"A Aldeia deslizando pela encosta do Brunheiro" (Águas Frias - Chaves - Portugal)
Mário Silva Mário Silva
"A Aldeia deslizando pela encosta do Brunheiro"
(Águas Frias - Chaves - Portugal)
À primeira vista, a fotografia de Mário Silva parece apenas um registo sereno de uma aldeia transmontana.
Mas basta um instante a mais de contemplação para perceber que estamos perante uma poesia visual, um abraço entre o tempo e a terra.
A imagem captura Águas Frias, uma aldeia que repousa docemente sobre as encostas do Brunheiro, como se estivesse adormecida ao colo da serra.
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A aldeia, com os seus telhados vermelhos e casas de pedra branca, parece deslizar suavemente pela encosta, numa harmonia silenciosa com a natureza que a envolve.
O verde profundo das árvores e campos cobre o vale como um manto protetor, e ao longe, o horizonte ondula com colinas que se perdem no céu de nuvens delicadamente esculpidas.
A luz do sol banha a cena com um calor que não é apenas físico — é afetivo.
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No primeiro plano, uma fraga musgosa parece testemunha antiga, guardiã de memórias ancestrais.
É como se dissesse: "Aqui, o tempo anda mais devagar."
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Esta fotografia não é só um retrato da geografia.
É um cântico à permanência, ao silêncio das rotinas simples e ao sussurro das histórias que ecoam nas lareiras das casas.
Mário Silva captura mais do que um lugar — ele prende no instante o sentimento de pertença, de raízes cravadas fundo na terra.
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A aldeia parece uma mãe antiga, curvada, mas firme, que acolhe gerações com braços de pedra e memória.
Cada telhado é uma promessa, cada caminho de terra é uma infância vivida descalça.
O olhar do fotógrafo não é neutro: é um olhar emocionado, de alguém que conhece, sente e reverencia aquele chão.
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Há uma melancolia doce nesta imagem.
Não tristeza, mas sim aquele tipo de saudade que só quem já partiu compreende.
Como se a aldeia chamasse baixinho por aqueles que um dia tiveram de sair, mas que continuam a levá-la no peito.
É um convite à contemplação, à reconexão com a terra, à escuta do silêncio.
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Em conclusão, "A Aldeia deslizando pela encosta do Brunheiro" é mais do que uma fotografia — é um testemunho de amor ao interior de Portugal, um elogio à persistência das pequenas comunidades e um espelho onde tantos reconhecem as suas próprias raízes.
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É como se o fotógrafo dissesse ao mundo:
“Olhem bem — ainda há lugares onde o coração bate devagar… e em paz.”
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Texto & Fotografia: ©MárioSilva
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