Tenho vindo, desde o início deste blog, tentando mostrar a aldeia de Águas Frias: as suas ruas, as suas casas mais características, a sua igreja, o Castelo, as suas paisagens envolventes, pormenores, …
Claro que é a minha “visão” pessoal desta Aldeia, e os “clicks” que vou disparando, reflectem o meu sentir desta belíssima terra e tento mostrar a todos aquilo que vejo, que quero ver e aquilo que me dar prazer mostrar.
Mas tenho consciência que tem havido uma grande lacuna nesta minha partilha, ao longo destes, mais de dois anos. Tenho referido, aqui e ali, breves referências às suas Gentes e ao seu árduo trabalho, tanto nas lides de casa como nas hortas, nos campos, nos currais, nas vinhas, nos pomares, ...
Não tem sido por esquecimento, até porque prezo e admiro o esforço, o lutar contra todas as adversidades, desde o incerto tempo (chuvas, geadas ou até calor em demasia e fora de tempo, o que põe muitas vezes, em causa todo o trabalho realizado numa época ou até num ano), as adversidades, de o fruto do ser trabalho ser tão pouco compensador economicamente.
Dou valor a quem, lutando contra tudo isto, ainda mantêm as suas hortas viçosas, os seus campos cultivados, as suas vinhas cuidadas.
Esta, é Gente lutadora, que enfrenta estes trabalhos agrícolas e agro-pecuários, sempre com uma “risa” no rosto, mesmo com o ardor nas costas ou os braços doridos.
Toda esta introdução, para louvar esta Gente laboriosa de Águas Frias, que não esqueço.
Claro que, como só posso ir a Águas Frias alguns fins-de-semana e férias, não me é fácil obter imagens das imensas tarefas que se vão realizando durante o ano.
Também me retraí, na obtenção de imagens que envolvessem pessoas, pois tinha e tenho “medo” de ferir a individualidade de cada um, que têm direito à sua imagem. Mesmo assim, vou arriscar, inserindo algumas fotos que terão imagens desta Gente Aquafrigidense, em situações de trabalho.
Se alguém sentir que foi invadido na sua individualidade, peço que de imediato entre em contacto com o autor deste blog, através de e-mail ou telemóvel, que estarão disponíveis no lado esquerdo em cima desta página, no local “ver perfil”, e desde logo serão retiradas todas as fotos indesejadas.
Vou iniciar, esta rubrica, com duas actividades que embora sejam muito diferentes, são essenciais a um bom resultado final nas suas produções: a poda/enxertia das árvores de fruto e o escarnar da vinha:
A Poda/Enxertia:
Poda
“Podar vem do latim putare, que significa limpar, derramar.
Já Cândido de Figueiredo esclarece que podar eqüivale a “limpar ou cortar a rama ou braços inúteis das videiras, árvores, etc.”.
Para Joaquim Rasteiro, “é o conjunto de cortes executados numa árvore, com o fim de lhe regularizar a produção, aumentar e melhorar os frutos, mantendo o completo equilíbrio entre a frutificação e a vegetação normal, e, também com o fim de ajudar a tomar e a conservar a forma própria da sua natureza, ou mesmo de a sujeitar a formas consentâneas ao propósitos econômicos de sua exploração”.
Para Acerete a definição acadêmica de podar é “cortar o quitar las ramas superfluas de los árboles, vides e otras plantas, para que fructifiquen con más vigor”.
Bailey, citado por Inglez de Souza, diz em sua enciclopédia de horticultura que “poda é a remoção metódica das partes de uma planta com o objetivo de melhorá-la em algum aspecto para os interesses do cultivador”.
A poda é a arte e a técnica de orientar e educar as plantas, de modo compatível com o fim que se tem em vista.
Embora seja praticada para dirigir a árvore segundo o capricho do homem, a utilização da poda, em fruticultura, tem por objetivo regularizar a produção e melhorar a qualidade dos frutos. …
É o conjunto de cortes executados numa árvore, com o objetivo de regularizar a produção, aumentar e melhorar os frutos, mantendo o completo equilíbrio entre a frutificação e a vegetação normal;
É a técnica e a arte de modificar o crescimento natural das plantas frutíferas, com o objetivo de estabelecer o equilíbrio entre a vegetação e a frutificação.
É a remoção metódica das partes de uma planta, com o objetivo de melhorá-la em algum aspecto de interesse do fruticultor.
A poda por si só, no entanto, não resolve outros problemas ligados à produtividade.
Ela é uma das operações, porém outras medidas são necessárias, tais como: fertilização adequada para corrigir possíveis deficiências nutricionais do solo, irrigação e drenagem para manter um nível adequado de umidade, controle fitossanitário para combate de doenças e pragas, afinidade entre enxerto e porta-enxerto, plantas auto-férteis ou compatíveis, polinização, condições climáticas e edáficas favoráveis.
A importância de se podar varia de espécie para espécie, assim poderá ser decisiva para uma, enquanto que para outra, ela é praticamente dispensável. Com relação à importância, as espécies podem ser agrupadas em:
· · Decisiva: Videira, pessegueiro, figueira, nespereira.
· · Relativa: Pereira, macieira, caquizeiro, oliveira.
· · Pouca importância: Citros, abacateiro, mangueira, nogueira, pecã.
Como regra geral para se saber se a poda é uma operação importante ou não, pode-se estabelecer que ela é tanto mais necessária quanto mais intensiva for a exploração frutícola e, inversamente menor a sua importância quanto mais extensiva for a cultura (Inglez de Souza, 1986). Esta importância da poda está também diretamente relacionada com o objetivo da exploração, ou seja, que tipo de produto o mercado exige; pois com a poda pode-se melhorar o tamanho e a qualidade dos frutos.
O podador, deverá fazer uso de seus conhecimentos e habilidades, onde um gesto seguro reflete a convicção de quem acredita que a interferência humana é imprescindível para modelar um pomar. Na natureza, as plantas crescem sem qualquer modelamento, buscam sempre a tendência natural de crescerem em direção à luz, tomando a forma vertical, e com isso perdem a regularidade de produção.
Para que a poda produza os resultados esperados, é importante que seja executada levando-se em consideração a fisiologia e a biologia da planta e seja aplicada com moderação e oportunidade.
OBJECTIVOS DA PODA
Os sete objectivos principais da poda são:
1º- Modificar o vigor da planta;
2º- Produzir mais e melhor fruta;
3º- Manter a planta com um porte conveniente ao seu trato e manuseio;
4º- Modificar a tendência da planta em produzir mais ramos vegetativos que frutíferos ou vice-versa;
5º- Conduzir a planta a uma forma desejada;
6º- Suprimir ramos supérfluos, inconvenientes, doentes e mortos;
7º- Regular a alternância das safras, de modo a obter anualmente colheitas médias com regularidade.
Por que é necessário o recurso da poda? Não é verdade que, no seu estado selvagem, as plantas não são podadas e, apesar disso, se desenvolvem em perfeitas condições? Esta pergunta é formulada muitas vezes, mas, de fato, a natureza tem o seu próprio método de poda. Os ramos pequenos desprendem-se naturalmente e os galhos finos, as folhas e as flores morrem e caem. Vagarosa mas continuamente, todas as plantas sofrem um processo de renovação natural. Pela poda não fazemos mais do que acelerar, embora parcialmente esse processo normal (Brickell, 1979)."
In “ http://www.fruticultura.iciag.ufu.br/poda.html” onde poderá obter muitíssimas mais informações sobre esta delicada técnica, que com mestria muitos dos habitantes de Águas Frias realizam nas árvores de fruto e na videira, sendo esta sabedoria passada de geração em geração, através da “escola prática da Vida”.
A Enxertia
“A enxertia é a união dos tecidos de duas plantas, geralmente de diferentes espécies, passando a formar uma planta com duas partes: o enxerto (garfo) e o porta-enxerto (cavalo). O garfo, cavaleiro ou enxerto é a parte de cima, que vai produzir os frutos da variedade desejada e o cavalo ou porta-enxerto é o sistema radicular, o qual tem como funções básicas o suporte da planta, fornecimento de água e nutrientes e a adaptação da planta às condições do solo, clima e doenças. O seu desenvolvimento é rápido, o que facilita a reconstituição de um plantio perdido por pragas.
A enxertia pode ser feita por vários métodos, sendo os mais comuns a encostia, a borbulhia, a garfagem com suas variações, conforme a planta, pois cada espécie se adapta a um tipo. Tem inúmeras vantagens como, por exemplo, o consílio de características várias numa só planta.”
Escarnar a vinha
Tentei procurar um artigo sobre esta actividade mas não encontrei (pelo menos com esta nomenclatura), por isso vou-me limitar a descrever o que vi fazer, perdoando-me os mais esclarecidos sobre este assunto, se a descrição for pobre ou até imprecisa.
Escarnar (que na forma mais erudita quer dizer tirar a carne junto ao osso), aqui significa, a tarefa de retirar as ervas daninhas que crescem junto à cepa. É um trabalho árduo pois com a ajuda das ferramenta como sejam o sacho, sachola ou ganchas cava-se junto do pé da cepa retirando as ervas com as suas raízes para evitar que voltem a nascer. Parece uma tarefa fácil para quem vê mas … pura ilusão.
São inumeras vezes que se levanta o sacho, … se o atira enérgicamente contra o solo seco, se retira para o lado as ervas. Se isto não bastasse é necessário precisão pois é as ervas estão junto ao pé da videira e não se lhe pode tocar. Se pensa que é simples, …. não há nada melhor como experimentar.
Além da técnica de precisão, é todo um esforço braçal e da coluna que vezes sem conta se curva, e o empunhar do cabo de madeira do sacho, sachola ou ganchas, que deixa as mãos calejadas.
Esta tarefa é essencial ao bom desenvolvimento das vides, pois ao eliminar as ervas daninhas, evita-se que estas absorvam o alimento necessário à videira e o revolver da terra favorece a oxigenação da terra.
Esta é uma das muitas tarefas fundamentais (podar, espoldrar, enxofrar, sulfatar, vindimar, pisar, encubar, …) para que se atinja a boa qualidade do “néctar dos Deuses” que Águas Frias tão bem produz.
Este “post” já vai longo, mas queria ainda deixar um agradecimento a todos os que aqui se deixaram expor e estender a todos os outros habitantes que anonimamente as realizam com a mesma dedicação.
Outras tarefas serão aqui retratadas, em homenagem a esta GENTE de Águas Frias, dedicada, trabalhadora, endurecida pela Vida e muitas, muitas vezes esquecida.
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