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MÁRIO SILVA - Fotografia, Pintura & Escrita

*** *** A realidade é a "minha realidade" em imagens (fotografia, pintura) e escrita

27
Set07

Águas Frias (Chaves) - Era uma vez uma casa só ...


Mário Silva Mário Silva

 

Procurando fotos para colocar neste espaço, sobre a aldeia de Águas Frias, verifiquei que em muitas delas apareciam casas que por falta de ocupação, se encontravam em estado avançado de degradação. Embora essas imagens nem sempre sejam as mais esteticamente agradáveis para o observador, elas representam um Passado e Vida da aldeia e, certamente, têm uma História repleta de estórias para contar.

Como não conheço as suas verdadeiras histórias, vou tomar a liberdade de contar uma história imaginária de uma casa imaginária, que bem poderia ser a de uma qualquer casa inabitada de Águas Frias ou de outra qualquer aldeia de interior destas terras a trás-dos-montes plantada.

***

 Nota: As fotos que acompanham a história servem somente como ilustração e serviram tão somente de inspiração, não correspondendo necessariamente ao conteúdo da história (imaginária ??)

***

Era uma vez uma casa, … uma casa agora velha, usada, marcada pelo passar tempo, pela vida dos que lá viveram, … uma casa levantada, pedra a pedra, com o esforço e suor, que se foi acomodando consoante as necessidades das pessoas que nela habitaram.

Hoje, a casa está só (embora no meio de muitas outras … ora como ela  … ora exaustas pelo rigor dos tempos e se deixaram abater … ora metamorfoseando-se pelas novas técnicas, dando-lhes a dignidade que merecem ou escondendo as suas origens e tentando “civilizá-las” com materiais que as deixam com ar estupefacto….

 

 

Ela sente-se só … vazia, mas …com milhares de sonhos daqueles que lá dormiram nos seus quartos …que correram nos seus corredores, que se inebriaram nas suas adegas … que correram nos seus corredores … que cruzaram as suas portas …que observaram o “acontecer o mundo” através das suas janelas …

Casa que foi, em tempos que já lá vão, o centro de tudo (para quem lá viveu).

Hoje, … está só …

…mas foi durante décadas, um projecto de vida, o centro da existência de tantas pessoas, de tantas gerações.

…foi o íman aglutinador da família …

 

A casa que rejubilou com os nascimentos, sofreu com as maleitas, chorou com as mortes, fomentou amores, e até …

 

A casa, agora, foi abandonada do riso das crianças, que corriam pelos corredores, no jogo da apanhada ou fazendo traquinices aos irmãos …

 

A casa é agora apenas uma ténue ideia do que foi no passado.

 

 

A casa é hoje uma névoa onde habitam fantasmas, uma ruína curvada pelo peso de vidas passadas, uma história contada nas rugas dos materiais que se vergam e caem … no pó.

 

Sob a mantilha desse passado está a vida silenciosa desse espaço que não fala por palavras nem por gestos, mas pelo passar dos dias e dos anos.

 

A casa é todo um universo. A casa é toda a ideia que se fez dela, as estórias que se contaram de uns para outros, de tempo para tempo.

Foi e é, todo um desejo de eternidade, cravado no granito das suas paredes …

Hoje a casa está só, … sem ninguém, … vazia de si mesma e vergada pelas emoções, afectos, vivências que silenciosamente partilhou.

 

 

Afinal, o que fica das coisas sem vidas que as habitem?

 

Somente pedras …, que apesar de serem somente matéria inanimada, podem mostrar-nos toda uma Vida.

 

Mário Silva 📷
15
Set07

Águas Frias (Chaves) - Da janela ...


Mário Silva Mário Silva

 

 

 

 

É, de facto, um previlégio, poder abrir a janela e depararmo-nos com uma paisagem destas ... é Águas Frias.

 

É soberba a mistura dos variados tons da paleta das cores da natureza:

- os verdes dos feijoeiros, devidamente, e quase geometricamente, alinhados, dos campos de milho, dos verdes das copas das árvores;

- os vemelhos e laranjas dos telhados novos ou velhos;

- os castanhos claros do restolho;

- os variados castanhos da serra de Mairos pintalgada com o seu casario;

- o cinzento claro do fumo lançado pelas chaminés, demonstrando a existência de Vida (e que o tempo, mesmo em Agosto, nada tinha de abrasador);

- o azul do céu pincelado de alvas nuvens;

- o branco debruado a cinzento do granito da torre sineira do igreja;

- ...

 

Se eu fosse pintor, gostaria de pintar uma paisagem destas, ....

Ela consegue transmitir-nos, em doses comedidas, paz, meditação, contemplação, ...

 

Com esta paisagem veio-me à memória um poema de Alberto Caiero, que, porventura, até contrasta com o que acabei de escrever, mas de qualquer forma, gostaria de partilhar com quem por aqui possa passar.

 

 

Filosofia da janela fechada

Não basta abrir a janela
Para ver os campos e a serra.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela
.

Alberto Caeiro (1925)

 

 

 

 

Mário Silva 📷
05
Set07

Águas Frias - Mais um Verão chegou ao fim …


Mário Silva Mário Silva

 

Águas Frias ... ao longe

Foto cedida por Miguel Mozer

 

 

Mais um Verão chegou ao fim …


Durante os meses de Julho e especialmente de Agosto, Águas Frias retransformou-se mais uma vez, … encheu-se de vitalidade, encheu-se das suas Gentes (nascidas, criadas, adoptadas ou simplesmente amigas).


Nestes meses, tudo se transforma …


As ruas deixam o silêncio bucólico, onde o tempo corria, ao ritmo das tarefas das hortas, searas, soutos, campos, vinhas … e dão, agora, lugar às correrias das crianças (onde estavam elas nos outros meses?); aos jovens que convivem entre si, fazendo do largo e edifício da Junta de Freguesia o seu “ponto de encontro”; das bicicletas (cada vez menos), das motas e “moto4” (cada vez mais) que correm as ruas da aldeia em todos os sentidos; dos automóveis que vão e vêm, cruzando a aldeia, cheios de gente com rosto aberto de contentamento; …
Bom, .. Águas Frias emana vida …


Nas casas, velhinhas, novas ou reconstruídas, agora cheias de gente e movimento, aproveita-se o tempo (sempre pouco) para se fazerem aqueles arranjos há tanto planeados, … dá-se uma mãozinha ao arranque da batata ou da cebola, … vê-se o estado da vinha, rega-se a horta, …mas, essencialmente, convive-se com os familiares e amigos.


No café do Pires (aproveito para dizer o quanto contente fiquei por o ver, de novo, no seu café e em franca recuperação – parabéns és um herói) e no restaurante do Quim Russo, aglomeram-se, à roda de uma chávena de café, de uma cerveja fresquinha ou de um qualquer petisco, pequenos e até grandes grupos (há famílias com 12 filhos – se multiplicarmos por dois e juntarmos os filhos destes - vejam lá o lindo número que perfaz), que aproveitam para se reverem, contar e recontar as suas estórias, do passado ou do presente, enfim …confraternizar.

 

Águas Frias ... ainda mais ao longe

Foto cedida por Miguel Mozer


Afinal, “nada muda, mas tudo se transforma”


Com o fim do Verão, também findaram as férias…


Cada um, volta aos lugares que “escolheram” para procurar o tipo de vida que a aldeia não lhes quis ou pode oferecer. A todos, espero que tenham tido um “regresso” tranquilo.
A saudade ficou … (de quem parte e de quem fica).


Ficaram os residentes/resistentes que escolheram Águas Frias como seu local de habitação permanente e até alguns explorando actividades, que penso eu e eles, com potencialidades na própria Aldeia.


A TODOS, um bom recomeço ou continuação de mais um ano de labuta.


Seja daqui a uma semana ou daqui a um ano … um até breve.


Pois é … acabou o Verão … nada muda … mas que Águas Frias se transformou … isso que ninguém duvide.

 

 

 

Mário Silva 📷

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