Pintarroxo (Linaria cannabina) - Mas ele não tem pintas… e também não é roxo!
Mário Silva Mário Silva
Pintarroxo (Linaria cannabina)
Mas ele não tem pintas… e também não é roxo!
Na imagem, o tempo parece ter parado por um breve e precioso instante.
O pintarroxo, pequeno, mas cheio de presença, pousa sobre uma pedra manchada pelo tempo, como se fosse o guardião de histórias antigas.
O fundo desfocado em tons de verde dá destaque ao protagonista, envolto numa luz suave que parece acariciar cada pena.
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O peito rubro e vibrante brilha como se fosse chama contida, enquanto o olhar do pássaro, sereno e atento, sugere que ele conhece segredos do campo que os humanos já esqueceram.
Mário Silva, com a sua sensibilidade única, não apenas capturou uma ave — ele prendeu em imagem o respiro da natureza em estado de contemplação.
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Mas… por que “Pintarroxo”?
É impossível não se questionar com carinho e uma pontinha de humor:
“Pintarroxo?! Mas ele não tem pintas… e também não é roxo!”
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A resposta, talvez, não esteja apenas na ciência, mas sim na poética popular que batiza o mundo à sua maneira.
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O nome “pintarroxo” vem do latim vulgar "pictus" (pintado) e do português arcaico "roxo", que não significava exatamente a cor roxa como a entendemos hoje.
Na tradição antiga, “roxo” podia designar qualquer tom avermelhado ou violáceo, especialmente aqueles que se destacavam na natureza.
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O peito do macho adulto, especialmente na primavera, adquire esse tom carmesim intenso que, à luz dourada dos dias de campo, pode parecer púrpura aos olhos de um camponês de séculos atrás.
E assim nasceu o nome — um “pintado de vermelho”, ou melhor, um pintarroxo.
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Não é um nome literal. É um nome sentido. Um nome dado por quem observa o mundo com os olhos do coração.
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O pintarroxo, pequeno e vibrante, é um símbolo de resistência e beleza discreta.
Não canta alto, não se impõe.
Mas quem o vê, não o esquece.
Assim também é a fotografia de Mário Silva: delicada, intensa e profundamente comovente.
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Nesta imagem, o pássaro é um instante de poesia viva, que nos lembra da importância de olhar com atenção — porque mesmo os menores seres carregam uma beleza que escapa aos distraídos.
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Em conclusão, “Pintarroxo” é nome de quem não precisa justificar-se com lógica — apenas existir com graça.
E Mário Silva soube escutar esse nome, com a lente e com a alma.
Porque, no fim, o que importa não é se tem pintas ou se é roxo.
O que importa… é que nos toca.
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Texto & Fotografia: ©MárioSilva
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