Borboleta-pequena-das-couves (Pieris rapae) e a estorinha
Mário Silva Mário Silva
Borboleta-pequena-das-couves (Pieris rapae)
e uma estorinha
Esta fotografia de Mário Silva, intitulada "A borboleta-pequena-das-couves (Pieris rapae)", apresenta um plano aproximado de uma borboleta da espécie “Pieris rapae” repousando sobre uma folha verde.
A borboleta é capturada de perfil, revelando as suas asas de um tom amarelado pálido ou creme, com finas nervuras escuras que se destacam.
As asas mostram uma textura levemente aveludada e um brilho subtil.
O corpo da borboleta é coberto por uma penugem clara, e as suas antenas, finas e com as pontas engrossadas, estendem-se para a frente.
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A folha verde que serve de pouso à borboleta é o elemento dominante no fundo, preenchendo a maior parte da imagem.
A sua superfície é lisa e exibe um tom de verde intenso, com algumas áreas mais iluminadas e outras em sombra.
A luz incide de forma a criar uma sombra nítida da borboleta na folha, adicionando profundidade à composição.
A fotografia realça a delicadeza da borboleta e a simplicidade elegante do seu “habitat”, transmitindo uma sensação de quietude e observação da natureza em detalhe.
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A Estória: O Segredo da Pequena Peregrina
Naquele recanto do jardim, onde as folhas de couve se estendiam em vastos tapetes verdes, vivia uma pequena borboleta, uma “Pieris rapae” com asas de seda amarela pálida.
Não era a mais vistosa das borboletas, sem os desenhos vibrantes das suas primas tropicais, mas possuía uma beleza discreta e uma curiosidade insaciável.
Chamava-se Clara.
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Clara passava os seus dias a planar entre as folhas, saboreando o néctar das flores vizinhas, mas o seu coração ansiava por mais.
Ao contrário das suas irmãs, que se contentavam com o ciclo previsível do jardim, Clara sonhava com as histórias que o vento sussurrava sobre terras distantes, sobre montanhas azuis e rios prateados que serpenteavam por vales desconhecidos.
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Um dia, enquanto repousava sobre uma folha de couve, aquecida pelo sol da tarde, uma rajada de vento mais forte do que o habitual apanhou-a de surpresa.
Em vez de resistir, Clara abriu as suas asas, permitindo que a corrente a levasse.
Não sabia para onde ia, mas a emoção do desconhecido encheu-a de uma coragem inesperada.
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Voou por campos dourados de trigo, sobre ribeiros onde peixes prateados saltavam, e por florestas densas onde as árvores pareciam tocar o céu.
As suas asas, outrora tão comuns, agora pareciam um mapa, com as suas nervuras finas a desenhar as rotas que já tinha percorrido e as que ainda iria desbravar.
Cada pouso, mesmo que breve numa folha desconhecida, era uma nova revelação.
Descobriu o sabor de novas flores, ouviu o canto de pássaros que nunca vira e sentiu a frescura de orvalhos matinais em altitudes elevadas.
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Numa dessas paragens, numa folha de um verde intenso e desconhecido, Clara parou para descansar.
As suas antenas tremelicavam, absorvendo os aromas do novo ambiente.
Sentiu-se pequena, mas ao mesmo tempo imensa, parte de algo muito maior do que o seu jardim de origem.
A sombra das suas asas na folha era uma memória da sua jornada, da sua persistência.
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Clara nunca mais voltou ao jardim das couves.
Tornou-se uma verdadeira peregrina, a pequena borboleta das couves que voou para lá dos horizontes conhecidos.
As suas asas pálidas, outrora vistas como simples, tornaram-se o estandarte da sua liberdade, e cada nova folha em que pousava era um novo capítulo na sua extraordinária história de aventura.
E assim, a borboleta-pequena-das-couves provou que mesmo o mais humilde dos seres pode esconder um espírito grandioso e um desejo insaciável de descobrir o mundo.
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Texto & Fotografia: ©MárioSilva
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