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MÁRIO SILVA - Fotografia, Pintura & Escrita

*** *** A realidade é a "minha realidade" em imagens (fotografia, pintura) e escrita

26
Mar08

Águas Frias (Chaves) – A Páscoa e o folar


Mário Silva Mário Silva

A época pascal é um período nobre na vida das aldeias flavienses e a aldeia de Águas Frias não foge a esta regra.
Além de todo o espírito religioso que a época evoca, com todos os seus rituais próprios, desde as várias celebrações passando pela Via-Sacra e culminando com a Visita Pascal (vulgarmente denominada “compasso”),

 a aldeia prepara cuidadosamente o dia de Páscoa de variadas formas, embora hoje dedicarei este espaço ao elemento que nenhum aquafrigedense dispensa nesta época: o FOLAR.
Desde algum tempo atrás que se dedica a atenção aos componentes necessários à sua confecção.
Não se pode ficar pela intenção, é preciso acção. Ou então corre-se o risco de acontecer como na estória que se conta por estas alturas:
“Havia uma mulher que tinha vontade de cozer o seu folar só que:
- a lenha estava no monte;
- a farinha por moer;
E pergunta-lhe o marido, não vendo os preparativos para a confecção dos folares:
- Então, mulher, e a farinha?
E a mulher zangada responde:
- Ó c’um catano, e dá-lhe a p… com a farinha.”
.......
Voltando à realidade, ... em Águas Frias, já todos desde há algum tempo que:
- prepararam o forno;
- cortaram e pitaram a lenha;
- compraram a farinha (desde há muito que os moinhos não moem) e o fermento de padeiro;
- se limpou criteriosamente a masseira;
- se prepararam panos limpos e brancos para proteger a massa; …
Bom, … tudo está a postos … então, vamos lá à sua confecção:
- Na masseira deita-se a farinha, separando-a em duas partes e no meio juntam-se os ovos (12 para cada kilo de farinha). Lentamente, mas com movimentos ritmados, vai-se juntando a farinha com os ovos, de modo a que se torne numa massa homogénea.
- De seguida separa-se novamente a massa e junta-se uma chávena de azeite e volta-se a misturar muito bem. Novamente se separa a massa e junta-se margarina (ou banha) derretida (± 250g) mas tendo o cuidado que ela esteja morna e não muito quente para não “cozer” a massa;
- Volta-se a amassar. Junta-se fermento de padeiro (± 15 gramas por cada Kilo de farinha). Amassa-se novamente e finalmente junta-se um pouco de sal. Os ingredientes já estão todos. Agora têm-se que amassar de novo, de forma enérgica (sendo uma tarefa que exige esforço físico, pois tudo tem que ficar completamente misturado).
Enquanto se amassa e para que a fornada saia na perfeição, vai-se dizendo a seguinte oração:
“S. João te faça pão
S. Brás te faça em Paz
S. Mamede te levede
S. Vicente te acrescente”
(a cada frase faz-se uma cruz na massa)
“Em nome de Deus e da Virgem Maria,
Um Pai-Nosso e uma Avé Maria” (que se rezam enquanto se vai amassando).
Quando a massa começa a produzir bolhas de ar é indicador que está pronta.
Junta-se toda a massa e rapa-se a masseira (lembrem-se que aqui nada se perde …) e tapa-se com um pano branco, deixando-a, durante pelo menos duas horas, a levedar.
….
Entretanto já se foi preparando as gestas e a lenha para aquecer o forno.
Depois de queimada a lenha, rapam-se as brasas para a boca do forno e varre-se, com uma vassoura de gesta.
Não há qualquer termómetro ou outro instrumento para medir a temperatura, mas a experiência diz que forno está devidamente quente quando o tijolo passa de laranja para esbranquiçado e a temperatura ideal verifica-se atirando um pouco de farinha para o seu interior e se observa que esta não queima de imediato.
Enquanto isto, já se deu tempo à massa levedar, ficando mais alta e menos consistente. Agora, vai-se dividindo em pequenas porções, volta-se a amassar, espalma-se e colocam-se as carnes (pequenos pedaços de presunto, carne gorda, salpicão, …) e envolvendo-as com a massa, dando-lhes a forma característica desta região.
É altura de enfornar.
Coloca-se uma folha de papel (muitas vezes recuperando o papel dos sacos da farinha – nada se perde …), na pá e vai-se colocando, de forma ordenada, os folares no forno. Enquanto se enforna diz-se:

 “Cresça o pão no forno
À  saúde do seu dono
Bem como ao Mundo inteiro
Rezemos um Pai Nosso e uma Avé Maria”
Agora é só esperar.
Algum tempo depois, é vê-los … com aquele aspecto aloirado a “olhar” para nós. Huuummm … mas ainda é necessário desenfornar, um a um, e colocá-los sob um alvo pano.

Que cheirinho bom!!!!
Mas, que pena, era Sexta-feira Santa e não se lhes podia meter o dente, mas no Sábado não escapam.
Esta verdadeira iguaria vai ser degustada, não só pelos naturais de Águas Frias como pelos que a visitaram e/ou enviados para as mais variadas localidades (portuguesas ou pelos mais diversos cantos do mundo, onde haver um familiar ou amigo).

Aproveito para agradecer à Noémia, que amassou os folares, à Dona Fernanda que entre outras tarefas, acendeu o forno e ajudou a enfornar; às Senhoras Elviras que também ajudaram e à Dete que é a proprietária do forno. Mas, acima de tudo, tenho que estar grato pela paciência e total disponibilidade que todas tiveram para me aturarem e pelo modo, sempre alegre, que foram descrevendo todas as fases da confecção do folar.
A todas o meu muito obrigado.

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Quanto aos folares, apenas consigo partilhar as imagens, mas … posso confiar-vos que estavam um regalo.

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Onde quer que estejam, espero que tenham tido uma Páscoa Feliz.
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Mário Silva 📷
20
Mar08

Águas Frias (Chaves) - O "santinho" e o Castelo


Mário Silva Mário Silva

À entrada da aldeia existe uma "capelinha" (nicho), em que se destaca a imagem do orágo de Águas Frias, S. Pedro e ainda a imagem de Nossa Senhora dos Bons Caminhos.
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Mas o mais interessante nesta construção e que a torna original, é a sua base.
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Ora vejamos, …. Se observarmos com mais atenção, poderemos constactar que a parte inferior, em granito, representa o ex-libris de Águas Frias – o Castelo de Monforte do Rio Livre.
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Na realidade, o Sr. Mário, escolheu na sua pedreira o granito, talhou-o cuidadosamente para produzir uma réplica do referido monumento nacional. Depois de concluído ele foi exibido durante um desfile que se realizou em Chaves, representando a freguesia de Águas Frias.
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Segundo me foi referido, esta representação foi largamente elogiada, destacando-se de entre as restantes freguesias flavienses.
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Após a utilização para a qual tinha sido construída a obra, esta teve algum tempo de letargia, até que as gentes de Águas Frias, aproveitando o lema de que nada, nesta Terra, se perde mas tudo se transforma, resolveu dar um uma utilidade às pedras trabalhadas do castelo – servir de base a uma "capelinha" em honra do padroeiro da freguesia.
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Assim se conseguiu associar o aspecto religioso (“o santinho”) com um símbolo das origens desta pequena e bela aldeia do concelho de Chaves – o Castelo de Monforte do Rio Livre.
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A criatividade, o engenho e a arte não têm limites.
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Aproveito ainda, para desejar a TODOS
 
UMA FELIZ e SANTA
PÁSCOA
 
 
Mário Silva 📷
08
Mar08

Águas Frias (Chaves) - Mais uma ave devolvida à Natureza


Mário Silva Mário Silva

Mais uma ave devolvida à natureza
“O Centro de Recepção, Acolhimento e Tratamento de Animais Selvagens (CRATAS) que funciona no seio da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro devolveu à natureza mais uma ave.
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O animal tinha sido encontrado ferido, há cerca de dois meses, por um morador da aldeia de Águas Frias, em Chaves. E entregue no CRATAS em Vila Real pelo Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (Sepna) da GNR de Chaves.
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Na passada terça-feira, a ave foi libertada na presença dos alunos da escola primária de Águas Frias.
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CRATAS libertou ave depois de a ter curado do ferimento que tinha
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A sensibilização ambiental junto de crianças faz parte das actividades do CRATAS. A iniciativa contou ainda com a presença do jovem que encontrou o animal e dos agentes do Sepna que o transportaram para Centro de Recuperação.”
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Esta pequena notícia merece algumas considerações:
- o sentimento de reconhecimento ao jovem de Águas Frias (que desconheço o nome) que ao encontrar uma ave ferida (penso que uma águia), teve a sensibilidade e a consciência cívica de a encaminhar para onde pudesse ser tratada;
- o trabalho meritório da CRATAS pelo seu trabalho, no tratamento da ave, na parceria com a Escola do 1.º ciclo de Águas Frias, na sensibilização das crianças para a Educação Ambiental e pela libertação da mesma ave no local onde foi encontrada (afinal, o seu habitat natural);
- As docentes da Escola e principalmente as crianças que ao vivenciarem a libertação da ave lhes gravará na memória um acto que certamente as levará a ter uma visão e maior consciencialização para os problemas ambientais.
Não foi somente a ave que ficou a ganhar … Ficaram todos os que participaram neste processo. A Natureza agradece.
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Já agora é de referir que o CRATAS é um serviço inserido no Hospital Veterinário da UTAD, que recolhe e recupera animais selvagens feridos para depois voltarem a ser libertados no seu habitat natural. Ao longo da sua existência tem vindo a desenvolver um trabalho muito importante no tratamento de animais selvagens e na sensibilização da população para a importância de saber respeitar os direitos naturais das espécies.
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Sempre que se deparar com um animal selvagem ferido ou em perigo poderá contactar o CRATAS através dos seguintes contactos - Telm: 935180020 ou Tel: 259350600/01.
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A notícia acima transcrita foi-me enviada por um aquafrigedense atento (Romeu Gomes), a quem desde já agradecemos.
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Aproveito para lançar um repto a todos aqueles que de longe ou perto, tenham notícias, comentários, sugestões, pequenas estórias que vivenciaram ou ouviram contar, lendas, tradições, fotos de Águas Frias (antigas ou recentes) e que queiram partilhar com Todos, que o podem fazer enviando para o e-mail http://aguasfrias@sapo.pt
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Mário Silva 📷
02
Mar08

Águas Frias (Chaves) - As Varandas da Aldeia


Mário Silva Mário Silva

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A casa típica de Águas Frias, incluída na categoria geral da casa nortenha, é caracterizada por ser construída de pedra (granito), de rés-do-chão e andar, funcionalmente distintos, e com a varanda e escada exterior.
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O rés-do-chão destinava-se a arrecadações dos utensílios da lavoura, adega e lojas de gado.
Mas o elemento que sempre me fascinou na casa tradicional de Águas Frias e que marca, sem dúvida, a originalidade desta região, é a varanda que se pode considerar de uso quase generalizado.
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A escada, era (é) normalmente exterior, de pedra, e conduz sempre à varanda ou, a um patamar de entrada.
A varanda era coberta pelo telhado ou por um seu prolongamento; quando ela era comprida, o frechal* que lhe correspondia pousava em prumos que se erguiam do peitoril, geralmente simples barrotes de madeira postos ao alto, com “cachorros”** do mesmo material, por vezes rudimentarmente decorados, outras disfarçados sob galerias de fantasia; e até em alguns casos (poucos), esses apoios podiam ser belas e simples colunatas de pedra.
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Com grades ou resguardos, estas varandas podiam mostrar apenas um varal horizontal, apoiado em prumos espaçados ou em balaústres***, ou ainda em grades de ferro, simples. Usavam-se também grades de ripas ou uma vedação de tábuas de forro.
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A varanda teve e de certa forma ainda tem, diversificadas funções na vida quotidiana dos seus proprietários:
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- em dias solarengos ou nas noites mais quentes, servia de sala de estar, convivendo em família;  onde as crianças brincavam (antigamente haviam muitas); onde se rezava o terço ao serão; onde se dormia uma sesta, retemperando as forças para o resto do dia;
- servia para estender a roupa no Inverno;
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- se guardavam as alfaias que seriam utilizadas no próprio dia;
- se fiava o linho, se tricotava umas peúgas (meias), se faziam uns arranjos na roupa, se costurava (antigamente somente com agulha e dedal), se fazia renda, um entremeio ou bordados;
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- se secavam os cereais, o feijão, os ervanços (gravanços ou grão-de bico), as cebolas, …
- onde se engalanava a entrada da casa com “vasos” de flores;
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Era e ainda é um espaço que sendo protegido, servia (e serve) de refúgio no Verão, de repouso, e de agasalho no Inverno.
Hoje, embora se tenham alterado os materiais, com a introdução do alumínio, do vidro, da introdução de “marquises”, a varanda ainda é um espaço que caracteriza a construção de Águas Frias. Mesmo as construções novas não prescindem deste espaço tão nobre.
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Afinal, quem nunca "cochilou" uma boa sesta ou cavaqueou até às tantas sob o abrigo de uma qualquer varanda de Águas Frias?
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* O frechal é a viga de madeira que corre sobre a última fiada de uma parede, sobre a qual assentam as pontas dos vigamentos, os barrotes de um telhado ou as linhas de uma asna.Obtido em
* *  Cachorro, ou mísula é um elemento exposto que suporta os beirais de umtelhado ou qualquer outro corpo saliente de um edifício (arcos, arquitraves ou cornijas). São peças contrafixas feitas de madeira ou de pedra, geralmente com curvatura ascendente.
*** Os balaústres são elementos de ornamentação muito usados na arquitectura que têm como base uma tendência estética.
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Mário Silva 📷

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