“O Olhar do Tempo”
Mário Silva Mário Silva
“O Olhar do Tempo”
Através do buraco escavado pelo tempo no velho castanheiro, o mundo revela-se como um segredo há muito guardado.
É um portal entre o passado e o presente, onde a rugosidade da casca ressequida contrasta com a suavidade do musgo que cobre o chão.
A moldura natural desenhada pela madeira carcomida recorta a paisagem como um quadro vivo, onde galhos nus sussurram histórias de outonos passados e de primaveras por vir.
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O castanheiro, outrora imponente, viu o tempo correr diante de si.
As suas folhas cobriram gerações, as suas raízes abraçaram séculos de histórias, e agora, com o seu tronco oco e ferido, ainda observa o mundo com a paciência dos sábios.
Quem se aproxima e espreita pelo seu buraco vê mais do que um cenário – vê uma perspetiva diferente, vê com os olhos da própria árvore.
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Há algo de melancólico e belo nesse olhar.
Como um ancião que já não caminha, mas compreende, o castanheiro não se move, mas enxerga longe.
E ali, entre o passado que lhe deu forma e o presente que se desenrola diante dele, há um convite silencioso para que paremos e observemos a vida com mais profundidade.
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Quantas vezes olhamos o mundo com pressa, sem reparar nos detalhes?
Quantas vezes deixamos de perceber a poesia escondida nas coisas simples?
O velho castanheiro, com o seu buraco aberto ao infinito, ensina-nos a ver de novo, a olhar além, a encontrar beleza na passagem do tempo.
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Talvez, se aprendermos a ver o mundo pelos olhos do castanheiro, possamos compreender que, mesmo no envelhecimento e na transformação, há um espaço para a contemplação, para a memória e para o recomeço.
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Texto & Fotografia: ©MárioSilva
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