02
Dez07
Águas Frias (Chaves) - Clima / Frio / Calor Humano
Mário Silva Mário Silva
“A tradição já não é o que era”
“O aquecimento global está a mudar o clima …”
“Chuvas em Novembro, Natal em Dezembro” - …alguém dizia …
Estas frases que se vão ouvindo a todo momento, … em qualquer lugar.
![]() |
O certo, é que estamos em inícios de Dezembro e quando outrora … era comum, por estas alturas, termos predominantemente dias cinzentos, chuvosos, com nevoeiros, temperaturas baixas, com grandes geadas e até nevões (como comentava o amigo Tino, que se lembrava, de em criança, da apanha da castanha no meio da alvura do chão); agora … quando o Outono está em fase de despedida e já se vislumbra o aproximar do Inverno, sente-se que “já não é o que era”.
Mas estas alterações trazem sempre consequências – a falta de chuva pode pôr em risco a quantidade e qualidade das culturas hortícolas.
“Como seria o Natal sem o sabor das tenras e saborosas couves, cultivadas com tanto empenho pelas gentes de Águas Frias?”
![]() |
Mas, o frio faz-se, no entanto, sentir e toda uma labuta é necessária para o amenizar e tornar o aconchego da casa mais acolhedor.
![]() |
O acender da lareira (elemento imprescindível em qualquer casa de Águas Frias, seja ela antiga, remodelada ou nova e mesmo depois da modernidade do “aquecimento central”) tem por trás um rol de tarefas que não devemos olvidar e até valorizar:
- escolher as árvores (essencialmente o carvalho) a abater, tendo em atenção as que, embora jovens, estão muito juntas (impedindo o bom desenvolvimento das restantes) ou as que já atingiram a sua maturidade;
- abate-las, outrora utilizando o machado, machada ou serra manual e actualmente manuseando a ruidosa moto serra, facilitando a árdua tarefa;
- cortar as “gestas” (arbusto que quando seco é de fácil combustão facilitando o acto de acender a lareira) – substitui com todas as vantagens ecológicas as “acendalhas”usadas nas cidades;
- carregar toda a lenha, antigamente para a carroça puxada pelo cavalo, égua, mula, burro … e actualmente, essencialmente por tractores;
- chegados junto a casa, nova tarefa – descarregar toda a lenha;
![]() |
- Antes de a cuidadosamente empilhar, para que ocupe o menor espaço possível e seja facilmente acessível, é necessário rachar em pequenos e grossos “canhotos” e “pitar” os ramos mais miúdos;
|
Todo esse trabalho é recompensado com um bom “fogo” na lareira, dando o calor necessário para que se possa suportar o frio de lá de fora e se poder, em seu redor, não só descansar no “escano” como confraternizar na companhia de um copo de tinto e de uma “buchazita” (por vezes aproveitando as brasas para assar um salpicãozito envolto numa folha de couve); cozinhar uma boa sopa de feijão “(en)farta rapazes” ou de tenra hortaliça ou até um cozido à portuguesa nos “potes” de três pés, …
A lareira é o elemento fulcral para que se possa “fumar” e dar aquele sabor inconfundível ao presunto e a todo o fumeiro.
|
Boooom, ….
Quem não se lembra dos bons momentos que passaram à volta de uma lareira acesa?
A lareira era e ainda é o “centro da casa”, em que, no Inverno, tudo gira à sua volta.
A lareira exala luz e calor mas também potencia o Calor Humano, pois junta as Pessoas à sua volta.
****