias, caracterizada por um aglomerado de casas tradicionais, com paredes brancas e telhados de barro avermelhado, que se aninham na encosta.

O casario estende-se pela colina, em harmonia com o relevo.

O fundo é montanhoso, coberto por vegetação densa.

A luz suave da manhã ilumina as fachadas, conferindo-lhe uma sensação de paz e integração rural.

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A Parreira e a Aldeia: O Vínculo Indissolúvel entre a Vinha e a Vida Rural Transmontana

A fotografia de Mário Silva, que enquadra a paisagem de Águas Frias através do manto outonal de uma parreira, é uma poderosa metáfora do Norte de Portugal: a vida da aldeia é inseparável do ciclo da vinha.

A parreira e o casario não são apenas elementos vizinhos, mas partes de um mesmo organismo, onde a cultura e a economia se constroem em torno da terra.

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A Vinha: O Espelho da Vida em Trás-os-Montes

O primeiro plano, dominado pelas folhas da parreira em tons de fogo, simboliza a época da colheita e do repouso.

As cores intensas — do vermelho vibrante ao castanho-ocre — atestam o final da vindima, a altura mais importante do ano agrícola.

Em Trás-os-Montes, a viticultura é uma herança ancestral; a vinha não é cultivada em extensões industriais, mas em socalcos e parcelas pequenas, muitas vezes adjacentes ou mesmo dentro das aldeias.

A parreira é, assim, o símbolo do trabalho e da subsistência das gentes de Águas Frias.

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A Aldeia: Um Nicho de Permanência

A aldeia de Águas Frias, visível ao longe, é o ninho da comunidade.

As casas de paredes claras e telhados vermelhos, perfeitamente integradas na encosta, mostram a arquitetura tradicional que privilegia a funcionalidade e a adaptação ao terreno.

A sua disposição compacta sugere a união e a dependência mútua dos seus habitantes.

A aldeia e a vinha coexistem num ecossistema onde a matéria-prima (a uva) é transformada em produto (o vinho), que, por sua vez, sustenta a vida da comunidade.

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A Perspetiva da Emoção

Ao escolher enquadrar a aldeia através da parreira, o fotógrafo estabelece uma perspetiva emocional.

O “bokeh” das folhas funciona como um véu de memória, sugerindo que a visão que se tem da vida rural é inseparável da sua produção e da sua história.

É um olhar que valoriza o sacrifício e a beleza do ciclo natural.

A parreira não é apenas uma planta; é a moldura viva da tradição transmontana.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
06
Nov25

"Outono e os castanheiros transmontanos"


Mário Silva Mário Silva

"Outono e os castanheiros transmontanos"

06Nov DSC09006_ms

A fotografia de Mário Silva retrata uma paisagem florestal dominada pela transformação sazonal.

O cenário é um souto de castanheiros sob a luz do outono, que realça a riqueza de cores da estação.

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As árvores, com os seus troncos robustos e escuros, têm a folhagem em plena mudança, apresentando uma paleta que varia do verde escuro (em algumas árvores mais à direita) ao amarelo e vermelho vivo (especialmente nas árvores mais à esquerda, banhadas pela luz do sol).

O sol, vindo de cima ou da lateral superior esquerda, cria um efeito de raios de luz que atravessam as copas, iluminando o ambiente.

O chão está completamente forrado por uma espessa camada de folhas caídas em tons de castanho e ocre, e as sombras projetadas pelos troncos alongam-se pelo terreno.

A cena evoca uma sensação de tranquilidade e de colheita.

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Os Castanheiros: Colunas Vivas da Identidade Transmontana no Outono

A imagem capturada por Mário Silva dos castanheiros transmontanos no esplendor do outono não é apenas uma fotografia de uma floresta; é um retrato da alma da região de Trás-os-Montes.

O castanheiro (Castanea sativa) é uma das árvores mais emblemáticas e economicamente vitais do interior de Portugal, e a sua presença marca a paisagem, a cultura e a economia local.

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A Coroa Dourada do Outono

O castanheiro é um dos protagonistas visuais do outono.

Na região transmontana, o clima e o solo favorecem o seu desenvolvimento, e é nesta estação que as suas folhas, antes de caírem para forrar o solo (como se vê na fotografia), se transformam num magnífico espetáculo de tons amarelos e vermelhos, que parecem competir com o sol.

A queda das folhas é o anúncio de que a verdadeira riqueza, o fruto, está pronta para ser colhida.

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Mais que um Fruto, um Tesouro

A castanha é o "pão" de Trás-os-Montes, e o outono é o tempo de festa da colheita.

Antigamente, a castanha era um alimento fundamental na dieta das populações rurais, funcionando como um substituto do cereal em tempos de escassez.

Hoje, mantém a sua importância económica e gastronómica, sendo celebrada em feiras e festas como o magusto, onde é assada e acompanhada por jeropiga ou vinho novo.

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O processo de apanha — a abertura dos ouriços espinhosos no solo, o som das castanhas a cair e a corrida para as recolher — é um ritual social que une famílias e vizinhos.

A qualidade das castanhas de Trás-os-Montes, especialmente as variedades da Terra Quente (como a Longal e a Judia), é reconhecida e valorizada.

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A Cultura do Souto

O bosque de castanheiros é tradicionalmente chamado de souto.

Estes soutos não são florestas selvagens, mas sim espaços cultivados e cuidadosamente mantidos ao longo de séculos.

Os troncos robustos e centenários, como os da fotografia, testemunham a longevidade destas árvores, que são passadas de geração em geração.

A sua gestão é uma forma de património cultural, que demonstra o profundo respeito e a ligação das gentes transmontanas à sua terra e aos seus recursos.

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O outono, com a sua luz mágica e o tapete de folhas, celebra o momento em que a natureza partilha o seu fruto, reafirmando o castanheiro como um símbolo da resiliência, da tradição e da abundância transmontana.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
05
Nov25

Cogumelo (Laccaria laccata) e a Natureza


Mário Silva Mário Silva

Cogumelo (Laccaria laccata) e a Natureza

05Nov DSC09207_ms

A fotografia de Mário Silva, intitulada "Cogumelo (Laccaria laccata) e a Natureza", é um close-up que celebra a delicadeza da vida fúngica no seu ambiente.

O foco principal é um cogumelo solitário, com um chapéu de cor bege-claro ou salmão pálido e um formato ligeiramente deprimido no centro.

O pé (estipe) do cogumelo é esbelto e de cor semelhante.

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O cogumelo emerge de um ambiente rico e húmido de musgos, o que lhe confere uma atmosfera de floresta.

O fundo é dominado por uma mistura de cores escuras e brilhantes: verde-vivo dos musgos, tons de castanho e preto de troncos ou terra, e a presença de pequenos filamentos secos de plantas, em tons de laranja-ferrugem, em primeiro plano.

O bokeh (desfoque) do fundo realça a fragilidade e a textura do cogumelo, criando um contraste entre a miniatura fúngica e a exuberância do micro-ambiente circundante.

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A Laccaria laccata: A Beleza Humilde da Pequena Dama da Floresta

A fotografia de Mário Silva, que destaca o cogumelo (Laccaria laccata) no seu leito de musgo, oferece um vislumbre da beleza discreta e da importância vital dos pequenos seres do reino fúngico.

O Laccaria laccata, carinhosamente conhecido em algumas regiões como a "Pequena Dama", é um dos cogumelos mais comuns em Portugal, mas a sua humildade esconde uma função ecológica crucial.

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O Cogumelo-Espelho da Estação

O Laccaria laccata é frequentemente encontrado em florestas e matagais, e a sua presença é um indicador seguro da saúde e da humidade do solo.

É um cogumelo que reflete as condições do seu ambiente: o seu chapéu muda de cor e aparência dependendo da quantidade de água que absorve, sendo mais castanho-avermelhado quando seco e mais pálido e húmido quando chove.

É, de certa forma, um espelho da estação.

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A Parceria Silenciosa (Micorrizas)

Este cogumelo não é apenas um decompositor, mas um mestre da simbiose.

O Laccaria laccata forma micorrizas com as raízes de diversas espécies de árvores e arbustos. Esta é uma parceria de benefício mútuo:

Para o Cogumelo: A árvore fornece açúcares essenciais (glicose) resultantes da fotossíntese.

Para a Árvore: O micélio do cogumelo expande a superfície de absorção das raízes, ajudando a árvore a captar água e nutrientes minerais vitais, como o fósforo e o azoto, do solo.

Esta relação subterrânea é fundamental para a sobrevivência das florestas, tornando o Laccaria um pilar invisível da saúde do ecossistema.

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A Natureza na Sua Essência

A imagem de Mário Silva enquadra o cogumelo não isolado, mas interligado com o musgo, os troncos e as hastes secas.

Este cenário representa a interdependência de todos os elementos naturais.

O musgo retém a humidade que o cogumelo necessita, o tronco em decomposição fornece nutrientes, e a luz filtra-se para sustentar o ciclo.

A fotografia celebra o microcosmo da floresta, onde a vida, mesmo nas suas formas mais pequenas e efémeras, se revela de uma beleza e importância extraordinárias.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
04
Nov25

"Dióspiro"


Mário Silva Mário Silva

"Dióspiro"

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A fotografia de Mário Silva, intitulada "Dióspiro", é um close-up (plano próximo) que celebra a cor e a textura deste fruto de outono.

A imagem foca-se em três dióspiros maduros, pendurados por um pequeno ramo seco.

Os frutos apresentam uma cor laranja-viva e intensa, com uma pele suave e brilhante, e as suas formas arredondadas dominam o centro da composição.

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As folhas do cálice, que se parecem com pequenas coroas secas, ainda estão agarradas ao caule.

Uma folha seca, em tons de castanho-avermelhado, também se agarra ao cacho.

O fundo está desfocado (bokeh), num tom castanho-esverdeado suave e neutro, o que realça o brilho e a cor vibrante dos dióspiros.

A cena transmite a sensação de um fruto pronto para ser colhido e consumido.

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O Dióspiro: O "Fruto dos Deuses" e a Essência do Outono Tardio

A fotografia de Mário Silva capta a beleza simples e a cor radiante do dióspiro (Diospyros kaki), um fruto que, em Portugal, marca a transição do outono para o inverno.

O seu nome científico, que se traduz como "fruto dos deuses", atesta a estima em que este fruto era tido nas culturas orientais e, progressivamente, no Ocidente.

Em Portugal, o dióspiro é um símbolo da generosidade da natureza no final do ciclo agrícola.

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Características e Variedades

O dióspiro é conhecido pelas suas duas principais variedades em termos de consumo:

Adstringente (de "petinga"): Esta variedade necessita de ser consumida muito madura, quando a polpa atinge uma consistência quase gelatinosa, eliminando a adstringência (sensação de "secar a boca").

É o sabor da tradição, muitas vezes comido à colher.

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Não Adstringente (Rochas ou Fuyu): Esta variedade pode ser consumida rija, à semelhança da maçã.

A sua introdução permitiu uma maior versatilidade no consumo e comercialização do fruto.

 

A cor laranja-intensa, tão bem retratada na fotografia, deve-se à alta concentração de carotenoides, os mesmos pigmentos encontrados nas cenouras, que são precursores da Vitamina A.

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O Ritmo do Campo no Outono

O dióspiro é um fruto que amadurece tardiamente, muitas vezes após a queda da maioria das folhas.

Os dióspiros a amadurecer nas árvores despidas, como se fossem lanternas cor de fogo, tornam-se um dos espetáculos visuais mais bonitos do outono tardio.

Em muitas quintas portuguesas, a sua colheita é um dos últimos atos agrícolas antes da chegada do frio mais intenso, marcando o encerramento das colheitas.

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Valor Nutricional e Gastronomia

Para além da sua beleza, o dióspiro é rico em fibras, antioxidantes e vitaminas, sendo um aliado importante para a saúde.

Na gastronomia portuguesa, é consumido in natura, mas também é utilizado no fabrico de doces, geleias e, por vezes, licores caseiros.

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A imagem de Mário Silva é uma celebração da riqueza do outono e do papel do dióspiro como um dos últimos "presentes" da terra antes do rigor do inverno.

É uma pequena obra-prima que nos lembra a importância dos ciclos da natureza e o prazer simples dos seus frutos.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
03
Nov25

Torre dos Clérigos - Porto - Portugal


Mário Silva Mário Silva

Torre dos Clérigos

Porto - Portugal

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A fotografia de Mário Silva retrata a icónica Torre dos Clérigos, um dos símbolos mais reconhecíveis da cidade do Porto.

A imagem é capturada de baixo para cima, o que enfatiza a monumentalidade e a altura da torre.

A luz é intensa e dourada, sugerindo o final da tarde, banhando a pedra de granito com um brilho quente que realça os pormenores arquitetónicos barrocos e rococós.

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A torre, de estilo barroco, domina o centro, com os seus vários registos de cantaria detalhada.

No primeiro plano, o enquadramento é feito por três oliveiras de copas volumosas e verde-douradas, que criam um contraste natural com a rigidez da pedra e o azul límpido do céu.

As copas das árvores, parcialmente iluminadas pelo sol poente, emolduram a base da torre e separam o monumento dos edifícios circundantes, visíveis à direita e à esquerda.

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A Torre dos Clérigos: O Farol Barroco que Define o Horizonte do Porto

A Torre dos Clérigos, em pleno coração da cidade do Porto, é muito mais do que um edifício alto; é o marco que define a identidade da cidade e um dos mais notáveis exemplos do Barroco e Rococó em Portugal.

A sua presença imponente, capturada com a dignidade da luz dourada na fotografia de Mário Silva, é um testemunho da ambição artística e da religiosidade do século XVIII.

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A Obra-Prima de Nicolau Nasoni

A torre é parte integrante do conjunto da Igreja dos Clérigos, mas ganhou vida própria.

Foi projetada pelo arquiteto italiano Nicolau Nasoni, que deixou uma marca indelével na arquitetura do Norte de Portugal.

Concluída por volta de 1763, a torre é uma obra-prima de engenharia e decoração.

Com os seus 75,6 metros de altura, foi, durante muito tempo, a construção mais alta do país.

A sua estrutura em granito, decorada com festões, balaustradas e urnas, demonstra a fluidez e a teatralidade do estilo barroco.

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O Símbolo da Cidade

A Torre dos Clérigos desempenhou um papel vital na vida do Porto.

A sua altura não era apenas para exibição; a torre servia como farol para os navios que entravam na barra do Douro, guiando os marinheiros, e também como um ponto de referência visual inconfundível para os viajantes.

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Hoje, ela mantém a sua função simbólica.

É o ponto de onde se tem uma das vistas mais espetaculares da cidade, do rio Douro e do oceano.

Subir os seus mais de 225 degraus é um ritual obrigatório para quem visita o Porto.

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A Torre na Cultura Portuense

A Torre dos Clérigos está profundamente enraizada na cultura popular portuense.

A sua imagem é imediatamente reconhecível e está ligada à resiliência e ao espírito bairrista da cidade.

Ela resistiu a séculos, a guerras, e ao progresso urbano, mantendo-se firme como um guardião de pedra.

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A fotografia, ao enquadrar a torre entre as oliveiras, sublinha a sua ligação à terra e à natureza, mostrando-a não apenas como um monumento histórico, mas como uma parte viva e pulsante do quotidiano da cidade.

A Torre dos Clérigos é, de facto, o farol que ilumina o património e a alma do Porto.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
02
Nov25

“Dia dos Fiéis Defuntos”


Mário Silva Mário Silva

“Dia dos Fiéis Defuntos”

02Nov DSC01329_ms

A fotografia de Mário Silva, intitulada “Dia dos Fiéis Defuntos”, é um estudo dramático da luz e da escuridão, capturando uma única vela acesa num ambiente sombrio.

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Ao centro, uma vela branca e alta ergue-se verticalmente, sustentada por um castiçal de base larga com um design em forma de folha ou flor, que parece ser de louça ou metal claro.

A chama, intensa e amarelada no centro, projeta um halo difuso de luz quente (em tons de rosa e laranja) que se irradia para o fundo.

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A luz da vela é a única fonte de iluminação na cena, lançando sombras nítidas do castiçal sobre a superfície clara da mesa onde repousa.

O fundo e a maioria dos cantos da imagem estão mergulhados numa escuridão profunda e misteriosa, apenas ligeiramente interrompida por formas indistintas (possivelmente móveis ou livros).

Este contraste intenso entre a chama brilhante e a escuridão circundante confere à imagem uma atmosfera de solenidade, introspeção e esperança.

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A Chama da Memória: O Dia dos Fiéis Defuntos em Portugal

A fotografia de Mário Silva simboliza perfeitamente o Dia dos Fiéis Defuntos (ou Dia de Finados, 2 de novembro): uma única luz de fé e memória acesa na vastidão da ausência e da saudade.

Esta data é o ponto alto do luto e da recordação no calendário português e católico.

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Origem e Significado Teológico

O Dia dos Fiéis Defuntos é uma comemoração de origem eclesiástica, que se distingue da Solenidade do Dia de Todos os Santos (1 de novembro).

Origem Histórica: A sua instituição é creditada a Santo Odilo, Abade de Cluny, que, no ano de 998 d.C., estabeleceu que todos os mosteiros sob a sua jurisdição dedicassem o dia 2 de novembro à oração pelos fiéis defuntos.

A prática espalhou-se rapidamente pela Europa Ocidental e foi oficialmente adotada pela Igreja.

A data segue o Dia de Todos os Santos de forma intencional: enquanto no dia 1 se honra a Igreja Triunfante (os santos no céu), no dia 2 a oração é dirigida à Igreja Padecente (as almas no Purgatório).

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Significado Católico: O foco teológico é a oração de sufrágio.

Os católicos acreditam na Comunhão dos Santos, que permite que os vivos (a Igreja Peregrina) ajudem, através das suas orações e sacrifícios, as almas dos defuntos que, tendo morrido na graça de Deus, ainda precisam de purificação para entrar no Paraíso (a doutrina do Purgatório). A vela acesa, como na fotografia, é um símbolo da luz de Cristo e do amor inesgotável que une os vivos e os mortos.

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Celebrações e Tradições em Portugal

Em Portugal, onde o luto e a memória são vividos com grande intensidade, o Dia de Finados é um dia de profunda seriedade e observância.

A Visita e o Enfeite dos Cemitérios: É a tradição central e mais visível.

As famílias deslocam-se aos cemitérios, muitas vezes em peregrinações que envolvem viagens longas, para limpar, arranjar e adornar as sepulturas dos seus familiares.

O ato de colocar flores frescas (crisântemos, em particular) e de acender velas ou lâmpadas nas sepulturas é um gesto sagrado de continuidade da memória e respeito.

A luz da vela (como na imagem) é a promessa de que a alma não está esquecida.

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As Missas pelos Defuntos: O coração da celebração litúrgica são as missas.

O clero veste paramentos de cor roxa ou negra.

Os ritos centram-se nas preces pelas almas, e em muitas paróquias realizam-se procissões ou bênçãos nos cemitérios após a missa, onde se reza coletivamente pelos defuntos.

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A "Mesa dos Defuntos" (Tradição Alimentar): Embora menos comum hoje, em algumas aldeias transmontanas e do interior, mantinha-se a tradição de deixar alimentos na mesa (pão, vinho, frutos secos) durante a noite de 1 para 2 de novembro.

Acreditava-se que as almas dos entes queridos visitavam a casa e que a comida era um "sufrágio" simbólico oferecido pelos vivos.

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O Silêncio e o Luto: Ao contrário do Dia de Todos os Santos (que está ligado ao Pão-por-Deus), o Dia de Finados é um dia de recolhimento total.

O trabalho é geralmente suspenso, e a atmosfera é de respeito profundo, dominada pela saudade dos que já partiram.

A vela acesa de Mário Silva, isolada na escuridão, é a representação visual desta fé: um foco de luz que se recusa a ser extinto, afirmando que a vida do corpo finda, mas a memória e a esperança de um reencontro perduram.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
01
Nov25

"Dia de Todos Os Santos"


Mário Silva Mário Silva

"Dia de Todos Os Santos"

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A fotografia de Mário Silva, intitulada “Dia de Todos Os Santos”, capta um nicho de devoção profundamente enraizado na natureza.

Em primeiro plano, a cena é dominada por uma vegetação rasteira e densa, com ervas secas em tons de dourado e castanho, e uma grande folhagem verde de uma planta suculenta no canto inferior direito.

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No plano médio e superior, sobre uma formação rochosa natural e em socalco, ergue-se uma estátua de Cristo, vestida de branco, com os braços abertos num gesto de acolhimento e bênção.

A estátua repousa sobre um pequeno pedestal de pedra.

À sua esquerda, uma pedra arredondada complementa o cenário rústico.

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Abaixo da estátua, nota-se uma estrutura de pedra ou cimento semi-enterrada, com uma abertura em arco coberta por vidro ou acrílico, que reflete o ambiente.

Esta estrutura parece ser um pequeno altar ou nicho que alberga no seu interior flores e, possivelmente, uma imagem de outro santo ou da Virgem.

A luz quente do sol incide de forma intensa, banhando a estátua e a vegetação circundante, criando um ambiente de solenidade, mas também de abandono sereno, sugerindo a antiguidade do local.

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O Limiar da Memória: Dia de Todos os Santos em Portugal

A fotografia de Mário Silva, com a sua estátua isolada e o nicho semi-escondido na vegetação, evoca a profunda ligação entre a fé, a natureza e a memória em Portugal, especialmente no contexto do Dia de Todos os Santos (1 de novembro).

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Origem e Significado para os Católicos

O Dia de Todos os Santos (ou Solennitas Omnium Sanctorum) é uma das celebrações mais antigas e importantes do calendário litúrgico católico.

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Origem Histórica: A sua origem remonta ao século IV, quando a Igreja começou a celebrar coletivamente os mártires.

Com o tempo, e à medida que o número de santos reconhecidos crescia, tornou-se impraticável dedicar um dia a cada um.

No século VIII, o Papa Gregório III dedicou uma capela na Basílica de São Pedro a Todos os Santos e instituiu a celebração a 1 de novembro.

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Significado Teológico: O dia celebra não apenas os santos canonizados, mas a comunhão de todos os santos — ou seja, todos aqueles que morreram na graça de Deus e já estão na glória celestial.

É uma festa de esperança, que lembra aos fiéis que a santidade é acessível a todos e que há uma ponte espiritual que liga a Igreja Peregrina (os vivos) à Igreja Triunfante (os santos).

O dia é também o preâmbulo do Dia de Finados (2 de Novembro), que se dedica à oração pelos fiéis defuntos no Purgatório.

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Celebrações e Tradições em Portugal

Em Portugal, o Dia de Todos os Santos, apesar de ser uma festa religiosa, carrega consigo uma forte componente de memória familiar e tradição popular:

A Visita aos Cemitérios (Preparo para Finados): Embora o foco principal seja nos santos, o dia 1 de novembro é tradicionalmente usado para limpar, enfeitar e florir as sepulturas dos entes queridos, em preparação para o Dia de Finados.

As famílias reúnem-se nos cemitérios, um ato de carinho e continuidade da memória.

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A Tradição do Pão-por-Deus: Esta é, talvez, a tradição mais distintiva e popular.

No Dia de Todos os Santos, as crianças e, por vezes, os adultos, saem à rua, batendo de porta em porta e pedindo o Pão-por-Deus.

O pedido é feito em nome das almas, e em troca recebem broas, bolos secos, castanhas, nozes e, mais recentemente, rebuçados e dinheiro.

Este ritual está diretamente ligado à antiga prática de dar esmolas para as almas dos defuntos.

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As Missas Solenes: São celebradas missas especiais nas paróquias, honrando a memória dos santos e reforçando a doutrina da vida eterna.

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O Ambiente de Recolhimento: Numa perspetiva social, o dia é marcado por um ambiente de respeito, silêncio e reflexão.

Interrompe-se o trabalho agrícola ou outras atividades para dar primazia ao culto da memória e à celebração da fé.

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A fotografia, com o seu nicho votivo isolado e quase selvagem, sugere a fé discreta e duradoura dos locais, que mantêm a sua estátua e o seu altar adornado, integrando o sagrado no seu quotidiano, lembrando que a celebração da santidade e da memória é um ato contínuo, para além dos rituais litúrgicos formais.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
31
Out25

“Campo de futebol relvado, de erva seca” - Travancas – Chaves – Portugal


Mário Silva Mário Silva

“Campo de futebol relvado, de erva seca”

Travancas – Chaves – Portugal

31Out DSC08003_ms

Esta fotografia de Mário Silva, capturada em Travancas, Chaves, retrata um cenário que evoca a melancolia e o contraste entre o desporto e o abandono.

O plano principal é dominado por um campo coberto por erva alta e seca, em tons profundos de castanho-dourado e ocre, sugerindo o final do verão ou o avanço do Outono no interior transmontano.

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Em contraste com o tom da relva, destacam-se duas balizas de futebol em ferro, visivelmente enferrujadas e sem redes, que se erguem como esqueletos sobre o campo.

A primeira baliza, mais próxima e maior, é ladeada por arbustos.

A segunda, mais distante, reforça a profundidade da composição.

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O fundo da imagem é preenchido por uma paisagem montanhosa, suavemente ondulada, que se estende sob um céu dramático, pesado, com nuvens carregadas em tons de cinzento e amarelo-sujo.

A luz é difusa e quente, conferindo à cena uma atmosfera de quietude, isolamento e a memória de jogos passados.

O campo, outrora palco de atividade, surge agora como um monumento à pausa e à espera.

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O Relvado Seco e as Balizas Enferrujadas – O Futebol como Metáfora no Portugal Rural

O “campo de futebol relvado, de erva seca”, capturado em Travancas, Chaves, é muito mais do que um mero registo paisagístico; é uma profunda metáfora da vida e da memória nas aldeias do interior de Portugal.

A imagem evoca a dualidade entre a paixão comunitária e a realidade do despovoamento.

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O Templo do Desporto no Interior

Em comunidades pequenas, o campo de futebol – por mais rústico que seja – transcende a função desportiva.

É um verdadeiro templo social.

É o ponto de encontro de jovens, o palco de rivalidades amigáveis entre aldeias, e o espaço onde a identidade local se reforça a cada golo.

O “relvado” de erva seca, longe do glamour dos grandes estádios, representa a autenticidade e o engenho do futebol praticado na sua forma mais pura, em condições simples.

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As Balizas: Memória e Abandono

As balizas enferrujadas são o ponto focal dramático da fotografia.

A sua corrosão e a falta de redes simbolizam o passo do tempo e, inevitavelmente, o abandono.

O metal, castigado pelos Invernos e Verões, reflete a estagnação da atividade.

Estas balizas permanecem de pé, orgulhosas, mas vazias, a guardar a memória dos jogos, dos gritos de vitória e dos lamentos de derrota.

Elas representam a resistência de uma tradição que teima em não desaparecer, mesmo quando os jogadores já partiram.

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A Paisagem e a Quietude Transmontana

O cenário de montanhas distantes e o céu carregado enquadra o campo numa quietude quase solene.

A paisagem vasta e rural reforça o sentido de isolamento destas comunidades.

A cena, capturada no silêncio da tarde, convida à reflexão sobre o ciclo de vida das aldeias: a vitalidade trazida pelo verão e pelos regressos, e a pausa melancólica trazida pelo Outono e o Inverno, quando a vida comunitária se recolhe e o campo espera pacientemente pela próxima estação.

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Em Travancas, como em muitas outras aldeias de Chaves, este campo de futebol é uma cápsula do tempo, celebrando a paixão inata pelo jogo enquanto lamenta, silenciosamente, os filhos da terra que já não vêm chutar a bola.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
30
Out25

“Um pormenor que é pormaior” - Águas Frias – Chaves – Portugal


Mário Silva Mário Silva

“Um pormenor que é pormaior”

Águas Frias – Chaves – Portugal

30Out DSC07949_ms

Esta fotografia de Mário Silva, capturada em Águas Frias, Chaves, é um estudo focado num detalhe encantador e rústico da arquitetura local.

O título “Um pormenor que é pormaior” (ou “Um pormenor que é por maior”) sugere a importância de se prestar atenção a pequenos aspetos que carregam grande significado.

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A imagem é dominada por uma campainha de ferro forjado e enferrujado, fixada a uma parede rugosa de pedra clara.

O suporte desta campainha tem a forma de um gato sentado, uma figura zoomórfica que confere um toque de fantasia e familiaridade à peça.

O metal está corroído pelo tempo e pela humidade, exibindo tons profundos de castanho e laranja-ferrugem, que contrastam suavemente com o verde esmeralda no olho do gato.

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Por baixo do gato, pende o sino, robusto e igualmente corroído, suspenso por um pequeno elo.

Uma corrente estende-se a partir do sino, completando o mecanismo de chamada.

A luz difusa da tarde realça a textura da pedra e o peso do ferro, conferindo à cena uma atmosfera de quietude, durabilidade e nostalgia pela história que este pequeno objeto carrega.

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O Pormenor que Veste a História

A Simbologia dos Sinos e Enfeites na Arquitetura Transmontana

Nas aldeias do interior de Portugal, especialmente em regiões como Trás-os-Montes, a história não se encontra apenas nos grandes monumentos; está cravada nos pormenores do quotidiano.

A campainha de porta rústica e o suporte em forma de gato, capturados nesta fotografia, são a prova de que “um pormenor é por maior”: um pequeno objeto pode ter um vasto significado cultural e estético.

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O Ferro e o Testemunho do Tempo

O material dominante – o ferro forjado e enferrujado – é um testemunho da durabilidade e da autenticidade da vida rural.

A ferrugem não é vista como desgaste, mas como uma patina do tempo, um registo visual das estações e das décadas que este objeto experienciou na fachada.

O ferro, pesado e resistente, simboliza a natureza imutável da tradição e a resiliência das gentes locais.

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A Campainha e a Comunidade

Antes dos intercomunicadores modernos, o sino à porta era um elemento essencial da comunicação social.

Tocar a campainha não era apenas uma chamada funcional, mas um ato social que anunciava uma visita, o regresso de alguém, ou a chegada de um vendedor.

A campainha é, portanto, um símbolo do limiar entre o público e o privado, e da hospitalidade que define as comunidades pequenas, onde o som do sino era reconhecível e significativo.

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O Gato: Entre a Simbologia e o Afeto

O suporte em forma de gato é o toque que transforma este pormenor em “pormaior”.

O uso de figuras animais em ferro forjado na arquitetura popular tem raízes antigas, muitas vezes ligadas a crenças de proteção e boa sorte.

O gato, em particular, é um símbolo de vigilância, mistério e, nas casas rurais, um guardião prático contra roedores.

A sua presença humaniza a fachada de pedra, injetando uma nota de afeto e folclore no rigor da arquitetura.

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A fotografia de Mário Silva eleva este modesto objeto a um ponto focal, convidando-nos a valorizar os elementos que, embora pequenos, são essenciais para contar a história de uma casa, de uma rua e de uma aldeia.

É uma lembrança subtil de que a beleza e o significado cultural muitas vezes se encontram nos detalhes mais inesperados.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷
29
Out25

“Pela rua principal de Sobreira” – Águas Frias – Chaves – Portugal


Mário Silva Mário Silva

“Pela rua principal de Sobreira”

Águas Frias – Chaves – Portugal

29Out DSC07825_ms

Esta fotografia de Mário Silva capta um pequeno, mas profundamente característico, recanto da aldeia de Sobreira, em Águas Frias (Chaves), no Norte de Portugal.

A composição é dominada por uma antiga fachada rural, rústica e texturada, dividida em duas secções distintas.

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À esquerda, ergue-se uma parede de pedra irregular em tons quentes, banhada por uma luz solar que lhe confere um brilho dourado e acentua a robustez dos materiais de construção tradicionais.

À direita, a parede apresenta um reboco mais claro e desgastado, em contraste suave com a pedra.

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O ponto focal é a porta castanha-avermelhada, de aspeto metálico e simples, que se insere numa moldura de pedra.

Por cima desta porta, luxuriante e viva, cresce uma parreira (videira), com as suas folhas verdes a penderem de forma protetora sobre a entrada e a criarem uma coroa de vitalidade sobre o cenário de pedra antiga.

Esta vide sugere a tradição agrícola e a profunda ligação da vida rural à produção do vinho.

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A telha tradicional no topo da parede, os pequenos pormenores como o tubo de escoamento e a pequena janela, juntamente com a assinatura do autor, emolduram uma cena que exala a calma, a simplicidade e a durabilidade da vida no interior transmontano.

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A Parreira, a Pedra e a Porta – Os Elementos da Memória Rural Transmontana

A fotografia de Mário Silva, capturada na aldeia de Sobreira, em Águas Frias, não é apenas um retrato arquitetónico; é uma síntese visual dos valores e da cultura do Portugal rural e transmontano.

A imagem condensa três elementos centrais da identidade desta região: a pedra, a porta e a videira.

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A Pedra: A Fundação da Resiliência

A parede de pedra, fria e robusta, simboliza a resiliência e a antiguidade destas comunidades.

Construída com o material abundante da região – o granito –, estas fachadas testemunham séculos de vida, resistindo ao rigor do clima e à passagem do tempo.

Cada bloco irregular, iluminado pelo sol, conta a história de uma construção feita à mão, perfeitamente integrada no ambiente circundante.

É uma arquitetura de necessidade, mas também de profunda beleza.

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A Parreira: O Símbolo da Vida e do Sustento

Contrastando com a imobilidade da pedra, a parreira que se debruça sobre a porta traz vida, movimento e cor.

A videira é, historicamente, um pilar da economia e da cultura transmontana.

Crescer à entrada de casa não é apenas decorativo; é um símbolo de sustento, de sombra no verão e, sobretudo, da produção caseira do vinho.

Esta videira luxuriante representa a interdependência entre o homem e a terra, e o ciclo anual de trabalho, colheita e celebração.

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A Porta: O Limiar do Lar

O elemento central, a porta, é o portal entre o mundo público da rua e o santuário privado do lar.

A sua aparência simples e metálica sugere funcionalidade e proteção.

Numa rua principal de uma aldeia, a porta é o ponto de passagem onde se trocam as primeiras palavras do dia, onde o trabalho começa e onde o descanso se encontra.

É o coração visível da vida familiar, emoldurado pelo legado da pedra e pela promessa da videira.

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A fotografia, ao isolar e realçar estes três elementos, captura a essência de Sobreira e de muitas outras aldeias do interior: um lugar onde a tradição se mantém firme na pedra, a subsistência floresce no verde da videira, e o calor da vida reside logo após o humilde limiar da porta.

É um convite à reflexão sobre a autenticidade e a beleza duradoura do Portugal profundo.

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Texto & Fotografia: ©MárioSilva

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Mário Silva 📷

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