A versão moderna dos
três Reis “Magros”
Diz-se que uns reis multimilionários de aspeto físico “magro”, pois todos os dias, para manter a sua forma física corriam atrás dos camelos, pelo deserto, pelo menos 20Km por dia e só comiam verduras (o que era um luxo para o deserto. Mas como eram reis … !!!!). Esses reis, numa reunião para alterarem a monotonia dos seus exercícios físicos (já não podiam ver mais os traseiros dos camelos e a paisagem era sempre a mesma) – que monotonia !!!! Então viram no Goggle que ia aparecer uma estrela cadente, mas com movimento em “slowmotion” e que se dirigia para Belém, decidiram que o seu próximo objetivo era seguir a estrela, até porque já tinham ouvido falar muito de Belém, pois lá havia uma personagem muito popular (até dava beijinhos a qualquer um e tirava “selfies” a quem quer que lhe aparecesse à frente).
Assim decidiram … assim fizeram …
Fizeram-se ao deserto … mas tinham-se prevenido para não se perderem nem na imensidão da areia do deserto, nem na confusão das ruelas, ruas, caminhos, estradas e espante-se até “autoestradas”(que não deixavam passar os camelos dos reis … o tempo já não é o que era, nem respeito por suas majestades). Mas como ia dizendo, eles eram do deserto mas não eram camelos e para não se perderem, muniram-se de um G.P.S. (Guia Pedestre Solitário), homem sábio que bastava olhar para o céu e já sabia onde estava (nem sempre sabia é para onde devia ir, mas isso são pormenores).
Os reis vinham de origens diferentes. O Belchior mais conhecido na sua terra natal por Melchior (que significava “rei da luz”) era o mais velho, dos seus setenta anos, de cabelos e barbas brancas, tendo partido de Ur, terra dos Caldeus, na Pérsia; Gaspar, conhecido por “o branco” (gathaspa), pela sua tez clara, era moço, de vinte anos, robusto e partira de uma distante região montanhosa, perto do Mar Cáspio e Baltasar, conhecido por “senhor dos tesouros” (bithisarea), era mouro, de barba cerrada e com quarenta anos e partira do Golfo Pérsico, na Arábia.
Ora em cima dos camelos, ora a pé (porque o seu traseiro real, por muito almofadado que estivesse, ressentia-se dos altos e baixos do relevo, das curvas e contracurvas (ao menos no deserto podia-se ir a direito …), dos sentidos proibidos, sentidos únicos e rotundas (… afinal, estavam a pensar fazer algumas no deserto … devia ficar bonito e gastava-se algum dinheiro do Povo …). E o Guia Pedestre Solitário (GPS), estava sempre a resmungar, ou porque as nuvens não deixavam ver as estrelas, ou o sol o encandeava, ou porque era solitário tinha que fazer o trabalho sozinho (e até ameaçava fazer greve !!!), ou eram as luzes dos aviões que o confundiam. O certo, é que passaram semanas, meses, anos … às vezes até passavam pelo mesmo sítio.
Mas, com todos estes contratempos, lá foram seguindo a estrela cadente …
Passaram por paisagens magníficas, em especial, num reino que chamavam de Portugal.
Já tinham decidido, que depois da visita iriam comprar alguns imóveis para terem um “visto GOLD”.
Mas o que mais os deslumbrou, foi quando passaram por uma terra lindíssima que se chamava ÁGUAS FRIAS.
- Que magnifico !!! - dito em árabe por Belchior (porque primeiro falam os mais velhos).
- Que beleza ímpar !!! – exclaramou com admiração Baltasar.
- Um verdadeiro oásis !!!! – retorquiu Gaspar (que por ser o mais novo foi o último a falar).
Ainda pararam, na estrada, a pensar …
Ficamos aqui … ? Continuamos …?
Depois de demorada discussão e com o coração apertadinho, o Belchior, o mais emotivo … com os olhos lacrimejantes, concluiu:
- Viemos com um objetivo para cumprir … Chegar a Belém, e entregar os nossos presentes:
- o ouro, um presente para um “rei”; o olíbano (incenso) para um “sacerdote”, representando a espiritualidade; e a mirra, para um “profeta” (a mirra, na terra deles, era usada para embalsamar corpos e, simbolicamente, representava a imortalidade).
E lá foram eles, os seus camelos e o GPS…
Claro, que, como em qualquer viajem, nem tudo pode correr bem …
Encontraram o presidente do PAN, que os mandou parar, pois, segundo eles estavam a infringir a Lei, pois estavam a usar abusivamente dos animais (camelos), o que não era dignificante para o ser Animal. O três Reis ficaram boquiabertos e tentaram convencer, que lá nos seus reinos, o meio de transporte normal era o camelo e pela viajem que já tinham feito, já tinham visto muito mais “camelos”, que não sendo animais, eram menos dignificados que os seus camelos (animais). O PAN, ficou um pouco confuso (como sempre) e lá os deixou seguir viagem.
Passada aqui … passada acolá …
No dia 6 de dezembro, chegaram, finalmente a Belém.
Era já noite escura … passaram em ruas movimentadas com “máquinas” que passavam e cujos “condutores” olhavam para Eles com espanto. Espantavam estava eles com todo aquele movimento, luzes e pessoas que, qual formigas, andavam de um lado para outro. Ainda perguntaram ao GPS:
- Afinal, é aqui, Belém?!!!!
- Suas Altezas, eu raramente tenho dúvidas e nunca me engano – Aqui é Belém.
Deambularam pela noite gélida de dezembro, até que debaixo de uma entrada de uma casa, viram um ser humano, enroscado num cobertor velho e roto e coberto de cartões e acompanhado por dois animais (única companhia) que juntinho a Ele se aqueciam e o aqueciam ….
Os três Reis “Magros” …. olharam … observaram aquela imagem de simplicidade e sofrimento, no meio da magnitude envolvente e, com os olhos carregados de água, abeiraram-se desse Ser e pensaram:
- Só pode ser Este o que o que procuramos … o ser que veio para no meio da humildade. Simplicidade e sofrer por nós …
Desceram dos seus camelos, abeiram-se Dele, que, no meio de frio, conseguia dormir
Ajoelharam-se, em sinal do seu reconhecimento pelo seu sofrimento … cobriram-no com as suas próprias mantas …
Ele acordou … primeiro assustou-se … depois vendo aqueles Reis ajoelhados, à sua volta, espantou-se …
- Não tenham receio … Nós fizemos uma grande viajem para reconhecer a Tua valorosa Vida …
Conversaram, consolaram-no. O Seu rosto foi ficando mais cada vez mais radiante (nunca tinha sido tão bem tratado…era maltratado e ainda é).
Os Reis depois de passarem grande parte da noite com Ele, deixaram os presentes que traziam consigo: Ouro, incenso e mirra …
O Guia Pedestre Solitário (GPS) olhou para o céu e viu que a estrela que os tinha guiado, deixara de brilhar, sinal que tinham chegado ao local desejado.
Os Reis, voltaram a montar os seus camelos e com o coração triste (depois de verem o estado em que Ele vivia), sentiram-se também contentes, pois Ele ficou muito confortado com a sua visita e os presentes deixados, iriam tornar os seus dias futuros menos árduos. Afinal Ele viera para Sofrer. Mas será que os outros compreenderão o seu Sofrimento.
E, sempre com o valioso auxílio do Guia Pedestre Solitário, os Reis retomaram a viagem de regresso às suas diferentes terras. E tinham aprendido muito e tinham muito para contar.
Mas, o que ainda lhes ficou na memória foi aquela manhã gélida que passaram por aquela “pequena mas bela Aldeia –ÁGUAS FRIAS”.
Mário Silva