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Abr08
Águas Frias (Chaves) – Duas flores/duas maravilhas
Mário Silva Mário Silva
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Durante o mês de Abril, que agora termina, Águas Frias foi-se lentamente pincelando de um colorido próprio do rejuvenescer da Natureza. Os castanhos vão dando lugar a um largo espectro de verdes pintalgados, aqui e ali, pelo colorido das flores das árvores ou das flores que espontaneamente desabrocham pelos campos.
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Mas dessa panóplia de flores, duas delas me atraem mais a atenção. Possivelmente pela sua singeleza.
Uma é a giesta (aqui designada simplesmente por gesta), seja ela branca (menos comum) ou a amarela, que invade a serra, as bordas dos terrenos, os carvalhais, …
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É uma planta arbustiva que pode atingir os 3 metros de altura. As suas flores, de cinco pétalas, além do seu colorido emanam um odor intenso e agradável.
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A gesta, devido à sua propagação pode ser até considerada invasiva (e agora a sua utilização cada vez é menor).
Ela floresce nos finais do mês de Abril e nalgumas regiões do Norte de Portugal reveste-se de vários significados e histórias. Na noite de 30 de Abril e 1 de Maio (por isso, nessas regiões são também conhecidas por “Maias”) cortam-se e colocam-se pequenos raminhos nas portas e janelas da casa, nas cortes, nos currais, galinheiros, coelheiras, …. Com o objectivo de “enxotar o carrapato”; afastar o mau-olhado; anunciar e dar vivas à Primavera ou anunciar o novo ano agrícola.
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Tem o monte, um verde novo E um amarelo em festa; Para dar às mãos do povo Os raminhos de giesta. P’ra responder à tradição As Maias lá vão buscar Vai o ateu, vai o cristão As portas vão sinalizar |
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A outra flor (e esta da minha predilecção) é a da cerdeira (cerejeira). A sua flor branca é simples e até efémera, pois dura apenas alguns dias.
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Mas a esta singeleza contrapõem-se um aglomerado/concentração de flores em cada ramo que lhe dá um conjunto de alvura imaculada que se mescla com o verde das suas tenras folhas e os castanhos do seu tronco e da terra que a sustenta.
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Mas se uma cerdeira é bela, imagine-se um conjunto dessas árvores …. um encanto. É como ver neve em plena Primavera!
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Se tanto se publicita as amendoeiras em flor (noutras regiões), porque não aproveitar este espectáculo das cerejeiras em flor, que em nada lhes ficam atrás.
E … depois, outro espectáculo lhe advém – as mesmas árvores que se vão pintalgando de frutos vermelhos e carnudos que vão emergindo por entre a folhagem verde (mas isso ficará para um pouco mais tarde mas que não muito longo).
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UMA CEREJEIRA EM FLOR
Acordar, ser na manhã de Abril
a brancura desta cerejeira;
arder das folhas à raiz,
dar versos ou florir desta maneira .
Abrir os braços, acolher nos ramos
O vento, a luz ou o que quer que seja;
Sentir o tempo, fibra a fibra,
A tecer o coração duma cereja
Eugénio de Andrade
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